Desenvolvimento tecnológico atrapalha a alfabetização dos cegos

Os deficientes visuais têm recebido grande ajuda por meio do desenvolvimento das tecnologias. Os avanços permitem com que o que antes era impossível, passe a ser rotineiro na vida daqueles desprovidos de visão, como a leitura e o envio de e-mails.

Deficientes visuais estão trocando a leitura ativa do braile por programas e softwares que facilitam a vida

Hoje, programas especiais realizam ações antes impossíveis aos cegos. Para ler uma revista, o deficiente visual pode instalar um programa no computador e se beneficiar da leitura de cada página. As editoras estão lançando uma série de livros (audiolivros) voltados para esse público, onde basta dar o play no aparelho portátil e poder “ouvir” desde os grandes clássicos da literatura até os manuais mais complexos.

Assim como a tecnologia vem angariando uma série de ajuda aos deficientes, ela tem se tornado uma inimiga oculta. Segundo o vice-presidente da FNC (Federação Nacional de Cegos) dos EUA, Frederic Schroeder, 90% das crianças cegas americanas estão crescendo sem saber ler e escrever, já que a tecnologia vem banindo o braile, dando lugar ao processo de somente ouvir. “As novas ferramentas possibilitam um tipo passivo de leitura. Ao contrário do braile, que permite uma leitura mais ativa, onde o cérebro absorve as letras, a pontuação, a estrutura do texto, etc.”

Schroeder perdeu a visão aos 16 anos. Como não havia aprendido braile na infância, o estudo tornou-se difícil, prejudicando a aprendizagem. “Quando entrei para a faculdade, não sabia soletrar. Sabia pouco sobre pontuação e regras gramaticais, a alfabetização limitada sempre foi uma barreira”.

Embora a tecnologia ajude no desenvolvimento, o braile permite a liberdade que todo o indivíduo alfabetizado possui, ou seja, o direito de comunicar-se, compreender e ser compreendido.

“É importante ressaltar que o Braille é um sistema de leitura e escrita que equivale à letras comuns impressas. É, portanto, eficaz para a pessoa com deficiência visual e fundamental para a comunicação escrita da pessoa com cegueira em seu processo de escolarização. A criança, possuindo ou não visão, vai se deparar com símbolos gráficos que, no começo, carecem totalmente de conteúdo, variando unicamente as vias sensoriais  (visão ou tato)”, fala a Coordenadora do Setor de Educação Especial da Fundação Dorina Nowill para Cegos, Eliana Cunha Lima.
Ela acrescenta que os avanços tecnológicos muito têm contribuído ao acesso de informação e cultura e que o computador tornou-se um instrumento indispensável para todas as pessoas, com deficiência visual ou não. “Esses avanços permitem que as pessoas com deficiência visual se beneficiem de novas formas de leitura como o livro falado e o livro digital. Porém, o sistema Braille continua a ser o meio natural de escrita e leitura das pessoas cegas e imprescindível para que elas tenham acesso direto à ortografia e à representação da simbologia científica, musicográfica e fonética. Também tem um papel relevante no dia a dia de muitas pessoas cegas: a identificação em embalagens (de alimentos, medicamentos, produtos de maquiagem e cosméticos, de peças de vestuário, de CDs e DVDs), a consulta de calendários, cardápios, catálogos e programas de apresentações artísticas, etc., garantem maior independência, autonomia e segurança, fatores indispensáveis à autoestima de todo ser humano”, finaliza Eliana.

Compartilhe

Comente

Leia também