Estamos despreparados

A aluna da Escola Estadual Dom José Gaspar, de Ribeirão Pires, Karoline Gammarano Garcia, venceu um concurso de redação, promovido por um jornal da região, cujo tema era “Crack, Tô Fora!”. O texto da estudante, que concorreu com outras 145.625 produções, retrata um homem que está no ápice do vício e detalha as dores sentidas pela pessoa até a hora da morte. Karoline e todos os participantes desse concurso têm ciência dos estragos avassaladores que as drogas causam não só na vida de quem as usa, mas também de todos que estão à sua volta. Porém, infelizmente, isso não é regra, muitos não têm a mesma consciência. Estimativa do Ministério da Saúde dá conta de que o Brasil possui 600.000 usuários somente de crack. O número mostra a gravidade do problema, que não escolhe classe social para se instalar.

Se de um lado sofre-se com o vício, do outro a ajuda não é tão eficaz. A complexidade da dependência causada pelo crack não condiz com os modelos de atendimento dado aos usuários hoje. Uma pequena pesquisa de opinião preparada durante o Fórum Nacional sobre Aspectos Médicos e Sociais Relacionados ao Uso de Crack, realizado na última quinta-feira (25), mostrou que os médicos, de fato, desconhecem as especificidades do tema. Em perguntas como “você se sente qualificado para tratar o crack” ou “você conhece protocolos de assistência ao usuário”, a maioria dos participantes respondeu não (65% e 75,8%, respectivamente). Metade dos participantes admitiu não saber para onde encaminhar um usuário de crack se precisasse.

O Sistema Único de Saúde (SUS) também não está preparado como deveria. Atualmente, para atender esses doentes, o governo federal mantém 8.800 vagas em hospitais psiquiátricos, 243 centros de atenção psicossocial álcool e drogas (Caps-AD), Núcleo de Saúde da Família e 35 Consultórios de Rua.

Durante a campanha eleitoral deste ano, muito se falou no combate ao crack, que como nenhuma outra droga, mata 30% de seus dependentes no prazo máximo de cinco anos. Em seu primeiro discurso como presidente eleita, Dilma Rousseff disse que o governo não deveria descansar enquanto “reinar o crack e as cracolândias”. A triste realidade mostra que há muito o que se fazer e espera-se que o tema não fique apenas como promessas de palanque. Estimativas americanas apontam que, a cada dólar gasto no combate às drogas, a sociedade economiza até sete dólares em despesas com hospitais, segurança pública e acidentes de carros, entre outros. Sendo assim, que o governo volte os olhos à Saúde, para tratar adequadamente aqueles que se envolveram com o crack e buscam por socorro, e invista em Educação e Cultura, para evitar que outros trilhem esse caminho, que muitas vezes, é sem volta.

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