Pão do bem, alimento do corpo e do espírito

Por Kamila Marinho  

Vovó Tutu faz trabalho social com pães

O trabalho começa bem cedo e termina só à noite. O feitio do pão é trabalhoso e delicado. Prepará-lo exige paciência e dedicação. Põe farinha, fermento, água e deixa crescer a massa. Esquenta, assa. Alimenta!  

A Vovó Tutu, lá da Brasilândia, zona norte da capital paulista, acolhe centenas de pessoas com os seus pães que têm um sabor especial: a solidariedade! Significado que vem por meio de exemplo, da paz no coração e muita gratidão.  

“Esse trabalho me dá a oportunidade de ensinar os meus filhos a ajudarem o próximo. Eu já estive no lugar dessas mãezinhas e encontrei quem me estendeu a mão. Criei seis filhos sozinha, mas com a ajuda de muita gente para me ajudar a alimentá-los, ” relembra Tutu.  

Nascida em uma comunidade pobre, assim como muitas famílias brasileiras que vivem em periferias, Maria Paulina, a Vovó Tutu, já passou por muitas dificuldades na vida, mas nunca perdeu a fé e a esperança. Quando olha para as filas que se formam por pessoas que buscam uma refeição, ela se lembra das tantas vezes que também dependeu da doação de sopa oferecida pelas casas de caridades que frequentou.   

Com o passar dos anos, a Vovó Tutu escolheu a caridade como forma de viver. Ela sempre deu um jeitinho para ajudar o próximo. “Já são 20 anos tentando ajudar, antigamente eu fazia bolos e festinhas de aniversário para as crianças da comunidade”, conta. 

O milagre da multiplicação dos pães 

Pães atendem a mais de 130 famílias

Após fechar um restaurante que inaugurou junto com a família na Brasilândia em meio à pandemia, Tutu se deprimiu, mas encontrou forças nas boas ações para se reerguer. No início, entregava centenas de pães às famílias mais desamparadas, sem muitos equipamentos nem maquinários. Tudo na força de suas mãos e da boa vontade.  Com a alta procura pelos alimentos, a produção de pães não parou mais de crescer.  

As redes sociais impulsionaram o trabalho social, e então os pães da Vó ficaram famosos. A causa ganhou apoio importante da mídia e de diversos colaboradores. Hoje o local virou o Instituto Vovó Tutu, e aquela produção de 100 pães distribuídos diariamente aumentou para quase dois mil. As doações são destinadas às pessoas em condições de vulnerabilidade. Mais de 130 famílias são atendidas.  

Tutu recebeu ajuda de muita gente, que se uniu para combater a fome.  Os novos planos desta mulher guerreira incluem uma escola de panificação e uma confeitaria para ensinar mães e crianças o ofício delicioso de fazer pães. 

Fome no Brasil 

Divulgado em junho, o 2º Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil revelou que a quantidade de pessoas em situação de insegurança alimentar grave, ou seja, passando fome, praticamente dobrou em menos de dois anos. 

Esse contexto afeta diretamente 33,1 milhões de brasileiros – o equivalente a 15,5% da população. São 14 milhões a mais de pessoas passando fome em comparação com o primeiro levantamento, realizado em 2020, quando foram registrados 19 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar. 

O levantamento foi realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, entre novembro de 2021 e abril de 2022. O estudo analisou 12.745 domicílios de 577 municípios dos 26 estados e do Distrito Federal. 

A união faz a força 

Ana Cláudia Graf também encontrou na caridade um caminho para seguir em frente. Envolvida em diversos movimentos sociais, todos os dias ela conecta quem pode doar aos que mais necessitam. A voluntária acredita que a união faz a força e a diferença na vida de muita gente. Tudo o que ela arrecada, desde marmitas, roupas, brinquedos e cobertores, além do pãozinho produzido diariamente na padaria, é transformado em doações. 

“Eu vou até a padaria, converso com os donos, recebo as doações e levo aos necessitados. Tem dia que essa doação é a única refeição do dia para algumas famílias.  Eu vejo muitas mães sem ter nenhum alimento para seus filhos. Dói meu coração”, lamenta Ana. 

Propósito de vida 

A Ana se desloca até a região de Pinheiros, zona oeste da capital paulista, para receber doações de uma padaria que preza pela qualidade dos ingredientes. Segundo ela, parte da produção de pães artesanais do Grupo Raízes também é destinada a às pessoas vulneráveis. 

Para a família de Marco Antonio fazer o bem é um propósito de vida, uma responsabilidade, independente de dogmas, credos, crenças, etnias e religiões. “O importante é a ação. Temos muito o que fazer. Se a solidariedade estiver de mãos dadas com a generosidade, certamente poderemos criar um mundo melhor para os menos afortunados e mais necessitados”.  

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