Cidade que teve um dos primeiros canis municipais da região, hoje é referência em bem-estar e políticas públicas voltadas à causa animal
A história da proteção animal em Ribeirão Pires acompanha as transformações sociais e legais do país. De um passado marcado por capturas e eutanásias para uma estrutura moderna e humanizada, a cidade se tornou exemplo na região com ações efetivas de conscientização, castração, vacinação e atendimento especializado a animais.
Com a criação do Departamento de Bem-estar Animal em 2021, Ribeirão Pires consolidou uma nova fase na relação com os animais domésticos e silvestres. O município ampliou políticas públicas, extinguiu o antigo modelo de recolhimento e promoveu ações educativas e preventivas que já impactam milhares de vidas.
Presente no imaginário popular, em filmes, séries e novelas de época e histórias infantis, a chamada “carrocinha” foi por décadas símbolo da política de controle de cães e gatos nas cidades brasileiras. Embora sua origem remonte ao século 19, no Brasil ela se popularizou nos anos 1970, como parte do combate à raiva urbana. Os animais capturados nas ruas podiam ser sacrificados se não fossem resgatados em até três dias.
De acordo com dados da Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, entre 1973 e 2008, o abate era legalizado e realizado com métodos como injeção letal e câmara de gás. Essa prática só começou a mudar após forte pressão social e a criação da Lei Estadual nº 12.916, de 2008, que proibiu a matança de animais sadios e extinguiu oficialmente a “carrocinha” no Estado.
Em Ribeirão Pires, o cuidado com os animais como política pública começou oficialmente em 1971, com a inauguração do Canil Municipal, ainda na gestão do prefeito Antônio Simões. O espaço funcionava junto ao Centro de Controle de Zoonoses (CCZ), que segue ativo até hoje. Durante décadas, o local foi responsável pela captura e abrigo de animais de rua — prática encerrada também em 2008 com a nova legislação.
Mesmo após a proibição das eutanásias, o canil continuou abrigando cães até 2019, quando, por decisão judicial, os recintos foram desocupados. Os últimos animais foram encaminhados para instituições especializadas. A partir de então, a cidade passou a reformular completamente sua abordagem frente ao bem-estar animal.
O marco dessa transformação foi a criação do “Departamento de Proteção à Fauna e Bem-estar Animal”, hoje chamado apenas de “Bem-Estar Animal”, instituído em 2021. O novo órgão nasceu com o objetivo de investir em prevenção, educação e responsabilidade compartilhada, encerrando definitivamente a ideia de que recolher animais resolveria o problema do abandono.
“O recolhimento era ineficaz, apenas transferia a responsabilidade. Hoje, trabalhamos na conscientização, com ações educativas em escolas e bairros mais vulneráveis”, explica Marcus Leap, subsecretário de Fauna do município. Para ele, o foco agora é informar a população sobre posse responsável, adoção consciente e combate aos maus-tratos.
Com esse novo olhar, Ribeirão Pires passou a investir fortemente em políticas públicas. Uma das maiores inovações foi a implantação do castramóvel em 2022, veículo adaptado que realiza castrações gratuitas nos bairros com maior índice de abandono. A iniciativa já alcançou a marca de mais de 9 mil procedimentos realizados.
“O Departamento atua com uma equipe multidisciplinar em ações de fiscalização, resgate e acompanhamento de animais em situação de rua e animais silvestres”, explicou o Secretário de Clima, Meio Ambiente e Habitação, Temístocles Cristofaro. Os serviços incluem castração, vacinação, controle de parasitas, microchipagem e monitoramento de áreas críticas. A meta é frear o ciclo de abandono e promover a saúde pública de forma integrada.
Para dar suporte a essas ações, a cidade inaugurou em 2021 sua primeira base ambiental no bairro Santa Luzia. Em 2023, a estrutura foi ampliada e transferida para a região central. Em 2025, o departamento ganhou novo endereço e ampliou também serviços de reabilitação para animais silvestres, ocupando o espaço antes destinado às antigas baias.
O município também investe em adoção responsável, promovendo feiras mensais que já ajudaram centenas de cães e gatos a encontrarem novos lares. A Prefeitura ainda mantém, desde março de 2024, o programa Tigela Cheia, que troca garrafas PET por ração, estimulando a reciclagem e a solidariedade. Já foram recolhidas 2,1 toneladas de material e, consequentemente, 2,1 toneladas de ração doada.
A vacinação antirrábica gratuita continua sendo realizada pelo CCZ, assim como campanhas periódicas de prevenção a doenças zoonóticas. A integração entre o Bem-Estar Animal e o setor de Saúde garante uma atuação mais ampla e eficiente no cuidado com a fauna.
Outra frente importante da gestão é a atuação em casos de maus-tratos e abandono, com abertura de denúncias, fiscalização e apoio jurídico. A cidade também mantém parcerias com ONGs e protetores independentes para acolhimento emergencial e acompanhamento de animais vulneráveis.
“Desde sua criação, o Bem-estar Animal de Ribeirão Pires tem consolidado uma política pública baseada no respeito, na prevenção e na educação. A cidade, que já foi cenário da atuação da “carrocinha”, hoje é exemplo de compromisso com a vida animal”, declarou o prefeito Guto Volpi.
Equipe especializada ganhou uma nova sede neste ano
Departamento atua contra o maus-tratos, ações de castração animal, resgate de silvestres, entre outras atribuições