Por Dom Paulo Evaristo Arns, Arcebispo Emérito de São Paulo. Publicado originalmente na Folha de São Paulo de 30/10/1973
Não. Ela nos fascina, apesar de toda a retórica que a procurou desgastar, ao longo dos últimos anos. Continuaremos a falar dela, apesar de todas as barreiras e ilusões. E quais são essas barreiras? Sem dúvida, os conflitos internacionais acompanhados ou alimentados por lutas implacáveis de classes e grupos; a precariedade mundo todo, capaz de confundir-se numa crise de petróleo. Tudo isto significa, para nós, mais do que barreira. Quase a frustração.
Para que o homem não continue sendo o eterno problema insolúvel, temos que acordar todo o idealismo e propor realizações práticas. Temos que reafirmar sempre de novo que a Paz é necessária, obrigatória e vantajosa, e que a esperança é a única capaz de iluminar o destino do mundo. A síntese das aspirações humanas, o móvel de toda a criatividade comunitária tem que ser a Paz.
A Paz desperta nossa capacidade adormecida quando cremos na ideia, e nos imbuímos da Paz.
Só poderemos trabalhar e descobrir os caminhos da Paz, no momento em que nos consideramos parte do corpo civil e lutarmos pela participação de todos. Para tanto, teremos de iniciar e reiniciar todos os dias nossa educação para descobrir e alimentar a mentalidade da Paz.
A Paz só se promove através de mensageiros que a afirmam, e por ela vivem. Mensageiros capazes de conquistar sempre novos adeptos. Partiremos, assim, da pessoa humana para a pequena comunidade e, através dela, para a grande coletividade.
Não hesitamos, pois, em recomendar às nossas comunidades, por mais pequeninas que sejam, às associações de Amigos de Bairro, e a todas as formas de participação, que se tornem expressão da Paz, isto é, da colaboração de todos na construção harmoniosa da sociedade. Assim serão todos eles arautos e, ao mesmo tempo, construtores da Paz.
Para esta Paz, a Igreja de Deus em Sâo Paulo se prepara, durante o Ano Santo de 1974, comprometendo-se à reno
vação e reconciliação contínuas. Por esta mesma Paz rezará a Igreja de Deus e São Paulo, pela voz do próprio Menino nascido em Belém: “Na terra. Paz aos homens de boa vontade!”