Há tempos a sacola plástica vem sendo vista como grande vilã do Meio Ambiente. E não é para menos. Ela demora pelo menos 300 anos para se decompor; ocupa espaço nos aterros; sua produção utiliza grande volume de água e gera resíduos industriais. Há ainda o uso inadequado e descarte na rua, o que leva o material às galerias e bueiros, causando entupimentos e enchentes; polui a água e o solo e traz prejuízo à vida de animais marinhos.
Diante de todos esses motivos, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), decretou fim da linha para as sacolas plásticas nos supermercados paulistas. Um acordo assinado no último dia 09, entre Alckmin, o presidente da APAS (Associação Paulista de Supermercados), João Galassi, e o secretário do Meio Ambiente, Bruno Covas, prevê que até o final do ano os supermercados deixarão de entregar as sacolas derivadas de petróleo ao consumidor. O objetivo é estimular a utilização de sacolas permanentes, como a tradicional “sacola de feira”, muito usadas no passado, reduzindo, assim, o descarte de plástico no meio ambiente. A assinatura aconteceu durante o 27º Congresso de Gestão e Feira Internacional de Negócios em Supermercados, na capital.
“Assinamos um protocolo para gradualmente substituir o saco plástico por uma sacola biodegradável ou retornável, que é até o ideal”, disse o governador.
Pelo acordo, os supermercados promoverão campanha nos próximos meses para estimular a mudança de hábito do consumidor, conscientizando-o para a necessidade de utilizar outros meios para o transporte das compras antes de cessar a distribuição de sacolas.
A Secretaria do Meio Ambiente esclarecerá, por meio de sua rede de educação ambiental, o prejuízo causado pelo uso das sacolas descartáveis derivados de petróleo. A expectativa é atingir – com informações, sugestões e dicas – as escolas da rede estadual e os órgãos que compõem o Governo.
Para o pesquisador da UNICAMP (Universidade de Campinas) e especialista na área de lixo, Maurício Waldman, o decreto vem tarde, se comparado à outros países, e a regra deveria se estender à todos os estabelecimentos e não somente aos supermercados. “É óbvio que o supermercado é um grande foco de disseminação de saquinhos. Se eu usar cinco saquinhos por dia, por exemplo, são 1.800 unidades por ano. É muito saquinho e geralmente isso sai do supermercado, mas a norma deveria ser estendida. Existem estatísticas que falam que só os saquinhos dos Estados Unidos utilizam dois milhões de barris de petróleo para dar conta da produção, é muito saquinho, não há meio ambiente que aguente. O saquinho plástico hoje em dia representa 10% do lixo urbano brasileiro. Pode não parecer, mas é demais. No mundo inteiro está tendo uma política rígida de contenção da sacola plástica. Muitos países estão mais adiantados nisso, já havia políticas restritivas contra o saquinho nos anos 80,90. Isso (decreto do governador) já está chegando tarde, mas de qualquer forma é bem vindo”, fala ele.
Como será – Se optar pela sacola descartável, o consumidor terá de arcar com o custo de produção da embalagem ecologicamente correta comercializada como alternativa às sacolas de plástico. Feita a partir de amido de milho, ela se desfaz em até 180 dias em usina de compostagem e em dois anos em aterro e estará disponível nos supermercados com valor estimado em R$ 0,19. O objetivo é estimular o uso de sacolas retornáveis (como as de feira), ecobags (reutilizável e feita em material renovável), carrinho de feira, caixa de madeira ou mochila. Alternativas cujo custo é zero.
Waldman ressalta que as sacolinhas nunca foram gratuitas; é que o consumidor não percebe isso. “Se você perguntar para qualquer supermercado, você vai ficar sabendo que o custo do saquinho gratuito não é gratuito, ele se dilui na gestão da empresa como um todo, ele entra como um custo. Então, você compra qualquer coisa no supermercado e já tem o preço do saquinho embutido ali”.
