Um país sitiado pela violência

“São excessos atrás de excessos que em nada contribuem para nosso crescimento enquanto sociedade”

Isonomia, isotimia e isogoria. Para quem não conhece estas três palavras que, respectivamente representam igualdade de direitos, igualdade de oportunidades nas funções públicas e igualdade no direito de emitir opiniões, representam a base da Democracia Ateniense ou Democracia Grega, a base histórica para a nossa Democracia. Quando respeitadas, garantem o poder do povo (demos + kratos) que é Senhor do poder, uma vez que o governo deve respeitar e lutar pelas suas vontades.

Essa bela teoria, na prática não tem funcionado. Cada vez mais as pessoas têm diminuído a margem de tolerância umas com as outras e se furtando ao debate de ideias que, através dos tempos, foi a base do nosso desenvolvimento social.

Nos tempos pré-Facebook, com as interações feitas ao vivo, havia verdadeiro debate de ideias, com a exposição de ideias divergentes (na maioria das vezes) sendo feita de forma construtiva, com as chamadas “bolhas” convivendo civilizadamente entre si – bem diferente do que vemos hoje, em que elas coexistem em paralelo e um eventual encontro acaba em brigas e fins de amizade. Agora, tal debate (não raro) desemboca em desentendimentos e até mesmo em tragédias como o atentado sofrido por Jair Bolsonaro que, em que se pese o fomento ao ódio que norteia boa parte de seu discurso (e que até levantou suspeitas sobre a veracidade do fato), foi vítima de um desequilibrado mental e não deve ser responsabilizado por isso.

Tal atentado, somado aos tiros que atingiram a caravana do PT em março e o assassinato da vereadora carioca Mariele Franco (que se fossem na Europa fatalmente seriam classificados como terroristas) mostraram o perigo que nosso sistema democrático corre por conta da intolerância que tem regido o discurso. Mais do que o nós contra eles, o desejo evidente de “eliminar” o rival ao invés de vencê-lo nas urnas, como deve ser, causa grande preocupação.

São excessos atrás de excessos que em nada contribuem para nosso crescimento enquanto sociedade. Pelo contrário, nos faz pensar se de fato somos uma democracia. Voltando aos termos iniciais, será que em nosso país realmente temos igualdade para que todos possam expor sua posição sem medo de interrupções, sanções ou discriminação? Será que todos os cidadãos têm chances iguais de acesso a cargos políticos, com respeito absoluto ao desejo da maioria? Mais além: será que, enquanto cidadão, o brasileiro realmente está preparado para decidir o futuro do país?

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