Artigo: Keli Sibaldo, a arte como caminho de cura e expressão

Enviado por Rafael Marques. Escritor, pedagogo, filósofo e Psicanalista. Especialista em Educação Especial, História da cultura Afro, Literatura e Terapeuta Ocupacional na saúde mental.

A trajetória de Keli Sibaldo é marcada pela força, pela superação e pela delicadeza que a arte é capaz de proporcionar. Desde criança, a artista sempre se sentiu atraída pelas artes visuais, embora a vida tenha lhe conduzido por outros caminhos acadêmicos e profissionais. O encantamento pelas cores, formas e possibilidades de expressão sempre esteve presente, mas só mais tarde, depois de enfrentar grandes desafios pessoais, a pintura em tela se tornaria parte essencial de sua vida.

Moradora de São Bernardo do Campo e nascida na periferia de Diadema, Keli cresceu em meio a uma realidade que, muitas vezes, limita o acesso às artes e à cultura. Mesmo assim, construiu uma trajetória sólida nos estudos, graduando-se em Pedagogia e História, além de se dedicar ao campo científico. A busca pelo conhecimento sempre foi um traço marcante em sua vida, consolidada também com a pós-graduação em Psicopedagogia. Funcionária pública desde 2012, ela construiu sua carreira profissional com empenho e dedicação. Contudo, apesar de todas as conquistas acadêmicas, havia uma chama que permanecia acesa: o desejo de se expressar artisticamente.

Foi em um momento de grande adversidade que Keli encontrou na pintura um novo caminho. Após enfrentar um câncer raro e agressivo, além das batalhas contra a ansiedade e a depressão, ela descobriu na tela não apenas uma forma de criar, mas um instrumento de cura e acolhimento. A pintura se apresentou como terapia, uma companheira silenciosa de sua solitude e uma ferramenta de ressignificação de sua própria história. Nesse processo, não buscou técnicas formais ou cursos acadêmicos de arte: deixou-se guiar pelo instinto, pela intuição e pela sensibilidade, criando uma identidade artística única.

Sua relação com a cartomancia também dialoga com sua forma de ver o mundo e a arte. Curiosa por esse universo simbólico, Keli transforma signos, cores e formas em elementos de conexão entre o material e o espiritual. Cada obra nasce de uma escuta interior, de um impulso que transcende o racional e se aproxima da essência humana.

O percurso de Keli Sibaldo mostra que a arte não precisa ser resultado de uma formação tradicional ou acadêmica, mas pode surgir da experiência de vida, da sensibilidade e da coragem de se reinventar. A cada pincelada, ela materializa um processo de resistência, de cura e de afirmação de si mesma.

Hoje, suas pinturas refletem não apenas a estética, mas a trajetória de uma mulher que encontrou na arte uma maneira de se reconectar com sua história e de transformar dores em criação. Sua obra carrega a força da periferia, a disciplina da pesquisadora, a delicadeza da pedagoga e a intuição da artista que se permitiu florescer.

Assim, Keli Sibaldo se firma como exemplo de que a arte pode nascer em qualquer tempo da vida, em qualquer espaço, e que a verdadeira criação é sempre um encontro consigo mesma.

Compartilhe

Comente

Leia também