O Brasil já produz mais de 500 mil toneladas anuais de plástico filme (matéria-prima das sacolinhas plásticas), produzido a partir de uma resina chamada polietileno de baixa densidade (PEBD), resultando na produção de 135 bilhões de sacolas. Calcula-se que cerca de 90% desse material, com degradação indefinida, acaba servindo de lixeiras ou viram lixo. Em São Paulo, o consumo mensal está na casa dos 2,4 bilhões, o que corresponderia, em uma conta simplificada, a 59 unidades por pessoa.
Evolução – O tema vem sendo amplamente debatido com o governo e setores da sociedade civil desde 2007, quando a Prefeitura de São Paulo lançou uma campanha para que os paulistanos reduzissem o uso de sacolas plásticas. Já naquela oportunidade, a APAS apoiou a ideia, que visava estimular que o consumidor fosse às compras munidos de sua própria sacola, de pano, de lona, palha, TNT ou de qualquer outro material não-descartável.
No ano passado, em Jundiaí, foi implantando um projeto piloto em acordo com a prefeitura local, os supermercadistas e a associação comercial da cidade. A medida, que não tem força de lei, aboliu as sacolas plásticas nos supermercados da cidade, oferecendo como alternativa sacolas biodegradáveis compostáveis, feitas de amido de milho, além das sacolas permanentes. Houve uma adesão de 95% dos empresários locais e aprovação de 75% da população, de acordo com pesquisas divulgadas. Em seis meses, mais de 240 toneladas de resíduos deixaram de ser geradas.
O sucesso no projeto da cidade despertou o interesse de outros municípios, que passaram a estimular o uso de soluções alternativas, e também do governo de São Paulo, por meio da Secretaria do Meio Ambiente, que pretende estimular a iniciativa em todo o Estado.
A restrição surge num momento em que a sociedade percebe que não pode ignorar a questão ambiental – um processo de conscientização da população que já acontece em muitos países.
Mundo afora – Na Itália e na França, só a distribuição de sacos biodegradáveis é autorizada. Para desestimular o consumo, Alemanha, Dinamarca, Irlanda, África do Sul, partes da Austrália e China proíbem a distribuição gratuita de sacolas. Bangladesh proibiu as sacolas em 2002, após diagnosticar que o entupimento de bueiros por plástico causou grandes inundações no país.
Qual a diferença da sacolinha de mercado para o saco apropriado para lixo?
A atribuição dada à sacolinha de supermercado acaba sendo a mesma em quase todos os lares: servindo como local para acondicionar o lixo. Com o decreto assinado pelo governador, muitos indagam: de que adianta eliminar as sacolas plásticas do mercado se o lixo terá que ser colocado em sacos próprios para lixo, que também são de plástico?
Realmente ambos são plásticos, mas nem por isso são iguais. O pesquisador da UNICAMP (Universidade de Campinas), Maurício Waldman, explica porque os sacos pretos, específicos para lixo, devem ser usados para tal finalidade. “O saco preto não é a mesma coisa que o saquinho de supermercado. Ele é o último avatar da reciclagem do plástico. Quando se chega no plástico preto é porque não tem como fazer mais nada com ele. Já o plástico de supermercado é praticamente um plástico virgem, que poderia ser reciclado mais cinco, seis vezes e não está sendo. Então, do ponto de vista do custo ambiental, não é uma conta correta falar que o saco de supermercado é a mesma coisa que o saco preto, porque não é. São duas coisas absolutamente diferentes”.
Para resolver todos os problemas que o lixo ocasiona, Waldman fala que o ideal mesmo seria a conteinerização dos resíduos, a exemplo de como é feito nos Estados Unidos, onde o descarte é feito em containers e depois, os resíduos são levados por um caminhão de coleta, fazendo com que sacos jogados nas ruas seja uma cena extinta. “Não existe nenhuma regra colocada em nenhum lugar do mundo que o lixo necessariamente tem que ser gerenciado através de saquinho. O certo mesmo seria conteinerizar o lixo, como se faz na Alemanha, nos Estados Unidos, no Canadá. Vai demorar para chegar nisso, mas tendo esse papo inicial (eliminação das sacolinhas) já está bom demais”, finaliza.