No próximo sábado, a Estância Turística de Ribeirão Pires celebra 57 anos de emancipação político-administrativa. E o que mais marcou a cidade ao longo desse período? O Mais Notícias ouviu ribeirãopirenses de nascença e de coração para eleger os personagens que influenciaram e retrataram, cada um à sua maneira, a alma do município, e os fatos que marcaram toda essa história. Os entrevistados foram: Ademar Bertoldo (69 anos, nascido em Ribeirão Pires); Ernesto Menato (79 anos, nascido em Ribeirão Pires); Idair Ferreira dos Santos, o Didi (82 anos, há 73 em Ribeirão Pires); José Antonio Zampol (86 anos, nascido em Ribeirão Pires); Silvio Pinto de Abreu (68 anos, 49 em Ribeirão Pires); Octavio David Filho (80 anos, nascido em Ribeirão Pires); Odayr Miguel de Lima (74 anos, há 71 em Ribeirão Pires); Wheller Sanches (77 anos, há 50 em Ribeirão Pires); Zulmira Duarte (83 anos, há 57 em Ribeirão Pires).
Prefeito: Arthur Gonçalves de Souza Junior e Valdírio Prisco
Arthur Gonçalves de Souza Junior – Arthurzinho, como era conhecido, foi o primeiro prefeito do município ribeirãopirense. Sua família fixou residência na cidade quando ele tinha 14 anos. Arthur foi vereador à Câmara Municipal de Santo André, no período de 1952 a 1955, representando o então distrito de Ribeirão Pires. Renunciou ao mandato de vereador em dezembro de 1954 para assumir a Prefeitura, onde esteve no cargo de 1955 a 1958. Ele instalou seu gabinete no prédio da Família Chiedde, hoje já demolido, que ficava situado onde atualmente existe o palco da Praça Central, permanecendo por um período de cinco a seis meses, sendo, portanto, a primeira sede do Executivo. Terminou o mandato instalado no prédio onde hoje é a Câmara Municipal, adquirido da família Mejias.
A Escola de Santa Luzia, doação de Biagio Giachello e sua esposa, Cattarina Giachello, ocorreu na administração de Arthur.
“A cidade não tinha nenhuma estrutura e ele, dentro dos parcos recursos, organizou os diversos setores para adequar a cidade a ser sede de município”, fala Octavio David Filho. “Ele soube contornar todas as dificuldades que se apresentavam com o primeiro mandato”, completa José Zampol.
“Era um homem competente e honesto”, define Zulmira Duarte.
Valdírio Prisco – O sexto prefeito da história de Ribeirão Pires também foi lembrado como uma das figuras marcantes que passaram pelo Executivo da cidade. Nascido em Ribeirão Pires em 10 de julho de 1932, cumpriu três gestões como prefeito do município (1973-1976 / 1983-1988 / 1993-1996). Em sua primeira atuação, foi eleito pela extinta ARENA (Aliança Renovadora Nacional). Na segunda vez em que ocupou a Prefeitura, o mandato foi prorrogado por dois anos e a gestão se estendeu pelo período de 1983 a 1988. A última vez que disputou a eleição municipal foi em 2008, pelo PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira).
Em seu primeiro mandato, fez uma ação que transformou a cidade: o desmonte total da segunda parte e mais alta do Morro Santo Antônio para ampliação do centro comercial, iniciada pelo ex-prefeito Santinho Carnavale, em 1968. Antonio Simões, quando vereador, fez uma parte do projeto e da desapropriação. Prisco fez a execução do serviço de derrubada do morro, em 1974. Na opinião da maioria dos entrevistados, essa foi a obra que mais marcou a cidade. “Ele deu uma remexida na cidade. Esse solavanco transformou áreas antes inaproveitáveis em zonas urbanas centrais”, diz Odayr Miguel de Lima.
“O desmonte do Morro Santo Antônio ajudou a aumentar a área central de Ribeirão Pires e dinamizou o comércio, dando emprego aos moradores e facilitando as compras, sem ser preciso sair do município”, fala Wheller Sanches.
No segundo mandato, Prisco duplicou o Viaduto da Vila Ema e efetuou o calçamento de várias ruas vicinais.
