Analfabetismo político: o alimento do poder dominante

“O pior analfabeto é o analfabeto político, ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos.

Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.

O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política.

Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais”.

Estes versos, de autoria do dramaturgo alemão Bertolt Brecht, atemporais e que se encaixam em vários momentos da história da humanidade e, por sinal, há muito tempo com a história política brasileira.

Há algumas eleições, nota-se o crescimento de insatisfeitos com os rumos políticos do país que optam por se ausentar da discussão, ignorando o que acontece na política. Entretanto, devemos lembrar, vivemos em um Estado Democrático de Direito em que a mais poderosa das armas está à disposição do povo: o voto. Se há insatisfação, mudemos. Se o governo está ruim, interrompemos, mas sempre respeitando os meios legais e democráticos.

Os versos de Brecht, escritos na primeira metade do século passado, ecoam uma preocupação que se pode dizer eterna: o quanto as sombras fazem do povo massa de manobra. Ao lermos de forma não literal, vemos que muito do que é feito na sociedade atual nada tem de novidade. A educação sucateada, com a quase exclusão de disciplinas como filosofia, sociologia e história da arte da grade curricular, que tinha como objetivo não mais se criar cidadãos pensantes, foi algo deliberado. Temos hoje, uma geração que, em sua maioria, não pensa, apenas executa.

O lado positivo é que boa parte dela se mostra indignada com a situação e está nas ruas protestando. Mas, tal qual yin/yang, esta mesma sociedade mostra sua fúria contra o governo no poder, mas não vê perspectiva de melhora com as soluções apresentadas de imediato. Um futuro sem Dilma e Lula, mas com Renan, Cunha e as velhas aves de rapina que lá estão se alimentando da carniça desde a época da ditadura.

Uma mudança se dará apenas quando o novo vier à tona. Mas não o “novo-velho” que está se apresentando, com caras novas que se apresentam ao poder para fazer uso de métodos velhos. Um novo de verdade, que tenha responsabilidade, cumpra as leis e, acima de tudo, respeite os cidadãos. Enfim, algo que, embora pareça utópico, é perfeitamente possível em médio e longo prazo.

Para mudar é preciso pensar e se ausentar da discussão, com o perdão da rima, não é solução. Muito pelo contrário, ajuda a perpetuar o status quo que beneficia os mesmos há séculos.

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