Por Cardeal Arcebispo Dom Odilo Scherer
Publicado originalmente no jornal O Estado de S.Paulo em 7/10/2017
No feriado de 12 de outubro deste ano foram comemorados os 300 anos do encontro da imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida nas águas do Rio Paraíba do Sul. A comemoração foi preparada pela Igreja Católica ao longo de um Ano Mariano Nacional, durante o qual várias réplicas da imagem original percorreram as dioceses e comunidades de todo o Brasil. Os três séculos de Nossa Senhora Aparecida testemunham a devoção do povo católico a Maria, mãe de Jesus Cristo e mãe dos cristãos.
Tudo começou em 1717, quando três pescadores, em vez de peixes, tiraram das águas do rio Paraíba do Sul o corpo de uma simples imagem quebrada de Nossa Senhora da Conceição. Logo em seguida, pescaram também a cabeça da imagem e viram nisso um sinal prodigioso, tanto mais porque, após a pesca da imagem, a rede se encheu também de peixes.
Levando para casa a humilde imagem da Virgem da Conceição, “aparecida” em suas redes, os pescadores começaram a honrá-la, como era costume católico. A cor negra da imagem levou a uma fácil empatia dos escravos e das famílias humildes com a Virgem Aparecida. Imagens negras de Maria não são uma raridade na devoção católica e se encontram um pouco por toda parte. Uma capelinha foi erguida e logo começaram a aparecer os primeiros sinais prodigiosos.
Nossa Senhora Aparecida é um sinal da providência, ternura e compaixão de Deus por seu povo.
A responsabilidade eclesiástica pela devoção a Nossa Senhora Aparecida inicialmente esteve com a Diocese do Rio de Janeiro. Em 1745, com a criação da Diocese de São Paulo, a competência passou para o bispo de São Paulo e assim ficou até 1958, quando foi erigida a Diocese de Aparecida. A devoção popular só crescia, chegando até à casa imperial e a princesa Isabel ofereceu a coroa e o manto característicos da imagem atual. Nossa Senhora Aparecida foi proclamada padroeira do Brasil.
Lugares sagrados, santuários e peregrinações não são exclusividade católica nem cristã, mas uma constante no fenômeno religioso em todos os tempos e lugares e em quase todas as religiões. Fazem parte da percepção de que Deus se comunica com o mundo e com o homem e que há pessoas, momentos e lugares por meio dos quais isso acontece de maneira especial.
Faz parte da fé católica a convicção de que Maria está sempre perto de Jesus Cristo; e onde ele está, com a comunidade dos discípulos, ela também ali está, pois é a mãe dos discípulos e participa da Igreja. Nessa relação próxima entre Jesus, Maria e a Igreja, tomam significado o carinho e o devotamento dos cristãos a Maria, sua mãe e intercessora junto a Deus, sempre atenta às necessidades de seus filhos. Mãe também é educadora e Maria sempre aponta para Jesus Cristo Salvador, recomendando aos filhos que o sigam, como fez nas bodas de Caná, onde Jesus realizou seu primeiro milagre, transformando água em vinho: “Fazei tudo o que ele vos disser.”