Dólar a R$ 4. E a eleição com isso?

“esta alta – ainda que interfira no dia a dia de cada um – deve ser vista com cautela”

Com a proximidade das Eleições, temos uma nova temporada dos “tradicionais” ataques especulativos ao mercado brasileiro. Esta semana, tivemos como grande destaque a volta do dólar em patamar superior a R$ 4, maior cotação desde 2016, no momento em que o país estava paralisado à espera da definição do impeachment da então presidente Dilma Rousseff.

À época, entre ameaças de disparada do dólar e promessas de dias melhores com a ascensão do então vice Michel Temer, a moeda fechou a exatos R$ 4,004 na cotação comercial, marcando o fim de uma impressionante sequência de três meses seguidos em alta.

Voltando aos dias atuais, a cotação recorde é consequência imediata dos primeiros sinais de definição do eleitorado em relação a situação eleitoral do país, ilustrada nas pesquisas pelo crescimento da dupla petista Lula/Haddad que tende a avançar ao segundo turno contra o pesselista Jair Bolsonaro. Toda a “irritação mercadológica” gira em torno do risco de o candidato visto como mais afeito às vontades do mercado, o tucano Geraldo Alckmin, não avançar à fase decisiva da eleição. Levando em consideração que os investidores contam com informações privilegiadas (leia-se ocultas da maior parte da população), devemos considerar que tal cenário, hoje, é sim o mais provável.

Mas ataques especulativos nada têm de novidade na história do Brasil, que tradicionalmente se posiciona como um mercado que oferece lucros rápidos por conta de suas altas taxas básicas de juros. Para efeito comparativo, o Brasil hoje paga 6,5% enquanto nos Estados Unidos, economia que está em franco crescimento e historicamente considerada “porto seguro para investimentos”, este valor está em 2% – ainda que tenha disparado desde janeiro de 2017, quando estava em 0,25%. Exatamente por isso, ver uma desvalorização forte da moeda às vésperas de uma eleição não é exatamente uma novidade, já que em 2002, o temor de que Lula rompesse com o Plano Real elevou a moeda norte-americana em 10 meses de R$ 2,60 a R$ 4,05.

Desta forma, esta alta – ainda que interfira no dia a dia de cada um – deve ser vista com cautela, inclusive pelo Banco Central. Pode se tratar de mero movimento especulativo, uma forma de tentar induzir o eleitorado a favor daquele que, de acordo com os investidores, irá supostamente estabelecer medidas políticas mais adequadas aos seus interesses. Mesmo com a recessão, não há sinais de que possamos ter uma catástrofe econômica como a vista na Argentina que chegou a marca de 26% de inflação, índice atingido com aumentos que superam os 100% em serviços básicos como água e luz. Prova da crise é a volta do escambo (trocas) de produtos entre a população para ter acesso a produtos básicos como cremes dentais, por exemplo – amostra real da perda do valor do dinheiro. Isso para não falar nos 48% de crianças que vivem em condições de pobreza e têm como único alimento diário o que é fornecido em refeitórios públicos, como os de escolas.

Voltando ao nosso país, há apenas um breve fôlego. Caberá ao próximo presidente trazer soluções para problemas reais como o gigantesco déficit da nossa máquina pública, da iminente falência da Previdência, da reforma trabalhista que não trouxe um décimo dos resultados esperados e da paralisia do mercado, entre outros, mudanças que deverão ser feitas de forma precisa sob pena de não termos não só o dólar como a economia desgovernada como um todo.

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