“Fibras da Serra”: empreendedorismo 100% sustentável

Um grupo de artesãos transforma a fibra da bananeira em objetos dos mais variados, contribuindo com a renda familiar e com o meio ambiente. Essas pessoas fazem parte do projeto “Fibras da Serra”, em Rio Grande da Serra, desenvolvido pela empresa Solvay Indupa, junto às comunidades vizinhas da fábrica, com o intuito de gerar fonte de trabalho e renda para as famílias envolvidas, além de ser exemplo de empreendedorismo 100% sustentável para o Brasil. Em 2005, a empresa fomentava dentro da comunidade a discussão sobre as questões ambientais locais e propunha um trabalho em conjunto. Um dos temas mais levantados era a necessidade que havia de formação para geração de renda. O desenho dessa iniciativa iniciou-se em 2006 e foi construído participativamente por seus integrantes, mediado pela empresa.

Fibra da bananeira se transforma nos mais variados objetos

A decisão tomada em conjunto foi de usar a fibra de bananeira, uma vez que é uma espécie abundante na região e que seu pseudocaule é descartado depois de frutificar, constituindo-se em resíduo orgânico, mas que pode ser utilizado para a produção de arte e artesanato. Da bananeira é possível tirar quatro tipos de fibra, que resultarão em bolsas, cestas, bijuterias, artigos de decoração e outros frutos do talento e descobertas do grupo. A primeira fibra tirada é chamada de filé, utilizada para artesanatos mais finos; a segunda é a barriga; a terceira é a renda, mais utilizada para acabamentos e por fim, a casca, usada para trabalhos rústicos e de cestaria.

No projeto, os integrantes têm funções fixas, distribuídas entre gestão, operacionalização e disseminação da arte. Para isso, receberam treinamento para desenvolvimento de produtos com valor estético e com processos de produção compatíveis com a condição ambiental da região. Isso inclui visitas técnicas e participação em seminários, eventos e feiras.

Desde que começou, o grupo aprendeu a extrair pigmentos de corantes vegetais e com eles tingir tecidos, e retirar fibra e palha de bananeira. Também descobriu novos métodos de secagem e armazenamento da fibra, como tecer a fibra em diferentes técnicas e produzir objetos de adorno e decoração com fibra de bananeira. Aprendeu a calcular o valor do produto para venda, iniciar a fase de comercialização e como produzir um catálogo de técnicas e produtos.

Dona Maria mostra flores feitas com a fibra de bananeira, que serão comercializadas para uma empresa de cosméticos

Em 2008, o grupo constituiu-se legalmente na Associação Fibras da Serra com a missão de produzir beleza sem destruir a natureza, gerando trabalho e renda e ingressando no mercado nacional e internacional.

Além do produto final, a fibra produzida é também comercializada para atender a demanda de artesãos de outras localidades. Outra fonte de geração de renda são oficinas de produtos, para outros grupos que solicitam.

“É muito gratificante, após quase quatro anos de trabalho de formação e orientação, ver o projeto “Fibras da Serra” se tornar independente, formalizado e principalmente atingindo o principal objetivo que é gerar renda. Esse projeto de responsabilidade socioambiental é um exemplo na país de empreendedorismo 100% sustentável”, fala Lisandre de Assis, coordenadora de Comunicação da Solvay Indupa do Brasil.

Perfil dos integrantes – Atualmente, 26 pessoas estão diretamente envolvidas no projeto, mas, segundo Lisandre, esse número multiplica-se em três e até quatro vezes quando a demanda pelos produtos aumenta em função de encomendas para empresas, ou feiras de artesanato na região. 80% do grupo é formado de mulheres e 20% de homens. Alguns já trabalhavam com artesanato, outros descobriram no projeto a vocação para a área. Foi o caso de dona Maria Silva, 60 anos. Sua entrada garantiu muito mais do que uma fonte de renda: devolveu-lhe a vontade de viver. “Eu estava deprimida e a ‘Fibra da Serra’ foi a minha cura. Além do trabalho, tem um valor sentimental muito grande pra mim, porque ele me tirou da depressão. Eu não era artesã, não desenvolvia nada e hoje faço vários trabalhos”, conta.

Silvério Félix, 45 anos, sócio-fundador e especialista em fibras, lista os benefícios que o projeto traz a Rio Grande da Serra, e ressalta a mensagem passada pelo “Fibras da Serra”, que, infelizmente, vem sendo esquecida pelo homem. “Para a comunidade é muito interessante, porque Rio Grande ainda é um município carente do ponto de vista de investimento financeiro. Existe uma gama muito elevada de pessoas que precisam de projetos como esse. É um projeto muito importante do ponto de vista econômico, porque gera trabalho e renda. Ambientalmente falando, você mostra o que é usar o meio ambiente sem agredi-lo, a gente passa essa mensagem de que é possível, sim, explorar o meio ambiente sem causar nenhum dano, é uma escola”, finaliza. .

Serviço – A sede da Associação Fibras da Serra fica em um galpão de 250 m², na Rua dos Autonomistas, 357, centro de Rio Grande da Serra. Interessados em conhecer os produtos e adquiri-los podem ir ao local, de segunda à sexta-feira, das 8h às 16h. Aos sábados, a visita pode ser agendada pelo telefone 4821-5176. Este mês, os artesanatos também podem ser encontrados na Feira de Natal, promovida pela Prefeitura, na área central da cidade.

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