Bullying: o fantasma que ronda o ambiente escolar

O massacre ocorrido no último dia 07 na escola municipal Tasso da Silveira, em Realengo, zona oeste do Rio de Janeiro, reacendeu a discussão sobre o problema do bullying – agressão física e verbal sistemática à qual uma pessoa é submetida. Esse pode ter sido um dos fatores que levaram Wellington Menezes de Oliveira, ex-aluno da escola, a cometer tamanha atrocidade, já que pessoas que estudaram com o rapaz afirmaram que ele era vítima de bullying.

Diferentemente de um mau comportamento, o bullying é uma ação repetida geralmente contra um mesmo alvo, com o objetivo de maltratar e desmoralizar o outro

O bullying (bully, em inglês, significa “valentão”) começou a ser estudado como fenômeno com consequências dramáticas a partir da década de 70. Em alguns países, como nos Estados Unidos, é considerado assunto de saúde pública.

Segundo levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e da Plan Brasil (2009), no Brasil, 1 em cada 3 estudantes de 14 anos já sofreu bullying na escola; 70% de alunos entre 11 e 14 anos testemunharam agressões; e 21% dos casos acontecem dentro da sala de aula.

O Mais Notícias procurou a psicóloga Juliett Camelo Freitas, psicóloga da Renascense Clínica, de Ribeirão Pires, para esclarecer aos pais, alunos e professores como prevenir esse problema e como lidar com o fato se ele já chegou.

Mais Notícias – Como reconhecer o bullying?

Juliett Freitas – O termo bullying (de origem inglesa) é utilizado para denominar agressões físicas ou psicológicas na relação entre pares, motivadas por um desejo consciente e deliberado de uma das partes de expor o semelhante a situações de tensão e maus tratos.

Para que uma ação seja caracterizada como bullying é necessário que haja repetição das agressões contra o mesmo alvo, assim como a ausência de motivos que justifiquem os ataques e os danos causados, que podem ser materiais, físicos, morais e/ou psicológicos.

Mais Notícias – O que o bullying acarreta ao ambiente escolar?

Juliett Freitas – O bullying acarreta medo, insegurança, desmotivação, tanto para alunos como para funcionários e pais que ficam temerosos ao enviar seus filhos à escola, e isso pode resultar em um déficit de aprendizagem, reprovação escolar, entre outros motivos, produzindo um grande problema no processo educacional dos alunos.

Mais Notícias – Há uma linha comportamental comum a quem pratica o bullying? E as vítimas, apresentam alguma característica comum?

Juliett Freitas – Geralmente quem pratica o bullying é uma pessoa insegura e com uma baixa autoestima, necessitando sempre da aprovação dos outros para assim adquirir confiança em si mesmo, através de ações negativas por meio da dominação e abusos, apresentando comportamentos irritadiço, nervosismo, indisciplinado, dominador e/ou manipulador.

Com relação às vitimas, podemos dizer que apresentam submissão, passividade, dificuldades de expor suas opiniões, medo de denunciar, o que os leva a também possuírem uma baixa autoestima.

 

Mais Notícias – Qual deve ser a atitude dos responsáveis pela comunidade escolar quando reconhecem o bullying, tanto para com o autor, como para a vítima?

Juliett Freitas – O importante é que aqueles que fazem parte da comunidade escolar saibam o que é esse fenômeno, diferenciando-o de brincadeiras habituais e de indisciplina.

Dependendo da gravidade, tanto vítima quanto autor necessitam de atenção especializada. Portanto, os encaminhamentos podem ocorrer em diversas esferas – psicologia, Conselho Tutelar, Delegacia de Polícia, sempre em parceria com a família dos envolvidos.

Mais Notícias – Existem estratégias de prevenção para evitar a violência no meio escolar?

Juliett Freitas – Acredito que as escolas podem fazer muito para evitar esse tipo de ação, começando pela discussão do tema em sala de aula, promovendo ações que incentivem a solidariedade, respeito às diferenças e tolerância. Os educadores podem incentivar seus alunos a serem solidários com aqueles que possuem problemas relacionais e/ou com alunos novos, pois assim inibem a ação dos agressores.

Mais Notícias- Na sua opinião, as comunidades escolares estão preparadas para lidar com o bullying?

Juliett Freitas – Algumas escolas já promovem ações antibullying, no entanto, a maioria ainda não está preparada, pois desconhece e /ou ignora o problema. O ideal seria que as escolas oferecessem aos profissionais, pais e alunos espaço para a discussão e busca de soluções que possam prevenir tal comportamento.

Mais Notícias- Como os pais podem perceber que o filho está sendo vítima de bullying?

Juliett Freitas – Falta de ânimo para ir à escola; ficar ansioso logo pela manhã; pedir para trocar de escola; rendimento escolar baixo; tornar-se uma criança fechada, arredia; semblante deprimido; baixa autoestima; pesadelos frequentes relacionados à convivência no ambiente escolar; dar desculpas pouco convincentes para não gostar da escola.

Após ter certeza desse fato, é importante que os pais conversem com seus filhos, tomando cuidado para que sinta que pode confiar em você, e não sentir vergonha. Se não sentir essas duas coisas, a criança ou adolescente não contará nada.

Mais Notícias- De que maneira a família deve atuar quando o seu filho é o autor do bullying? E quando o filho se trata da vítima?

Juliett Freitas – Normalmente, o agressor tem um comportamento provocador e de intimidação permanente.  Ele possui um modelo agressivo na resolução de conflitos, apresenta dificuldade de colocar-se no lugar do outro, vive uma relação familiar pouco afetiva e tem muito pouca empatia. Tanto o agressor como as vítimas sofrem. Portanto, necessitam ser escutados, atendidos e tratados.

Mais Notícias- Que comprometimentos emocionais a criança pode desenvolver a partir do bullying? De que forma o distúrbio interfere na construção psicológica dos envolvidos?

Juliett Freitas – Á longo prazo, o bullying pode provocar comportamentos anti-sociais, dificuldades afetivas, resultando em ações agressivas nos ambientes em que o individuo estiver inserido.

Mais Notícias- Videogames e filmes violentos podem gerar na criança a assimilação de práticas agressivas, funcionando como motores do bullying?

Juliett Freitas – Estudos mostram que há uma correlação positiva entre ações agressivas e o número de horas que as crianças passam em frente à TV, jogando vídeo- game e/ou assistindo filmes com a temática da violência. Isso nos leva a entender que quanto mais precocemente começarem e mais tempo passarem realizando essas atividades, maior a probabilidade de desenvolverem e incorporarem essas ações acreditando serem elas normais e totalmente aceitáveis, muitas vezes até reproduzindo em seu comportamento diário aquilo que vê. De qualquer forma, é importante lembrar que nem toda brincadeira realizada pelas crianças irá motivar ações de bullying, o que é necessário é estabelecer limites, que é o que tanto pais como docentes precisam desenvolver nas novas gerações.

Mais Notícias – O que a senhora diria para quem está passando pelo problema do bullying?

Juliett Freitas – Para começar, diria para os pais e/ ou responsáveis que um dos maiores erros é menosprezar o sofrimento da criança. Não se deve dizer para o filho deixar isso para lá.

Os pais devem apoiar o filho, abrindo espaço para ele falar sobre o sofrimento de estar sendo rejeitado pelos colegas. Para aqueles que sofrem de bullying aconselho a: falar a respeito disso com seus responsáveis; denunciar em órgãos educacionais, como o Conselho Tutelar; após ou durante esse processo de acusações, a pessoa deve passar em acompanhamento com um psicólogo.

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