Brasil, um país de medrosos

O brasileiro é medroso por essência. Teme a volta do passado, teme o que pode acontecer no futuro. Teme dar seu voto em quem seja “diferente”. Teme dar um voto de confiança e que tudo mude de uma forma que não deseja. Teme em mudar tudo para não sair do lugar.

Talvez por isso, dentre as opções que hoje se apresentam para a presidência, nenhuma delas represente de fato uma novidade. Seja Fernando Haddad ou Jair Bolsonaro ambos representam a manutenção de um status quo. Comecemos pelo capitão do exército, que há quase 30 anos ocupa uma cadeira no plenário sem ter produzido qualquer projeto digno de nota. Apresenta no discurso a aposta no medo. No medo que população tem de ser assaltado, daí a promoção do armamento. No medo que parte da população tem de volta do recém-defenestrado PT e no discurso vazio de que irá fazer diferente.

No outro polo, o ex-ministro da educação também não foge deste padrão. Após não ter sido reeleito prefeito de São Paulo e ter tido uma gestão criticada por não ter feitos dignos de nota, representa um polo oposto do mesmo medo. Medo da volta de um regime totalitário. Medo de uma volta à ditadura. Medo de que a eleição do seu opositor principal, uma figura cujo discurso está longe de ser conciliador permita que machistas, fascistas, racistas e outros “istas” ressurjam do limbo onde hoje habitam. Medo de que o “imperialismo americano” tome conta do país. Medo de que Portugal volte a tomar conta. Medo do medo.

O grande temor é que, independente do resultado, o clima bélico que toma conta do Brasil não se dissipe. Vale lembrar que o clima para isso já está armado, em especial por conta do candidato (teoricamente) de direita, que já armou um discurso de que uma eventual derrota deveria ser colocada na conta de uma suposta manipulação das urnas – uma fala que conseguiu desagradar a gregos e troianos. Esse fato, aliado aos “fã-clubes” (dos dois lados) colabora para que a paz não invada o coração dos brasileiros tão cedo.

Em meio a todo esse medo, temos em pouco mais de duas semanas que ir às urnas para fazer uma escolha que, ao que parece, será mais pautada pelo que não se quer do que por uma proposta real de país. Mais do que um “Ele Não” ou “Ele Sim” ou “Minha bandeira jamais será vermelha” o eleitor deve fazer uma análise fria (e sem medo) do que o candidato se propõe a fazer. Como irá combater o déficit fiscal? O que fará da malfadada reforma trabalhista? Como irá promover a retomada do crescimento? Qual a proposta para a Saúde, Educação, Mobilidade Urbana? Como o país irá lidar com seus cerca 210 milhões de habitantes que, em grande parte, necessitam de atenção social?

Esse seria o cenário ideal mas que dependeria da coragem de muitos se despirem de pré-conceitos – algo que não acontecerá em 15 dias, certamente. Isso posto, não é exagero dizer que, diferente do jargão de 2002, o medo certamente venceu a esperança.

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