Quem disse que para dar um toque especial a casa ou ao jardim é preciso comprar objetos de alto custo? A beleza está mais próxima do que se imagina, e o melhor: não custa nada. Onde encontrá-la? Em objetos descartados no lixo ou em um canto qualquer da cidade.
A casa do cabeleireiro Benedito Eustáquio Gualberto, 64 anos, na Vila Maria, em Ribeirão Pires, é um exemplo disso. Benê, como é chamado, não pode ver nada jogado na rua que logo a criatividade aflora e o que era lixo passa a ser transformado em luxo. A partir de um cone de sinalização de trânsito, ele criou um chafariz para embelezar o seu jardim. “Eu envolvi o cone com tela de arame, depois passei cimento-cola e fui colocando pedrinhas de argila que comprei em uma loja de paisagismo a R$ 2 cada saquinho. Aí coloquei o cone em uma caixa d’água de 1.000 litros, cortada ao meio e nas bordas da caixa também colei as pedras de argila. Em cima do cone foi colocado o pedaço de um filtro de água velho, um porta-copo e o chuveirinho do banheiro, e coloquei uma bomba na caixa para que a água pudesse jorrar”, explica Benê. Na fonte desenvolvida por ele, um trabalho que durou cerca de 4 horas para ser concluído, são criadas oito carpas.
No jardim de Benê também é possível encontrar vasos confeccionados com os mais variados materiais, nos quais planta diversos tipos de flores, seus verdadeiros xodós. Um deles foi feito com a base de um filtro de água quebrado. Outro foi criado a partir de uma manilha que encontrou jogada no mato. “Achei uma parte da manilha, então, fui ao depósito e encontrei uma peça que encaixasse nela e ficou bom”, conta. Recipientes abandonados por estarem desgastados, também são repaginados. “Outro dia encontrei um vaso na rua.
Cheguei em casa, passei escova de aço nele, depois fui fazendo alguns efeitos de tinta com um pincel e ele ficou novinho”, fala ele, lembrando que as pessoas deveriam reservar um espaço para o verde em suas residências. “Em vez de cimentar todo o quintal, plante grama, porque o mal também está em ficar sem nenhuma área verde”.
Para ele, as criações são uma terapia – “e põe terapia nisso”, ressalta Benê – e mais do que fazer bem para a mente, é uma valiosa contribuição ao meio em que vivemos e que será deixado de herança para as gerações futuras: “Se todo mundo fizesse isso, as coisas seriam bem mais fáceis. As Prefeituras também deveriam aproveitar os materiais reciclados, assim gastariam menos em algumas coisas”.
Prefeitura – O Executivo de Ribeirão Pires já seguiu esse exemplo. Em 2008, a decoração do tradicional Festival do Chocolate chamou a atenção pela beleza e criatividade. Enfeites confeccionados com garrafas PET foram espalhados pela cidade. Quarenta e duas mil PETS’s foram utilizadas e se transformaram em flores, pirulitos, vasos e margaridas, desenvolvidos inicialmente por alunos da APRAESPI (Associação de Prevenção e Atendimento Especializado e Inclusão da Pessoa Com Deficiência) e depois por mais 50 pessoas, entre elas adolescentes e donas de casa desempregadas, que foram contratadas para agilizar a produção dos enfeites.
Segundo a Prefeitura, parte da decoração feita com material reciclado usado naquele ano foi reutilizada nas edições seguintes. A decoração para o Festival do Chocolate de 2011 ainda está em estudos.
As escolas municipais também trabalham a prática de dar nova utilidade àquilo que já não serve mais. O Projeto Reciclagem foi inserido na programação de diversas instituições de ensino do município, com o incentivo da Secretaria de Educação e Inclusão para que o tema fosse abordado pelos professores em diversas disciplinas, principalmente no infantil e no fundamental.
O projeto teve como objetivo mostrar aos alunos a importância da reutilização de determinados materiais, envolvendo a comunidade na arrecadação de lixo reciclável. Os professores puderam desenvolver trabalhos em sala de aula com materiais recicláveis, confeccionando diversos objetos, inclusive brinquedos.