Em terra de lacração, quem sabe ler é rei

“Pobre do país em que a sacada rápida supera o conhecimento”

Na era das redes sociais, é notável a diminuição da capacidade de compreensão de boa parte das pessoas em relação a língua escrita. Isso posto, a cada dia usa-se menos palavras e mais gírias que tem a função de (tentar) resumir uma situação em uma palavra.

A expressão do momento é “lacrar” que é utilizada em momentos nos quais vê-se uma pessoa expondo outra ao ridículo ou dando uma resposta atravessada que, supostamente, poderia encerrar uma discussão deixando uma das partes sem argumentos.

Como grande exemplo, há um dos candidatos à presidência cujo fã-clube tomou esta palavra quase que como um mantra. Dizer que o dito-cujo “lacrou” virou uma forma de justificar uma série de impropérios proferidos que não sobreviveriam a um raciocínio mais denso.

O exemplo citado serve também para outras situações que talvez não caberiam nestas breves linhas. Mas o principal é que instituiu-se a cultura da “verdade absoluta”. Não é mais válido o real, mas sim o que se quer acreditar. Ainda que se conteste fatos com provas reais, questiona-se a veracidade das provas, não a mentira dos fatos. Um texto com ironia é levado ao pé da letra e o que deveria ter um fundo irônico torna-se uma arma com poder de iniciar a terceira guerra mundial (ou virtual).

Coincidência ou não, as pessoas estão lendo cada vez menos livros. Uma pesquisa do Ibope aponta que, embora o maior público leitor seja formado por jovens, estes leem quando obrigados. Paralelo a isso, há tempos nota-se um repúdio por textos mais extensos e aprofundados, o que gerou a “redação para internet”: no máximo quatro parágrafos, de preferência curtos e com o mínimo necessário para se transmitir a notícia. Essa falta de densidade também acabou por condenar as (outrora líderes de vendas) revistas semanais.

Tudo isso se reflete na falta de conhecimento. Se antes, ser ignorante era motivo de vergonha, hoje impera o nivelamento por baixo: aquele que domina a arte de leitura e escrita é tachado como arrogante e até mesmo (pasmem!) desrespeitoso. Não esquecendo, claro, que estamos em um país em que crianças são diplomadas sem saber ler ou escrever.

O malfadado “lacre” que não deveria ser celebrado, tornou-se uma forma de fazer com que a pobreza cultural e argumentativa fosse superada por uma resposta que se não inteligente, possa ser desconcertante, evidenciando o prejuízo que a falta do estudo faz. Pobre do país em que a sacada rápida supera o conhecimento.

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