Em sua última gestão, construiu o Centro Cívico “Complexo Ayrton Senna”, na Avenida Brasil, mudando o gabinete para o local.
Vereador: Valentino Redivo
Nasceu na cidade de Vigonovo, na Itália, no dia 29 de setembro de 1915. Atuou no Legislativo de Ribeirão Pires de 1963 a 1966 e foi presidente da Câmara de 1967 a 1969. Redivo foi também conselheiro do Ribeirão Pires Futebol Clube.
Devido à necessidade de se criar uma escola especializada, no município, que atendesse a pessoa portadora de deficiência, o casal Adélia Redivo e Valentino Redivo, cuja filha era portadora de deficiência mental, juntou-se a outros casais e amigos para criar, em Ribeirão Pires, uma entidade especializada na orientação e tratamento para pessoas com deficiências.
Valentino, como era proprietário do terreno onde hoje se situa a sede da APRAESPI (Associação de Prevenção e Atendimento Especializado e Inclusão da Pessoa Com Deficiência), o doou para a criação da escola e juntou a outra metade doada pelo Externato Nerina Adelfa Ugliengo, ficando o terreno com 4.950 m² de área para que se iniciasse o projeto da sede própria.
Em 27 de outubro de 1967, na Câmara Municipal, foi realizada a Assembleia de Fundação e Constituição da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais de Ribeirão Pires (APAE).
Sob a presidência de Valentino Redivo, o mesmo declarou estarem ali reunidos para tratar da fundação de uma entidade civil, sem fins lucrativos, com objetivos de promover o bem-estar, a prestação de serviços educacionais, saúde e assistência social promovendo a inclusão social dos indivíduos com deficiências.
“Ele é um marco pela dedicação e seriedade”, afirma Ernesto Menato.
“Valentino Redivo lutou sempre por causas nobres da cidade e pelo povo humilde”, lembra Didi.
O ex-vereador faleceu em 13 de outubro de 1980, aos 66 anos.
Figura Polêmica – Roberto Bottacin Moreira
Ele é unanimidade quando o assunto é polêmica. Filho de Américo Fonseca Moreira, oficial da Força Pública e de Dona Olga Bottacin, Roberto Bottacin nasceu em Ribeirão Pires a 17 de novembro de 1935.
Algumas de suas atitudes ganharam repercussão nacional.
Uma delas foi a candidatura a Papa, em 1978. A iniciativa era uma crítica ao paradoxo existente no seio da Igreja Católica, que no discurso condenava o arbítrio dos ditadores contemporâneos, mas na prática era também uma instituição anti-democrática, pois não permitia a participação dos fiéis na escolha de seus representantes religiosos e nas discussões sobre o futuro da religião.
Outro conhecido caso foi a aposentadoria de uma mula chamada Menina, natural de Itaquera (SP), onde nasceu em fevereiro de 1947. Com apenas um ano de idade foi adquirida pela Prefeitura de Santo André, fazendo parte do patrimônio deste município até 1954, quando houve a emancipação de Ribeirão Pires, e a mula passou a ser própria da cidade, exercendo a mesma tarefa de antes: puxando a carrocinha da coleta de lixo.
Com base no código de contravenções penais que não permitia que nenhum animal fosse maltratado e submetido a trabalho excessivo, Bottacin solicitou em 1978 a aposentadoria da mula. O pedido foi atendido pelo prefeito Luiz Carlos Grecco que assinou o Processo nº. 1635/78 colocando o muar na inativa e oferecendo abrigo e pensão alimentícia até a data do seu falecimento.
Segundo Bottacin, sua intenção era criticar o excesso de burocracia exigido pelo antigo INPS (Instituto Nacional da Previdência Social), pelo qual o cidadão demorava até dois anos para se aposentar, portanto, era mais fácil aposentar uma mula do que um ser humano no Brasil.
Em 30 de outubro protocolou na Câmara Municipal um pedido para que fosse concedido o título de cidadã ribeirãopirense à Mula Menina. Esta foi uma crítica ao uso indiscriminado do título de cidadão ribeirãopirense por parte dos vereadores da cidade. Ainda em 1986 solicitou à prefeitura uma pensão por viuvez para beneficiar o muar, em virtude do falecimento de seu concubino, o burro Velocípede, que caiu em um barranco no ano anterior e foi sacrificado.
