Por Marcílio Duarte, graduado em Comunicação e especializado em Gestão de Projetos Culturais (ECA/USP).
Se perguntarmos na rua para um cidadão mediano o que é Cultura, certamente ele responderá que é Música, Dança ou Teatro. Esse raciocínio não está totalmente errado, pois Cultura também se expressa, em sua dimensão simbólica, como Arte. No entanto, entender a Cultura segundo o prisma exclusivo das Belas Artes é um equívoco, especialmente quando se trata de gestão pública, ou seja, a forma como o poder público municipal gerencia este setor. Mais do que linguagens artísticas, Cultura é um conceito ainda em desenvolvimento, pois desde o século XVIII, quando a Filosofia passou a se dedicar de forma mais profunda ao assunto, e desde o surgimento da Antropologia em finais do século XIX, ainda se discute muito sobre o que de fato ela significa. Uma coisa pelo menos é consensual: o ser humano difere da Natureza porque tem a capacidade do pensamento, da linguagem, da ação voluntária livre e do trabalho. Assim como o leão africano, o ser humano se alimenta por uma necessidade orgânica e fisiológica; porém, diferente daquele animal, consegue racionalizar diferentes formas de suprir essa necessidade. Essa variação é cultural e eminentemente humana. Percebe-se, com o exemplo dado, que Cultura é algo muito maior do que Arte. Deve ser entendida em pelo menos quatro dimensões: antropológica, filosófica, simbólica e sociológica. Para o gestor público, é importante esse discernimento, pois dele desejamos que se tenha uma visão administrativa assentada na diversidade e riqueza das contribuições culturais. Isso ocorre?
Infelizmente, e por via de regra, o gestor público administra o setor cultural sob dois aspectos: 1) criando oficinas de arte que reduzem Cultura à noção estética e contemplativa; 2) promovendo eventos de lazer, caracterizados mais pelo entretenimento passageiro do que pela formação pedagógico-cultural. É menos uma regra de governo e mais um costume. É uma “cultura”, cultura essa incrustada na estrutura administrativa dos órgãos públicos e difícil de arrancar. Assim, para o gestores culturais que atuam nas mais diversas frentes, lidando com toda sorte de dificuldades orçamentárias, logísticas e políticas, a força de vontade (entenda-se aqui paixão pela coisa) e o entendimento ontológico da palavra Cultura são fundamentais para sua rotina de trabalho, planejamento, elaboração e aplicação de políticas culturais eficazes, que tragam frutos para a Municipalidade, não apenas para um governo que por força da lógica é transitório.
Como viram, o assunto é extenso e não pode ser esgotado em um artigo. Quem sabe em um próximo encontro aqui neste jornal possamos debater um pouco mais.