Animais de rua: vítimas e não vilões

ELIANA MACIEL DE GÓES

MÉDICA VETERINÁRIA

CRMV 5.534

Em 16/4/2008, a Lei 12.916 provocou uma reviravolta nos CCZ´s do estado de São Paulo ao proibir a eutanásia de animais sadios nestes locais. Não que os CCZ´s não estejam de acordo com esta proibição, afinal, quando nos formamos veterinários, o intuito é salvar os animais e não colaborar para sua morte, mesmo que seja dentro de procedimentos que não causem sofrimento aos mesmos.

Animais de rua não são vilões, são vítimas de uma sociedade que não os valoriza como seres vivos

Ocorre que a partir desta lei, a destinação dos animais apreendidos nos CCZ´s se limitou ao resgate pelo proprietário ou a adoção por terceiros, que infelizmente é pequena e os animais acabam ficando nos CCZ´s por longos períodos, sendo que o espaço físico é finito.

Assim, a apreensão indiscriminada de cães de rua precisou sofrer adaptações e os CCZ´s trabalham agora com a apreensão seletiva, ou seja, priorizando a captura dos animais que estejam em sofrimento (vítimas de atropelamentos, por ex.) e/ou animais agressivos/agressores.

No entanto, a Lei 12.916 é bem-vinda se não só pelo bem-estar dos próprios animais, como pelo fato de estar comprovado que apreensão e eutanásia (sozinhas) nunca foram solução para o excesso de cães nas ruas. Não me cabe aqui discutir estas ações e sim questionar os valores éticos de uma sociedade que abandona seus “animais de estimação” nas ruas. Precisamos nos conscientizar que somos partes integrantes e atuantes do meio em que vivemos para não nos tornarmos vítimas de nossas próprias ações.

A interação homem/meio ambiente/animal tem que ser revista, para tentar resgatar valores fundamentais como o respeito aos seres vivos e ao planeta.

As novas ações dos CCZ´s, não esquecendo o foco principal, que é o controle das zoonoses (doenças de animais transmitidas ao homem), devem focar a guarda responsável dos animais, cujo tópico principal deve ser atividades educativas direcionadas principalmente às crianças, objetivando difundir valores éticos e morais relacionados ao meio ambiente e aos animais.

Outro tópico deve ser a identificação e registro animal através da implantação dos chips de forma a relacionar o animal com o seu responsável e assim poder coibir o abandono e maus tratos dos mesmos, ou seja, coibir a guarda irresponsável.

Também é preciso incentivar a castração, que pode ser feita antes do primeiro cio nas fêmeas sem nenhuma contra indicação, trazendo benefícios não só para a fêmea (diminui chances de tumor de mama, por exemplo) como para diminuir o número de animais que nascem.

É preciso que a nossa população animal envelheça. Hoje a vida média dos cães nas ruas é de 4-5 anos, que são facilmente substituídos por essas populações jovens (populações susceptíveis a vários tipos de doenças, incluindo zoonoses como a raiva e leishmaniose). Por isto, a importância da castração de fêmeas e também dos machos.

Portanto, animais de rua não são vilões, são vítimas de uma sociedade que não os valoriza como seres vivos. Mas felizmente, este panorama está mudando e hoje existem muitas pessoas que sabem respeitar e tratar os animais como merecem ser tratados: com respeito e amor!

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