“Um visionário que não foi compreendido”, define Wheller Sanches.
“Com sarcasmo e inteligência abria discussão sobre tudo de importante que se relacionava com a cidade, divulgando-a mundialmente”, recorda Silvio Abreu.
“Além da irreverência, ele destacava-se pela inteligência e criatividade. Muitos o chamavam de louco ao perceber que suas opiniões denunciavam situações absolutamente visíveis, mas que precisavam permanecer ocultas”, ressalta Odayr Miguel de Lima.
Roberto Bottacin Moreira faleceu em 04 de maio de 2002, vítima de derrame cerebral.
Mulher – Nair Veiga Lacerda
Nascida em Santos no dia 18 de julho de 1903, Nair Veiga Lacerda, jornalista, escritora, cronista e tradutora, radicou-se em Ribeirão Pires, onde por seu trabalho literário e filantrópico fez-se admirada por todo o povo da Pérola da Serra. “Ela morou em Ribeirão Pires por um longo tempo, escrevendo inúmeras crônicas sobre a cidade, que eram publicadas no jornal “A Tribuna” de Santos, além de também ter sido tradutora e escritora de vários livros”, conta José Zampol. Os que a conheceram descrevem-na com uma mulher à frente de seu tempo e que se destacou não só por sua vida intelectual intensa, mas por sua generosidade.
Logo depois da Revolução de 32, Nair escrevia a sua primeira crônica, cujo título era “A Mulher Paulista e o Voto Feminino”. Na ocasião, ela declarava que a mulher possuía civismo suficiente para exercer voto e defendia o seu ponto de vista. A moça que cresceu num ambiente familiar onde era dada primazia à cultura, ao interesse pelos clássicos da literatura e ao estudo de outros idiomas, já mantinha também a sua posição favorável ao divórcio.
Colaboradora do extinto “O Diário” e da página feminina de “O Jornal de São Paulo”, Nair, além de cronista, escrevia contos.
Muito cedo ficou viúva de Ernesto Lacerda e teve a sua profissão mudada: foi ser tradutora e deixou os contos.
Em 1964, alegando que Santos não lhe havia oferecido nada em termos de trabalho para ficar na cidade, veio morar em Ribeirão Pires e depois em Santo André, onde foi convidada a integrar a Secretaria de Educação, Cultura e Esportes, trabalhando ao lado de Fioravanti Zampol, ribeirãopirense, a quem definia como “um político não raro, mas único”.
Na sessão solene de VII de aniversário de emancipação de Ribeirão Pires, foi entregue à escritora o título de Cidadã Ribeirãopirense”. Durante o evento, o vereador Batista Viana, orador oficial, se expressou sobre Nair: “Uma figura brilhantíssima, que honra com alteza pela sua dedicação e capacidade. Em consideração a esses valorosos méritos que a senhora Nair Veiga Lacerda reúne, dignou-se a Câmara Municipal a dar-lhe o título de ‘Cidadã Ribeirãopirense’, considerando que a vida desta criatura em Ribeirão Pires é indispensável pelo muito que honra e difunde o nome desta terra em outras paragens”. Após as palavras do parlamentar, ela agradeceu: “Neste momento é toda Ribeirão Pires e sua gente boníssima que desejo apertar de encontro ao coração, prometendo-lhes a fidelidade de meu afeto e oferecendo-lhes a pobreza dos meus serviços, sempre que deles possam carecer”.
Nair Veiga Lacerda faleceu em Santo André, no dia 29 de agosto de 1996, aos 93 anos.
Homem – Fioravante Zampol
Filho de Luiz Zampol e de Santa Bressan Zampol, Fioravante Zampol nasceu em 08 de setembro de 1908, em Ribeirão Pires. Cursou a Faculdade de Odontologia e Farmácia de São Paulo, onde se formou em 1933.
