Prevenir é melhor do que lamentar

Um dos grandes males da sociedade brasileira é o famoso “jeitinho”. Tratado com desdém e até mesmo sob piadinhas infames, ele é o causador de problemas gigantescos, tendo como exemplo mais recente a Tragédia de Santa Maria, em que morreram 235 pessoas até ontem após incêndio na casa noturna Kiss.

O tal “jeitinho” na verdade é uma palavra que esconde uma série de crimes como suborno, favorecimento, negligência e, em casos extremos, assassinatos. Principalmente em cidades pequenas, como Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, é muito comum resolver problemas acionando um velho conhecido para conseguir uma facilidade, um acerto ou até mesmo um alvará sob condições à margem da lei (para não dizer irregulares).

Foi justamente esse o caso de Santa Maria, pequena cidade do Rio Grande do Sul onde ocorreu o mais triste incidente da história recente da humanidade. Relatos apontam uma sucessão de erros, incluindo vigilância mal-feita, seguranças despreparados que, se não tivessem impedido a saída dos jovens por não terem pago a comanda teriam evitado ao menos algumas mortes e, acima de tudo, ganância, muita ganância aliada ao velho pensamento de que “nada vai acontecer” que norteia o pensamento de muitos.

Puxando na memória, mesmo aqui em Ribeirão Pires, tivemos casas noturnas como a finada Morada do Vinho que não tinham saídas de segurança, por exemplo. Aliás, no Grande ABC, um pente fino faria com que diversas casas fossem fechadas, seja por extintores de incêndio vencidos ou pela ausência de placas indicando saídas de emergência.

Na Argentina houve uma tragédia idêntica, em 2004, na discoteca República Cromañón, com 194 mortos. O governo implantou uma série de mudanças na legislação que se também tivessem sido adotadas por aqui poderiam ter evitado o que ocorreu no último final de semana. Faltou seriedade e senso de perigo.

É preciso aproveitar o calor do momento para que seja disciplinada a questão da segurança em eventos. É preciso fazer com que todos, sem exceção, cumpram as regras sob pena de termos mais vidas ceifadas precocemente. Estamos à beira de três grandes eventos esportivos, sendo que um deles, a Copa das Confederações, será realizado em menos de cinco meses. Que a Tragédia de Santa Maria sirva para ensinar a todos que com o maior dos patrimônios não se brinca: a vida humana. Em tempo: como medida preventiva, a prefeitura de Buenos Aires fez, em reflexo a tragédia de Cromañón, uma série de visitas às casas noturnas da cidade e o número foi alarmante: de 200, apenas 61 obedeciam a todas as normas de segurança. Será que por aqui seria muito diferente?

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