Pródigo em tragédias, o ano de 2019 têm feito o cidadão brasileiro refletir sobre uma série de fatos e também sobre o eterno “carma” de ignorar os sinais de que a falta de prevenção ou, melhor dizendo, o malfadado “jeitinho” uma hora vai trazer problemas.
Acidentes acontecem, claro. Mas é inadmissível quando são evitáveis – e isso ocorre com certa frequência em nosso país. A prova é o incrível número de vezes que um documento emerge das sombras mostrando que houve algum tipo de negligência que resultou na desgraça que choca a todos. A falta de documentação, um pedido de inspeção que deita em berço esplêndido ao fundo de uma gaveta, a burocracia (ou “burrocracia”) que posterga processos importantes e atesta a incompetência das autoridades em fazer um de seus papeis primordiais, que é a fiscalização para evitar gambiarras e armadilhas ceifadoras de vidas.
No pós-tragédia, mais do que rapidamente as provas surgem junto aos lamentos de não ter sido feita a devida prevenção. O Brasil é o país da solução paliativa, que se satifaz com endurecimento de penas, mas não cobra ações para prisão de criminosos e nem a exclusão de milicianos que atuam ao lado daqueles que tem como missão justamente combatê-los.
É um país que os homicídios solucionados não chegam aos dois dígitos, mas a solução é armar a população para que essa taxa seja pior e se aproxime ainda mais dos números aferidos em “potências” como Santa Lúcia, Ilhas Virgens e El Salvador, países que compartilham conosco o top 10 dos países onde mais se mata no mundo.
Prendem-se corruptos, mas não se combate a corrupção que, mesmo com a Operação Lava Jato a todo vapor, segue crescendo em ritmo galopante. Temos o novo-velho que anda de mãos dadas com o velho-novo. Temos a desigualdade social que parece sem solução e hoje é apelidada de “meritocracia”. Nossa taxa real de juros, a dos bancos, é a terceira maior do mundo segundo o FMI. Há 130 países com menos mortes no trânsito que o nosso, segundo a Organização Mundial de Saúde e estamos acima apenas de países miseráveis.
Tudo isso tem culpado. E é ele, o jeitinho que junto a seu irmão gêmeo, a falta de responsabilidade faz com que nosso país ande de lado, independente de quem esteja no comando. E, em tempos nos quais é preferível lavar a roupa suja em redes socais ao invés de buscar melhores soluções para o país, é de se pensar se estas questões macro estarão em foco.
A negligência anda de mãos dadas com a conivência de um lado e a corrupção do outro. Na vida real, causa mortes. Ou será que não foram elas protagonistas das tragédias que mataram os garotos do Flamengo ou as pessoas que estavam em Brumadinho?