Iniciou sua carreira política em 1932, quando em 28 de julho foi nomeado para o cargo de subprefeito do Distrito de Ribeirão Pires, que exerceu até 1935. “Ele foi o autor do asfalto que liga Ribeirão Pires a Santo André”, conta Zulmira Duarte.
Naquele ano foi nomeado membro do Conselho Consultivo Municipal de São Bernardo do Campo.
Em 14 de agosto de 1936 foi eleito vereador de São Bernardo do Campo.
Assumiu o cargo de subprefeito de Ribeirão Pires, em 3 de abril de 1947; e em 1º de janeiro de 1948 tomou posse na Câmara Municipal de Santo André.
Eleito prefeito municipal de Santo André, tomou posse em janeiro de 1952, cargo que exerceu até 11 de março de 1955. No mesmo ano foi eleito deputado estadual, posteriormente exercendo o cargo de diretor geral da Secretaria dos Negócios do Governo do Estado de São Paulo.
Fioravante Zampol exerceu a presidência do Ribeirão Pires Futebol Clube no período de 1945 a 1952, isso após ocupar vários cargos na diretoria e no conselho deliberativo.
Em 1º de janeiro de 1964 foi empossado no cargo de vice-prefeito de Santo André, vindo a assumir como prefeito em 21 de maio do mesmo ano, após a morte do prefeito Lauro Gomes de Almeida. Eleito novamente vice-prefeito de Santo André, exerceu o cargo de 1973 a 1976.
O ilustre ribeirãopirense faleceu em 28 de setembro de 1977, aos 69 anos, em Santo André.
Evento Cultural – Festa do Pilar e Festival do Chocolate
Festa do Pilar: A Festa do Pilar é o festejo religioso mais tradicional de Ribeirão Pires, que acontece todos os anos nas imediações da Capela Nossa Senhora do Pilar, sempre em abril. A primeira referência à festa é o dia 1º de maio de 1936, quando um grupo de romeiros de Santo André visitou a capela no feriado para agradecer as graças alcançadas e realizar um piquenique.
Missas, procissões e inúmeros shows gratuitos fazem parte da programação, além de diversos chalés de alimentação com pratos de comidas típicas, artesanato e brincadeiras destinadas ao público infantil.
A Igreja Nossa Senhora do Pilar, localizada na Avenida Santa Clara, bairro Santa Clara, foi construída em 1714. Feita de taipa de pilão, com 40 centímetros de espessura, é a mais antiga capela da região ainda em pé. Em 2008, foram investidos R$ 70 mil na restauração da igreja, realizada com autorização do Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo), que tombou a construção como patrimônio histórico estadual em 1975.
Festival do Chocolate – O evento é bem mais novo do que a Festa do Pilar, mas já se tornou tão tradicional quanto.
Idealizada por Marcelo Menato, secretário de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Renda em 2005 (na época, também atuava na área de Turismo), a festa, que promove desenvolvimento econômico no município e recebe visitantes que buscam lazer, atrações culturais, e as delícias da gastronomia de inverno, está inclusive no Calendário Turístico do Estado de São Paulo. A história do Festival começou em 2004, quando fez parte do plano de governo do prefeito Clóvis Volpi (PV) e também foi incluído na Agenda 21 do município. Além da questão turística, o objetivo foi também de incentivar o empreendedorismo ligado às atividades temático-turísticas, a começar pelas chocolateiras que participam do festival. O projeto previa ainda o incentivo à produção de doces caseiros e malhas, com a dupla meta de proporcionar trabalho e renda e atrair visitantes para a cidade.
Em sua primeira edição, no ano de 2005, registrou um público de 125 mil pessoas; em 2006 foram 325 mil pessoas; em 2007, 500 mil; em 2008, 465 mil pessoas.
Em 2009, novo formato: o evento que era realizado no Complexo Ayrton Senna passou para as dependências do Ribeirão Pires Futebol Clube e deixou de ter entrada gratuita. Naquele ano, o público foi de 175 mil pessoas. Em 2010, o Festival do Chocolate voltou ao lugar de origem, mas continuou com a cobrança de ingresso. O balanço de expectadores foi de 105 mil pessoas.
Somando todas as suas edições, o evento já movimentou financeiramente mais de R$ 22 milhões.