A marcha dos zumbis

Vale a pergunta: o que afinal desejam as ruas?

No último domingo, mais uma vez, brasileiros foram às ruas para protestar contra o Governo Federal. Ou seria contra a corrupção? Talvez contra a política? Bem, nem eles mesmos sabem bem.

Ao lado de faixas pedindo a deposição da presidenta Dilma Rousseff e outras pedindo coisas tão improváveis como o retorno dos (capengas) militares ao poder – esquecendo-se de que quem exercia o poder de fato eram ícones da Arena (Aliança Republicana Nacional) como Paulo Maluf e Delfim Netto – cresceu a dúvida: contra o que mesmo estão protestando?

Pedir o fim da corrupção enquanto se dá uma “caixinha” para o guarda não aplicar uma multa ou quando se fura filas para ganhar um minutinho a mais que não fará lá muita diferença na vida não é lá algo muito coerente, mas era a realidade de boa parte das pessoas que foram às ruas. Aliás, o fato novo foi que eles diminuíram em número. Descontando-se o fato de que em Macapá, por exemplo, apenas um (isso mesmo um) manifestante esteve na manifestação (ou bloco do eu sozinho, se preferirem), o total foi cerca de 75% menor que um mês antes.

A vida melhorou? Não. O Governo Federal encontrou um rumo? Não. Mas então o que teria acontecido? A resposta, segundo sociólogos está na falta de representatividade de boa parte da população com os, assim por dizer, cabeças do protesto – em sua maioria de extrema direita e elitistas. Em Belo Horizonte, por exemplo, houve vozes do protesto afirmando serem contra as políticas de inclusão social. Bem, considerando que parte considerável da população melhorou de vida ou ainda depende disso para sua subsistência, é o famoso gol contra pregar algo deste tipo.

Já em São Paulo, maior foco das manifestações, a vida real chama para outros problemas, como a epidemia de dengue e a falta d’água que o governo do Estado insiste em tentar esconder por debaixo de um fino véu de negação. Ok, pode-se dizer que há uma “cegueira seletiva”, já que os manifestantes seriam favoráveis a troca da petista por um tucano, certo?

Errado. Pesquisa da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) mostra que, na capital paulista, 76% não confiam em Aécio Neves e 75,4% não endossariam José Serra. Alckmin está um pouco melhor, pero no mucho: 28% desconfiam, mas apenas 29% diz o contrário.

Isso posto, vale a pergunta: o que afinal desejam as ruas? Lembrando que quem muito quer nada tem, vale lembrar que os dois grandes movimentos populares que trouxeram alguma mudança ao país, as Diretas Já e os Caras-Pintadas, tinham uma liderança, alguém para “dar a cara a tapa” e negociar uma pauta de reivindicações. E desta vez, quem é o líder? Ou será que temos apenas uma horda de zumbis marchantes?

 

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