Os dejetos são os mesmos, só mudam as moscas

Destaque: é preciso uma mudança cultural, para não dizer filosófica.

A edição desta semana da revista Istoé elenca um bilionário esquema de corrupção que há quase 20 anos é praticado no Governo de São Paulo e está sendo investigado inclusive pelo Ministério Público da Suíça e da Alemanha. Trata-se de um cartel formado por empresas que sangravam os recursos públicos utilizados na compra de trens para o Metrô e a CPTM.

Este esquema, operado com auxílio de uma empresa chamada MGE Transportes, garantia às empresas ganhos superfaturados nas licitações realizadas no estado de São Paulo e também uma inusitada divisão de ganhos em que o dinheiro pago a mais era dividido entre elas e a pessoas do alto escalão do governo do PSDB e partidos aliados em São Paulo. Um esquema de corrupção que funcionou com a conivência e passividade dos ex-governadores José Serra, Mario Covas e do atual, Geraldo Alckmin. Além deles, outras personalidades importantes como o conselheiro do TCE Robson Marinho, proprietário de uma paradisíaca ilha em Paraty (RJ), que teve cerca de US$ 1 milhão bloqueado em uma conta localizada em outro paraíso, desta vez fiscal, alimentada diretamente pela Alston, bloqueada após ação do MP, também estão entre os beneficiários.

A denúncia foi feita com documentos pela multinacional alemã Siemens, uma das empresas beneficiadas, em troca do benefício da delação premiada. O esquema, já apelidado de “Propinoduto Paulista” teria drenado, por alto, mais de US$ 50 milhões (R$ 112 milhões) dos cofres públicos e seria apenas a ponta do iceberg de algo muito maior. O requinte era tamanho, que os saques eram sempre abaixo de R$ 10 mil para que não fossem registrados junto ao Banco Central (e assim não levantassem suspeitas) e também eram usadas (fartamente) contas de pessoas físicas e jurídicas em paraísos fiscais.

Os fatos permitem constatar que, ao contrário do que pregam as legendas (e muitos militantes/simpatizantes ajudam a difundir), não existe partido “mais honesto” que outro. Pelo contrário, a corrupção e as formas de praticá-la (como propinas, uso de lobistas, “mensalões” e “mensalinhos”) estão altamente difundidas entre as mais diversas camadas políticas, uma praga que atinge a toda classe política, corroendo todo o sistema.

Isso mostra que a chamada “velha política”  deu de ombros para as manifestações recentes que, embora já  extintas, mostraram que o povo quer uma resposta para suas demandas e também não suporta mais ver o dinheiro dos governos serem drenados por esquemas escusos que sempre servem para o enriquecimento de uma minoria em detrimento da maioria. Afinal de contas, não custa lembrar que o poder de investimento do Estado seria infinitamente maior se os gastos fossem feitos corretamente.

Mais do que uma mudança de atitude, é preciso uma mudança cultural, para não dizer filosófica. É preciso que a classe política entenda que está prestando um serviço representando a comunidade, não a si mesmos. Só assim poderemos construir um país melhor. Do contrário, a triste rotina dos “propinodutos” e outros “dutos” por onde escorrem os recursos públicos não terá hora para terminar. E as moscas, independente de bandeira, irão continuar a tirar seu quinhão destes dejetos.

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