Donald Trump e a novíssima ordem mundial

Desde a madrugada de ontem, o mundo já sabe quem será o comandante da maior potência do planeta. Trata-se do magnata Donald Trump, do partido Republicano, eleito após o pleito realizado na última terça-feira por 276 a 218 votos eleitorais (delegados) que o indicaram para o cargo máximo.

Embora tenha recebido menos votos nominais que a adversária Hillary Clinton, (47,64% a 47,53%), o sistema eleitoral estadunidense, diferente do nosso, elege seus representantes por meio de Colégio Eleitoral, no qual os 50 estados têm pesos diferentes calculados de acordo com sua população. Assim, a Califórnia, por exemplo, estado mais populoso do país, tem 55 votos, enquanto Wyoming e seus 600 mil habitantes tem apenas três. Independente da votação, o partido vencedor (exceto no Maine e no Nebraska) leva os votos de todos os delegados, sistema conhecido como “Winner-Take-All”. O presidente, para ser eleito, precisa da maioria dos 538 delegados que formam o Colégio Eleitoral, ou seja, ao menos 270 votos. Vale lembrar que ainda é possível uma candidatura independente pela constituição, mas estas nunca prosperam e, não raro, sequer aparecem nas urnas em alguns locais.

Por tradição, em ao menos 40 estados, já se sabe que partido tende a ganhar, o que torna a campanha eleitoral mais discreta. Desta feita, quem decide as eleições são os chamados “swing states”, onde não há favoritos, como a Flórida e seus 29 votos e Ohio e seus 18 votos. Uma vitória nesses dois estados praticamente liquida a fatura – justamente o que aconteceu nesta eleição, uma vez que Trump levou nos dois e confirmou o resultado que contrariou a maioria das expectativas e análises.

A vitória de Trump, além de consolidar uma tendência vista no Brasil nas últimas eleições, a de eleger os “não políticos”, também mostra outra tendência mundial que começa a se desenhar, a Localização, uma forma de tentar combater a chamada “parte ruim” da Globalização que, especialmente entre a população menos qualificada e escolarizada, teve efeitos devastadores, como perda de vagas de emprego para países como China e Índia. A saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit) já sinalizou isso. No íntimo, esse eleitor/cidadão deseja uma volta ao passado, com maior reserva de mercado, estímulos à produção local e consequente geração de empregos. Um exemplo que pode ser citado é Detroit, outrora meca do automóvel e hoje cidade fantasma, que perdeu pouco a pouco suas indústrias para o México, país que conta com um generoso acordo bilateral com os Estados Unidos. Ora, um cidadão que hoje vive em uma cidade falida desde 2013, que conta com quase 50% da população considerada analfabeta funcional e escolas sem o básico, como papel higiênico, hoje vê a demolição de bairros inteiros como solução para o problema que começou com o desemprego. Esse cidadão está perfeitamente aberto a ouvir um discurso nacionalista e localista e decidiu a eleição a favor de Donald Trump.

O que podemos esperar daqui para frente é uma grande incógnita. O discurso considerado de extrema-direita que conquistou muitos eleitores ganhou oposição até mesmo em seu partido e entre seus apoiadores – o que, aliás, causou um amansamento e um discurso conciliador no pronunciamento de ontem. Fato é que a eleição de Trump surpreendeu o planeta e será um divisor de águas que, certamente, irá influenciar na novíssima ordem mundial.

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