Agora é torcer

Nem Dilma Rousseff (PT), nem José Serra (PSDB), nem os votos expressivos de Marina Silva (PV), nem segundo turno. Desde o último domingo, o assunto do momento é Tiririca, figura que roubou a cena no horário eleitoral com discursos como “Você sabe o que faz um deputado federal? Eu também não, mas vote em mim que eu te conto”, ou “Vote em Tiririca. Pior que tá, não fica”. Graças a essa irreverência – pois foi a única coisa que ele apresentou durante os meses de campanha -, conquistou mais de 1,3 milhão de votos, sendo o deputado federal mais votado do País nessas eleições.

A imensa quantidade de votos ao humorista é encarada como protesto. Muitos eleitores afirmaram: “Só tem palhaço na Câmara, um a mais não fará diferença”. Definitivamente esse não é o melhor pensamento para escolher um candidato, mas, realmente, levar a política a sério no nosso País é pedir demais. Culpa de pessoas desonestas, ou de diversos candidatos sem o menor preparo? Pode ser, mas esses não são os únicos fatores. Nossa legislação não colabora. Além de partidos não se preocuparem em apresentar pleiteantes que tenham postura quando o assunto é política e que conquiste o eleitorado por competência, boas ideias e não por beleza, piadas ou fama, ainda tem a questão de que nem sempre os mais votados são aqueles que se elegem, o chamado coeficiente eleitoral: Você vota em uma pessoa, porém, seu voto vai primeiro para a coligação ou partido. Ao final da votação, somam-se todos os votos válidos, divide-se esse total pelo número de vagas, no caso de representantes paulistas na Câmara Federal, 70. O resultado é o coeficiente eleitoral. Para definir quantas vagas um partido terá, divide-se o total de votos recebidos por seus candidatos pelo coeficiente. Com isso, votos dados para um candidato dão um empurrãozinho aos seus colegas de partido ou coligação, como aconteceu com Tiririca (PR). Seus votos fizeram sua coligação (PT/PRB/PR/PCdoB/PTdoB) ser a mais votada, com 6,7 milhões e a conquistar 24 das 70 vagas. Depois de calculado o coeficiente, as vagas são divididas entre os 24 candidatos mais votados dentro da coligação. Quem votou no Tiririca acabou elegendo também o Delegado Protógenes (PCdoB), Vanderlei Siraque (PT), entre outros, mesmo sem querer. Esse nosso método foi criticado pela revista britânica The Economist, que lamentou a permissão dada a um candidato muito votado para que leve outros de seu partido, ou coligação, para o Congresso.

Mas enfim, o sistema eleitoral brasileiro é assim e o que está feito, está feito. Resta-nos fazer figa para que Tiririca (se puder exercer o cargo após comprovação de que é alfabetizado) descubra a tempo o que faz um deputado federal e se conscientize da responsabilidade e poder que tem nas mãos, assim como todos os outros eleitos. Agora é torcer.

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