O combate à homofobia nas escolas

Nos últimos meses, tem sido noticiado uma série de ataques à pessoas pertencentes ao grupo LGBT’s (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais), mostrando que a intolerância à diversidade ainda impera em nosso país.

Após polêmica, “kit anti-homofobia” teve produção e entrega suspensas

Na tentativa de combater a homofobia (ódio, preconceito e repugnância que algumas pessoas nutrem contra os homossexuais), o Ministério da Educação (MEC) elaborou no mês passado material didático denominado “kit anti-homofobia”, composto por três filmes e um guia de orientação aos professores, com o objetivo de trazer para o ambiente de 6 mil escolas o tema homossexualismo como forma de reconhecimento da diversidade sexual e enfrentamento do preconceito.

A partir dali, uma enorme polêmica envolveu a atitude do MEC. Bancadas religiosas no Congresso protestaram contra o material e a presidente Dilma Rousseff resolveu suspender o kit. “O governo defende a educação e também a luta contra práticas homofóbicas. No entanto, não vai ser permitido a nenhum órgão do governo fazer propaganda de opções sexuais”, falou a presidente.

Joaquim Machado do Nascimento, 27 anos, mais conhecido como Juju da Coke Luxe, sabe bem as consequências do preconceito. “Na escola, vários me batiam, faziam eu pagar as coisas para eles, senão, apanhava na saída”, lembra, completando: “Acho que aquela cartilha deveria ser distribuída, não sei porque o governo não apóia logo isto”.

Luiz Grande, agente de saúde de Ribeirão Pires, visita escolas da cidade para ministrar palestras sobre a prevenção de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST’s). Nessas idas, constatou que o preconceito ainda impera. “Você chega em uma sala de aula para falar de uma doença que é estigmatizada dos anos 80, dita como a “peste gay”. Você entra lá apenas para explicar sobre a prevenção e o cuidado que esse adolescente tem que ter para não ser o próximo a sentar na cadeira de qualquer ambulatório de AIDS desse país. Na sala, há um rapaz que tem gestos femininos, uma sensibilidade mais aflorada, e a escola toda sabe que ele é gay. Quando o agente de saúde vai falar sobre HIV, sobre DST, a sala toda se volta para o menino. Então, o agente diz: não é mais uma peste gay, é uma doença que hoje é heterossexualizada, porque as mulheres estão se infectando por causa de casamentos em que o marido ‘pula a cerca’. É preciso a colaboração da sociedade como um todo, para que a gente possa propagar essas informações na questão da homoafetividade e do HIV e, principalmente, de um outro vírus letal, chamado preconceito”, fala ele.

“Na escola, vários me batiam, faziam eu pagar as coisas para eles, senão, apanhava na saída”, conta Joaquim Machado do Nascimento, mais conhecido como Juju da Coke Luxe

Duas pesquisas feitas pela UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura) em 2004, ilustram a gravidade do preconceito nas escolas: uma delas, entre os alunos, descobriu que 40% dos meninos brasileiros não querem um colega homossexual sentado na carteira ao lado; outra, com professores, mostrou que 60% deles consideram “inadmissível” que uma pessoa mantenha relações com gente do mesmo sexo.

“Muitas vezes, os pais dos alunos que foram agredidos por homofobia, são convidados para vir à escola, nunca os pais dos agressores, como sempre sendo aquele aluno (homossexual) o gerador de problema”, falou a psicóloga Deborah Malheiros, durante palestra no evento “Versos Diversos”, realizado em Ribeirão Pires no início do mês e que discutiu a homofobia e o fortalecimento de Políticas Públicas para a população LGBT.

Infelizmente, o preconceito existe e muitas vezes o que se percebe é que a rede educacional brasileira encara os homossexuais, e não o preconceito, como problema.

E como combater esse problema dentro das escolas? O Mais Notícias procurou a psicóloga Juliett Camelo Freitas para falar sobre o assunto. Confira.

O Mais Notícias procurou a psicóloga Juliett Camelo Freitas para responder essas questões.  Seja professor, aluno ou colega, um fator é indispensável e cabe para todos: o desprovimento de pré-conceitos. Confira a entrevista.

Mais Notícias – Como os professores devem lidar com os alunos homossexuais? Qual o comportamento adequado?

Juliett Camelo Freitas – Os educadores devem ter o mesmo tratamento para seus alunos com igualdade de direitos e deveres. Não é porque um aluno é “diferente” que pode ser ridicularizado pelos demais. O professor deve buscar maneiras de interagir com o problema contando com a participação de todos. Deve promover debates entre os alunos, discutindo abertamente à questão da homossexualidade.

Mais Notícias – Como deve agir o professor quando um aluno homossexual é vítima de bullying por outros alunos, em razão da sua orientação sexual?

Juliett Camelo Freitas – Cabe ao professor tomar atitudes objetivas e claras, a fim de minimizar estas ações, para que o aluno/a não seja alvo de gozações, fazendo com que todos respeitem e tolerem as diferenças,

É importante deixar claro que as atitudes anti-bullying tomadas pelos educadores devem ser iguais e com o mesmo objetivo, independente da razão que deu origem a determinado preconceito, seja no âmbito da orientação sexual, raça, nível social, cor, entre outras.

O objetivo das ações anti-bullying são sempre estimular o respeito às diferenças, sejam elas quais forem. É necessário conscientizar as crianças que não devem aceitar serem rotuladas por sua aparência e/ou comportamento, evitando piadas, apelidos, agressões verbais ou físicas.

Mais Notícias – Na sua opinião, como a escola deve trabalhar o combate à homofobia com professores, alunos e pais de alunos?

Juliett Camelo Freitas – A escola é uma instituição educadora, a ênfase educacional se dá sempre com base no respeito, não cabe a escola trabalhar ou tentar influenciar de qualquer forma no sentido da definição da sexualidade dos alunos, cabe apenas influenciar o respeito, lembrando que esse conceito deve se estender tanto a alunos, como professores, pais e a sociedade num geral.

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