Feliz Ano Velho

2014 já começou, mas velhos hábitos ainda mostram que talvez não seja um novo ano, no real sentido da palavra. Da mesma forma que em quase todos os anos, vemos, como se diz no jornalismo, as “pautas recorrentes” ganharam as manchetes, sendo que muitas delas sequer deveriam estar sendo discutidas.

Como exemplo, citamos os deslizamentos de terra em regiões serranas quase ao lado de um comentário relatando “surpresa” com o fato ocorrido. O mesmo se aplica a enchentes. Ora, se todos os anos há fortes chuvas entre janeiro e março, porque nada se faz nos nove meses seguintes? Será que não foi por isso que as famosas “águas de março” foram imortalizadas há mais de quatro de décadas por Tom Jobim, naquela que foi considerada a melhor música do século passado pela imprensa especializada? Fica claro, portanto, que não é por falta de aviso. Deve ser então por falta de planejamento (ou será indolência?).

A mesma situação se aplica aos preparativos para a Copa do Mundo. Em 2007, há sete anos portanto, o país foi eleito como sede do segundo maior evento esportivo do planeta. Foi o maior tempo de preparação já concedido para uma sede na história e, a 154 dias do início, as melhorias prometidas, o tal “legado da Copa de 14”, bem como metade dos novas arenas, simplesmente não estão prontas. Pior do que isso: algumas, como obras de mobilidade, ficaram para depois ou foram categoricamente arquivadas. Nesta categoria está a Linha 17 do Metrô de São Paulo, que serviria ao bairro (e ao estádio) do Morumbi e foi substituída pelo Governo do Estado pelo anel viário de Itaquera, nova sede da abertura do evento – obra que, por sinal, estava há anos guardada no fundo de uma gaveta.

Agora, como estamos em ano de eleição, a perspectiva de que estas intervenções sejam realizadas é mínima, seja por conta de dispositivos legais ou porque a verdadeira preocupação está mesmo nos sufrágios de outubro. À população resta apelar por uma intervenção divina que impeça novas tragédias sob pena de contabilizarmos mais mortes e prejuízos neste ano – e nos próximos que estão por vir.

Muitos podem dizer que a população também não é isenta de culpa, por não cobrar de seus governantes de plantão a execução das obras. Só que, venhamos e convenhamos, eles não foram eleitos justamente para isso? Não são eles os responsáveis por planejar, organizar e desenvolver estados e municípios? Se assim fosse, bastaria um único governo central, sem necessidade de inchar ainda mais a máquina administrativa, já que os entes inferiores existem justamente para cuidar de assuntos locais e regionais.

Tudo o que discorremos na linha anterior pode ser resumido com uma única palavra: falta de planejamento, algo que no Brasil ainda está sob uma placa de “em desenvolvimento”. Pensar no futuro (e no próximo) é uma das lições básicas para um feliz ano novo. Do contrário, o calendário vira, mas o novo período ficará mesmo com cara de “feliz ano velho”.

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