O Zé do Rio estava tranquilo, logo pela manhã, observando as águas escuras que passavam sob a ponte e, de repente, escuta um grito:
– Zé, ô Zé do Rio, posso descer?!
– Pode, Mané, desce logo e diga o que quer.
– Você nem acredita o que aconteceu!
– Conta logo, homem.
– É que meu cachorro morreu. Bem que você disse pra não deixá-lo beber dessa água.
– Agora já é tarde. Pobre cachorro, o “Biluca”. Você o levou ao veterinário?
– Levei Zé, mas não adiantou nada.
– E o que ele disse.
– Que o “Biluca” estava contaminado e que morreu engasgado com um pedaço de plástico.
– É o que eu digo “Mané da Muda”, é o que eu digo.
– Puxa Zé, você é mesmo entendido no assunto.
– Nada disso, qualquer um vê o que está acontecendo com esse ‘pobre’ rio.
– É, e o pior é que ninguém toma providências. Já pensou daqui a vinte anos, o que será dele?
– Vai se transformar num riozinho, num córrego, num riachinho, num fiozinho de água ou coisa pior.
– Pior para nossos filhos e netos, né Zé?
– Claro. Por isso é que alguém precisa denunciar, lutar e fazer alguma coisa para salvar esse ‘pobre diabo’.
Nisso, o “Mané da Muda” fez um gesto, como que espantando alguma coisa.
– Sai daí ‘Menina’, você pode morrer igual ao ‘Biluca’!
– É melhor levar essa cachorrinha embora, ‘Mané’.
– Vou levar e não trago mais ela aqui.
– Está certo, está certo.
Quando os dois se despediam, viram o corpo todo inchado de um gato que estava sendo transportado pela serenas, nas sujas águas daquele rio que, outrora, fez bem pra tanta gente.