Roseli de Souza: uma apaixonada pelo ciclismo

A cada dia, a mulher mostra que, de sexo frágil, ela não tem nada. Nos esportes, por exemplo, elas enfrentam adrenalina e desafios, e não poupam forças para conquistar o lugar mais alto do pódio. Roseli de Souza, mais conhecida como Rose Ciclista, 35 anos, é uma dessas atletas.

Nascida em Ribeirão Pires e moradora da cidade, a paixão pela bike vem desde criança, mesmo não tendo a oportunidade de ter uma bicicleta, devido à difícil situação financeira da família. “Meus pais nunca puderam me dar uma (bicicleta). Lembro-me de uma vez que peguei a bike da vizinha escondido da minha mãe, desci uma ladeira e me choquei com uma cerca de arame farpado. Cortei-me toda, até hoje tenho marcas. Nessa época eu tinha uns seis anos”, lembra.

“O ciclismo é minha salvação”, fala Rose Ciclista

A experiência da infância não lhe trouxe traumas e Rose viu na bike mais que do que um lazer: viu uma carreira e, assim, começou a dedicar-se à prática esportiva e a participar de competições.

Hoje, Rose treina cinco vezes por semana e se divide entre o esporte, os cuidados com a casa e com os filhos (Aldrin, de 19 anos e Bianca, de 14). Apesar da influência dentro de casa, Rose conta que seus filhos não são amantes da bike como ela. “Minha filha nem sabe pedalar. Costumo dizer que eles são normais, não são loucos como eu”, fala, aos risos.

Rose não lembra ao certo quantos prêmios já conquistou no ciclismo, mas lista algumas participações que mais a marcaram. “Sou bicampeã paulista de Maratona; campeã paulista de Cross Country (prova em que os atletas competem numa corrida em terreno aberto ou acidentado); Campeã dos 100 km dos Canaviais; medalha de ouro e bronze nos Jogos Regionais do Interior 2009; e bicampeã dos 6 km de Mountain Bike”.

Entre tantas competições, ela relembra uma que tem como a mais especial. “Na prova dos 100 km dos Canaviais de 2009, quase não consegui ir por falta de condições financeiras. Já tinha encerrado as inscrições e liguei para o organizador pedindo que ele me deixasse fazer a inscrição, pois lhe prometia que iria ganhar a prova e ele deixou. Fui e ganhei com 30 minutos na frente da segunda colocada. Subi no pódio e beijei o chão”, fala, emocionada.

Pelo amor ao ciclismo, a atleta supera os medos e os desafios.  Ela define as trilhas como as grandes adversárias, já que no percurso, nunca se sabe o que encontrará pela frente. “O risco é muito grande, é um esporte muito radical, às vezes tenho medo de não voltar mais… Peço sempre a proteção de Deus e sei que Ele sempre estará comigo”.

Rose diz isso por que já sentiu na pele os apuros do esporte. “Em 2007, quando estava iniciando minha carreira, participei de uma prova em Vinhedo, no interior de São Paulo, com uma bicicleta sem suspensão nem garfo rígido, fui com a cara e a coragem. Naquele ano, a prova largava à meia noite, na mata fechada, e tenho pavor do escuro. Caí muito, mas estava entre as primeiras colocadas. Às 9 horas da manhã, caí e bati com o pescoço em uma árvore. Desmaiei na hora, fui socorrida e na ambulância escutava as pessoas falarem que estavam me perdendo. Foi um grande susto para mim e para as pessoas que me amam, mas no final tudo ficou bem”.

Além dos desafios físicos, a área do esporte conta com mais um obstáculo a ser vencido: o patrocínio para seguir adiante, ou melhor, a falta dele. “O esporte está carente de patrocínio, o Brasil só tem olhos para o futebol e esquece que têm tantos outros tão importantes quanto o mesmo. Nós levamos o nome de nossas cidades e de nosso país e somos exemplos para muitos, crianças se espelham em nós. Tive e tenho dificuldade em conseguir patrocínio até hoje. Tenho pessoas que me ajudam muito, mas sei que se tivesse um pouco mais, iria além”, ressalta Rose.

Mesmo com os percalços, a atleta corre atrás de seus objetivos e tenta participar do máximo de disputas possíveis. No próximo domingo (30), ela concorrerá ao Trip Trail Paraibuna; no dia 06 de novembro será a vez da terceira e última etapa da prova Pedal Leve, em Araçariguama; no dia 13, terá a última etapa do Campeonato GP Ravelli, em Cabreúva; e no dia 26, o MTB 12 horas, em Piedade, que, provavelmente, será sua última prova do ano.

Assim como as competições, os sonhos não param. “Quero o título de Campeã Brasileira e com esse resultado ganhar a Bolsa Atleta. Quero também participar de provas internacionais”.

A paixão pelo ciclismo, ela define de forma simples e objetiva: “Minha salvação”.

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