Um país meia-boca, com gente meia-boca

Jeitinho brasileiro. Essa expressão, por anos utilizada como virtude de nossa população, que seria “adaptável a qualquer contratempo”, na verdade esconde uma das piores características de nossa população: a acomodação.

Parece até contraditório, mas nossa habilidade para “dar um jeito” em tudo nos torna pessoas acomodadas, acostumadas com o padrão “meia boca” de vida, com o famoso “se está funcionando está bom”. Na semana passada, neste mesmo espaço, falamos sobre economia, sobre o fato de o Brasil ter “estragado tudo” e talvez ter perdido uma grande chance de se consolidar como uma das maiores potências do mundo. Entretanto, em meio o grupo formado pelos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), ao que parece, estaremos fadados ao pelo central, a metade da história. Ou o meia-boca.

Estamos atrás da China que, como é notório, se tornou o grande fabricante de manufaturados do planeta e da Índia que, mesmo sem ter avançado muito socialmente nestes anos, conseguiu fomentar uma vocação tecnológica já invejada em boa parte do planeta. Prova disso é que, na última terça, o país lançou sua primeira missão ao planeta Marte, algo que apenas EUA, Rússia e a Agência Espacial Europeia haviam conseguido com sucesso. O país, que há 14 anos vem lucrando com o lançamento de satélites (algo que o Brasil tentou ainda nos anos 90, mas ainda não obteve sucesso) estrangeiros, obviamente cobrando por isso. O país está fomentando o desenvolvimento por meio da tecnologia, um passo a frente de seus colegas de grupo, e exportando mão de obra qualificadíssima para o restante do planeta.

A Russia, mesmo com suas infinitas máfias, tem estabelecido um interessante mix econômico pós-guerra fria, baseado no sempre lucrativo petróleo, na indústria, nas finanças e na agricultura. Agora, começa a atrair indústrias, como as automobilísticas, reduzindo sua dependência externa.

Todas essas características se encontram no Brasil. Entretanto, nenhuma delas se desenvolveu completamente. A Agência Espacial Brasileira, em que pese ter mandado um homem ao espaço, o comandante Marcos Pontes, desembolsando milhões de dólares para fazê-lo via NASA, ainda é incipiente. Prova disso é que o mais recente lançamento não será em seu território, na base de lançamento de Abrolhos, mas sim na China, na base de Taiyuan. Ou seja, novamente algo meia-boca.

Ou seja: “meiaboquismo” incrustado nos faz perder oportunidades. Nosso sistema financeiro não funciona bem, assim como nossa internet, os serviços essenciais, como água, luz e gás, o transporte público, a Saúde, a Segurança, a Educação, isso seja na esfera público ou na esfera privada. Nossos bancos emprestam valores a juros incrivelmente altos, ainda que você, cidadão, dê garantias sólidas como casa e carro, por exemplo. A impressão que se tem é que vivemos de paliativos, de consertar o que está errado até certo ponto e depois abandonar, de tapar buracos infindáveis em ruas cuja solução seria uma repavimentação completa.

O pior é que nos conformamos com isso, deixamos as coisas acontecerem pela metade sem questionar. Desta forma, estaremos fadados a não ter uma vida plena. Afinal de contas, o “meia-boca” parece tão bom, não é mesmo?

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