Progresso x Meio Ambiente

A imagem é surpreendente. O verde que fazia parte da área onde está sendo construído o gasoduto (tubulação que transporta gás natural de um local para outro) em Ribeirão Pires, está incompleto, partido ao meio. Mata de um lado, mata de outro e ao centro, um enorme vazio.

A obra da Petrobras – construída pela Contreras Engenharia e Construções Ltda. e que consiste na construção de dois dutos, o GASAN II e o GASPAL II – teve início em abril. Para concluir os seus 38 km de extensão, que cortará os municípios de Santo André, São Bernardo, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, serão eliminados 69,72 hectares de vegetação da Mata Atlântica do Parque Estadual da Serra do Mar. Um hectare equivale a um campo de futebol.

A ação tem suas vantagens, claro, ela não está sendo feita por fazer. O início das operações do gasoduto promete o desenvolvimento da região e vai melhorar a oferta de energia para o ABC, principalmente para as indústrias. De acordo com a Secretaria de Saneamento e Energia do Estado de São Paulo, os dois gasodutos têm como objetivo elevar a flexibilidade do sistema de gasodutos da Petrobras, facilitando o escoamento do insumo entre São Paulo e o Rio de Janeiro. É como se diz: É impossível fazer uma omelete sem quebrar os ovos. Mas que a cena vista onde a obra está sendo feita é chocante, isso é, ainda mais em se tratando de uma cidade como Ribeirão Pires, localizada em área 100% de mananciais.

Ainda de acordo com a Petrobras, em toda faixa do GASAN II, 112,22 hectares serão reflorestados para compensar a devastação causada pela execução da obra.

Problema ambiental resolvido? Não é bem assim. Segundo o professor de Gestão Ambiental e Sustentabilidade da Universidade Metodista de São Paulo, Vicente Manzioni, a compensação ambiental não recupera o desmatamento. “Nunca compensa. O principal impacto do gasoduto é na vegetação, na fauna e na flora. Eles são obrigados a plantar uma quantidade maior e isso normalmente acontece em uma área próxima à que foi desmatada, mas nunca é a mesma coisa. A devastação não se recupera e é um ponto importante que tem que ser considerado”, disse ele em uma entrevista. E isso é fato. Basta ver a quantidade de animais silvestres que estão chegando às cidades com a perda constante de espaço em seu habitat natural pela intervenção do homem.

Em 2006, um estudo do impacto ambiental da construção de um gasoduto da Petrobras no Parque Estadual da Serra do Mar, encomendado pela própria Petrobras, apontava que 40 espécies de aves e 21 de mamíferos ameaçados de extinção podem sofrer as consequências de ter seu habitat invadido pela obra. A qualidade da água também pode ser prejudicada, já que há 98 travessias por rios previstas na construção.

A obra continua em andamento de acordo com o que foi licenciado e é acompanhada pelo órgão licenciador, a CETESB (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo). Mas todo cuidado com o meio ambiente é pouco, tanto para essa como para qualquer outra grande construção, afinal, de nada adianta o progresso se não tivermos um bom lugar para viver e desfrutar de todos os benefícios que ele traz.

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