“Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto! Digam ao povo que fico!” No dia 9 de janeiro de 1822, que entrou para a História como o “Dia do Fico”, o então príncipe regente D. Pedro, declarou que não cumpriria as ordens das Cortes portuguesas, que exigiam sua volta a Lisboa, numa tentativa de retornar o Brasil ao status de colônia. Oito meses depois, o mesmo príncipe daria outro brado retumbante, dessa vez às margens plácidas do Ipiranga, e o resto da história a gente já sabe no que deu…
Demos um salto de quase dois séculos, e eis que no nosso ano cristão de 2019, a prática de proferir gritos, brados e impropérios segue firme e forte entre os governantes da nação. E a coisa pegou de tal modo, que o povo brasileiro também se habituou a gritar, espernear, apontar, denunciar, xingar e achincalhar a tudo e a todos, com a providencial ajuda da tecnologia e das redes ditas “sociais”. Gritar é uma coisa, mas agir já são outros quinhentos… Afinal de contas, pra quê agir se nós podemos apenas gritar?
Infelizmente a prática do “ganhar no grito” ganha mais e mais adeptos a cada dia. Ganha quem grita, ou berra, mais alto! E da audiência destes berros surgem verdadeiras aberrações, na política e na sociedade. A prática do diálogo, do debate de ideias e ideologias, da pluralidade, do respeito à divergência (e eu já disse aqui que são das divergências que surgem as melhores convergências), está cada vez mais rara. Não se vê mais tantas rodinhas de bate-papo onde pessoas que pensam diferente discutem e defendem seus pontos de vista civilizadamente. Só os “iguais” são aceitos. Agora o bicho pegou! Ai de quem se atrever discordar ou falar mal do outro… Corre o risco de levar bala ou uma facada no abdômen.
E o pior é que todo este cenário apocalíptico foi bola cantada lá atrás. A gente sabia que daria nisso! Talvez não imaginássemos que tudo se deteriorasse tão rápido, mas aconteceu: nos tornamos uma nação emburrecida, que não lê o que se escreve, que não lê o que nos enviam, mas replicamos no mesmo instante, de modo automático. Uma nação que simplesmente não lê… E Monteiro Lobato já havia dito: “Um país se faz com Homens e Livros!” Os livros estão perdendo a guerra para a tecnologia. Os homens vão perder para eles mesmos, numa autofagia anunciada.
Se você está lendo este texto, parabéns! Você já faz parte da minoria da população que ainda lê alguma coisa que não na tela do celular. De fato, a tecnologia proporcionou um significativo no aumento de leitores. Lê-se hoje muito mais do que há 10, 20 ou 30 anos. Mas a questão, como sempre, não é a quantidade de leitura mas a qualidade do que se lê…
Por força da minha profissão de editor desta revista Aqui! e de publicitário, e da minha atual condição como Secretário de Comunicação, a palavra e a informação são minhas matérias-primas de trabalho. Todos os dias me deparo com verdadeiros absurdos escritos e ditos, mas o mais triste é ver o séquito de seguidores que tais publicações arregimentam em questão de segundos. Incautos que replicam notícias falsas e/ou manipuladas, que não se dão ao trabalho de checar sua veracidade, sua origem ou ao menos verificar a data da informação, e a espalham como se fosse uma notícia fresquinha, tudo pra pagar de bem-informados… É triste de ver!
O emburrecimento geral da nação está aí, na nossa cara, pra quem quiser ver. E antes que alguém questione se defendo a elitização do conhecimento, lhes digo que não! Conhecimento nada tem a ver com volume de informação. As ferramentas tecnológicas foram criadas justamente para proporcionar a disseminação da informação, base e matéria-prima do conhecimento. Não é à toa que se diz que vivemos na Era da Informação. O ponto nevrálgico é justamente a qualidade da informação que se dissemina e que é captada. Raras são as pessoas que ainda leêm um jornal, uma matéria, seja no papel ou na tela. Hoje, mal leêm o título. E interpretam e passam a “informação” prá frente como bem entendem, como naquela antiga brincadeira do telefone sem fio, onde quase sempre, ao final, Jesus virava Genésio…
*Márcio Marques, Publicitário Editor da Revista Aqui! e Secretário de Comunicação de Ribeirão Pires
