Essa foi a constatação de uma pesquisa realizada pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). Pouco mais da metade dos pedestres sabe que, quando o transeunte acena para atravessar na faixa onde não há semáforo, o carro deve parar.
Já nos locais em que houver sinalização semafórica de controle de passagem, o Código de Trânsito Brasileiro (CTB) determina que deve ser dada preferência aos pedestres que não tenham concluído a travessia, mesmo em caso de mudança do semáforo liberando a passagem dos veículos. O CTB estabelece ainda que “… antes de entrar à direita ou à esquerda, em outra via ou em lotes lindeiros, o condutor deverá ceder passagem aos pedestres e ciclistas, aos veículos que transitem em sentido contrário pela pista da via da qual vai sair, respeitadas as normas de preferência de passagem”.
Mas o pedestre também precisa dar sua contribuição para um trânsito mais seguro. Se ele estiver a menos de 50 metros de uma faixa, precisa ir até ela. Se estiver a mais de 50 metros, é necessário fazer o sinal do braço, esticar a mão, aguardar o carro diminuir a velocidade, parar e, só assim, atravessar.
Em maio, a CET implantou o Programa de Proteção ao Pedestre na Avenida Paulista e no centro de São Paulo. No dia 08 de agosto, 154 agentes espalhados por esses pontos deram início à fiscalização para o cumprimento da iniciativa. Deixar de dar preferência a pedestres que ainda não concluíram a travessia ou que estão em uma faixa sem semáforo é infração gravíssima e acarreta em sete pontos na carteira, com multa de R$ 191,53. Deixar de dar preferência a pedestre/veículo não motorizado que esteja concluindo a travessia na transversal (quando o veículo faz conversão) ou deixar de indicar com antecedência, mediante gesto de braço/luz indicadora, mudança de direção é infração grave, com cinco pontos na carteira e R$ 127,69 de multa. Quem for pego parando sobre a faixa de pedestres na mudança de sinal luminoso, será penalizado com três pontos na carteira e multa de R$85,12. Entre os dias 8 e 17 de agosto, foram aplicadas mais de 4 mil multas nas áreas onde o projeto está sendo executado.
Apesar do desrespeito de alguns, o programa vem mostrando eficácia: de 11 de maio a 10 de julho deste ano aconteceram oito atropelamentos nos locais inclusos no Programa. No mesmo período de 2010, foram 22.
A APPM – Análise, Pesquisa e Planejamento de Mercado, realizou uma pesquisa com 1.000 paulistanos e lançou a pergunta: quais são os maiores culpados pelo alto número de atropelamentos em São Paulo? Para 20% da população são os motoristas; os pedestres são culpados para 23% e 56% dos entrevistados acreditam que a culpa é dos dois. “Apontar responsabilidades por coisas desagradáveis é sempre mais fácil quando falamos dos outros. Os números da pesquisa mostram que, quando despidos da condição de motoristas ou pedestres, os paulistanos têm consciência do problema como cidadãos. Isso mostra que existe um caminho de conscientização e educação a respeito do assunto, mesmo que, num primeiro momento, a punição aos infratores seja necessária para que a relação pedestres X motoristas seja mais positiva e segura”, explica Rodrigo de Souza Queiroz, Diretor de Comunicação e Marketing da APPM.
Grande ABC – Na região, o Grupo de Trabalho (GT) Mobilidade, do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, começou a discutir, no início do mês de março, a criação de alguns códigos regionais para que, assim que um pedestre utilizá-los em qualquer uma das sete cidades, seja respeitado. Por exemplo: um sinal de mão ou colocando o pé na faixa em que não tenha semáforo.
Em Ribeirão Pires, por exemplo, os números mostram que nem as cidades mais tranquilas escapam da guerra do trânsito. Em 2010, foram atendidos 98 pacientes no Hospital Municipal São Lucas, vítimas de atropelamento, sendo uma vítima fatal.
Em 2011, durante o primeiro semestre, foram atendidas 43 pessoas, com registro de três mortos.
O que pensam os moradores da região sobre a implantação de um projeto na região nos moldes do que vem sendo executado na Capital? “Convivemos com o trânsito maluco, precisaríamos de muitos guardas de trânsito para ensinar o bom senso aos motoristas. É difícil um carro interditar uma via para aguardar um pedestre passar. Já pensou parar o carro em uma alça de acesso na marginal às 18h15 da tarde? Temos que pensar bem”, diz a consultora de tecnologia, Viviane Máximo.
“Isso já é previsto pelo Código de Trânsito Brasileiro. É preciso ensinar as pessoas a fazer uso do que já é seu por direito e está aí, prontinho, de bandeja”, fala a jornalista Isis Correia.
“Não sei se códigos regionais possam disciplinar indisciplinados maquinados, afinal, já há a previsão no CTB. Creio que uma boa fiscalização seja suficiente. Quem não se adequar será atacado na parte mais sensível do ser humano: o bolso. Aí, então, tudo se resolverá. E a paz enfim chegará a este trânsito caótico”, argumenta o advogado Josenito Meira.
“Apesar de todos os esforços e dos treinamentos exaustivos que são realizados junto aos condutores, desde a implantação do CTB, ainda precisamos muito mais que isso. Uma formação que venha desde a base nas escolas primárias e, principalmente, a volta dos treinamentos voltados para a cidadania. Caso contrário, todas essas iniciativas ainda continuarão sendo ‘um tiro no pé’… Mas vamos acreditar e fazer a nossa parte’, completa o agente de trânsito Samuel Nunes.
O alerta em números
Com relação aos veículos envolvidos nos atropelamentos
51% são automóveis;
30,3% são motocicletas;
10,4% são ônibus;
2,4% são caminhões
Situação
83% dos pedestres mortos estavam atravessando a rua;
10% parados ou andando na pista;
7% sobre a calçada.
Outras informações
36% dos mortos são idosos;
São atropelados mais homens do que mulheres (24,5% a mais);
16% dos mortos tinham idade entre 20 e 29 anos;
O horário de maior concentração de atropelamentos é entre 18h00 e 20h00.
Há mais atropelamentos nas madrugadas de sábados e domingos do que nas madrugadas de outros dias.
Há mais atropelamentos nas sextas-feiras e nos sábados do que nos outros dias da semana (12,5% a mais).
* Fonte: CET (Companhia de Engenharia de Tráfego)