Renúncia. Esta é a palavra da vez no noticiário internacional, que teve dois fatos considerados bombásticos no último final de semana: os testes nucleares da Coréia do Norte que trazem à tona a ameaça de uma terceira guerra mundial e também o repentino anúncio da saída do Papa Bento XVI do comando da maior igreja do planeta, a Igreja Católica.
Apesar de não ter sido um fato novo, já que isso ocorreu por outras três vezes, com Ponticiano em 235, Celestino V, em 1294 e Gregório XII, em 1415, causou surpresa já que, mesmo com idade avançada (85 anos), não se esperava uma transição antes de sua morte.
Joseph Ratzinger, o nome de batismo de Bento XVI, assumiu o pontificado no dia 19 de abril de 2005 e, de lá para cá, esteve envolto em diversas polêmicas, em especial por, supostamente, ter servido ao exército alemão na Segunda Guerra Mundial enquanto era seminarista, algo que inclusive lhe rendeu uma prisão. Este envolvimento – ainda que por conta do serviço militar obrigatório – com os nazistas virou uma sombra sobre seu pontificado que mais de uma vez teve que ser esclarecida.
Outra sombra com a qual teve que lidar foi a de seu antecessor, Karol Wojtyla, João Paulo II, um papa tão carismático que sua figura reside até hoje no imaginário popular como a personificação do santo pontífice. Mais do que o carisma, também contou com imensa força física (resistiu até mesmo a um atentado à bala) e também política, tendo influenciado em diversas decisões até mesmo da ONU.
Analistas entendem que os oito anos de Bento XVI foram “improdutivos” para a Igreja que, além de perder adeptos para religiões, viu sua importância (e poder) diminuírem. Por outro lado, a luta contra os cânceres internos da organização, como pedofilia entre padres e a corrupção interna, algo que gerou grave crise institucional após o mordomo do Santo Padre ter tornado públicos documentos confidenciais da Igreja que externavam, entre outras coisas, a luta interna pelo poder da Santa Sé.
O desafio do próximo pontífice – que pode até mesmo ser brasileiro – é reverter este quadro. A Igreja há muito é cobrada pela opinião pública a respeito de sua posição conservadora por conta do histórico veto a diversos temas considerados polêmicos, como o casamento gay, a eutanásia, manipulação genética, divórcio e, especialmente, o aborto. Muitos apontam que a fuga de fieis reside exatamente na posição conservadora que não reflete o pensamento da sociedade e, consequentemente, não estaria condizente com os tempos atuais.
Renunciar, ao contrário do que se apregoa, é um ato de coragem. Saber a hora de deixar um cargo de destaque por não se julgar mais apto a exercê-lo é um ato de sabedoria e comprometimento para com o grupo que lhe apóia. Em que se pesem todas as críticas, a atitude de Bento XVI é louvável e deve ser respeitada como uma grande atitude de liderança em prol de algo maior, no caso a Igreja.
Desta maneira, não é exagero dizer que o novo Papa terá nas mãos a chance de estabelecer uma nova ordem mundial. As mudanças, ainda que desagradem a setores importantes da Igreja, serão de suma importância para que o Catolicismo mantenha sua posição de maior religião do planeta. Do contrário, seus mais de 2000 anos de história poderão convergir rumo a um ocaso que pode até mesmo representar seu fim.