A imprensa como ferramenta de mudança do mundo

Às vésperas dos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, o executivo de uma grande empresa de comunicação brasileira realizou um evento em um restaurante de São Paulo com ex-atletas, funcionários e convidados para anunciar as novidades daquela transmissão.

Durante seu discurso, veio a palavra de ordem: “nós vamos apenas dar notícias boas, queremos que o esporte sirva para alegrar as pessoas. Não queremos saber de notícias ruins”, sendo efusivamente aplaudido a seguir. Oito anos se passaram e, ao menos nos últimos três, uma sucessão de notícias que o nobre executivo não gostaria que fossem vistas vieram à tona. Apenas no esporte, podemos citar o caso FIFA, o caso das federações brasileiras de Vôlei, Basquete, Tênis e outros esportes olímpicos que têm desviado verbas de patrocínio estatal e, mais recentemente, os resultados arranjados na elite do Tênis, gerando benefícios a apostadores.

Para que essas falcatruas fossem descobertas, o papel da imprensa foi fundamental. No caso mais famoso, o FIFA, o trabalho incansável de jornalistas como Jamil Chade, correspondente internacional de O Estado de S. Paulo, Andrew Jennings, da BBC, Paulo César do Prado, independente e Cosme Rímoli, da Rede Record, foram decisivos. E, como bons repórteres investigativos, incansável e sem medo de mostrar a verdade, doa a quem doer.

Saindo do esporte, profissionais tão competentes quanto fazem trabalhos ímpares. Um dos que mudaram de fato o rumo do mundo é o famoso caso Watergate, que causou a queda de Richard Nixon, presidente dos Estados Unidos, após dois jovens jornalistas, Bob Woodward e Carl Bernstein, trabalho esse baseado a partir das descobertas de outro, Jack Anderson, que inclusive venceu o prêmio Pulitzer.

Há uma “piada interna” no meio jornalístico que reza “notícia boa, na verdade é ruim”, pois são essas que forjam os mais respeitados profissionais do meio. Estes, embora colecionem inimigos, acabam por realizar o sonho dos bancos de faculdade de mudar o mundo. Por isso, ainda surpreende quando algumas pessoas cobram jornalistas (não raro em público) a respeito de “matérias ruins” ou “conteúdos potencialmente nocivos”.

Ora, o trabalho da imprensa é informar, passar os fatos do dia a dia para os leitores/espectadores ou consumidores de notícia. Qualquer coisa diferente disso é fofoca. O compromisso da imprensa é mostrar a verdade, de diferentes ângulos, para que o leitor/espectador saiba o que está acontecendo e chegue as suas próprias conclusões. Uma delas, a mais óbvia: não existiriam notícias boas, se não fossem as ruins.

Se hoje temos corruptos na cadeia, é graças a esquemas de enriquecimento ilícito desvendados com papel importante da imprensa responsável que se dispõe a sair do local comum e mostrar as nuances e mudanças do mundo. Doa a quem doer.

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