Zé Matuto

O “Tarugão”, primo do Zé, se casou já com certa idade e queria ter logo um filho para que pudesse aproveitar o crescimento da criança. Assim que o “bichinho” veio ao mundo, ele foi correndo registrá-lo no cartório e ficou mostrando o documento para todos os parentes e amigos. – “É um ‘hominho’! é um ‘hominho’!”. O garotão nem tinha completado três meses e ele queria, por todas as maneiras, que o coitadinho falasse com ele. – “Oi, nenê, fale papai, vamos, fale papai”. E ficava passando o dedo indicador nos lábios do garoto. E assim foi por bom tempo. Até um dia ele insistiu com o “Taruguinho” e ele só sussurrou: “anhanhnanhnanhn”. – “Isso, meu filho, já está aprendendo”. Depois de muitas mamadeiras e noites de sono, o “Tarugão” finalmente ouviu alguma coisa; “Glu, glu, glu, glu…” – “Vamos, meu garotão, diga papai, ouviu bem, diga papai!” Nessa época, o “Taruguinho” tinha completado nove meses e já queria engatinhar. Quando ele fez um ano, o ‘papai-coruja’ preparou uma grande festa. Pegou o filho no colo e o apresentou a um por um dos convidados. – “Ele já está quase falando, falta pouco”, anunciou. E, naquele mesmo dia, aconteceu o ‘milagre’. Depois de tanto insistir, o “Taruguinho” finalmente soltou um “pá, pá, pá…” E o “Tarugão”, dirigindo-se à mulher. – “Eu não disse, Ambrósia, que ele ia falar papai logo logo!” E assim passaram-se dias e anos. O menino cresceu rápido, tornou-se um rapagão. Não queria estudar, nem trabalhar. O “Tarugão” não se incomodava com isso. – “Deixa ele, Ambrósia, ele aprende com a vida”. A mulher se calava. O “Taruguinho” habilitou-se e todo dia saía com o carro do pai. Não tinha hora para voltar. Até que um dia o pai se abriu com ele: – “Olha, filho, o papai perdeu o emprego, não consegue se aposentar, as dívidas estão se avolumando e vou ter que vender o carro”. O rapaz olhou fixamente para o pai: – “Nada disso, velho!. Você não disse sempre que eu era tudo na sua vida, o ‘filhinho do papai’, que nada ia me faltar? E agora vem com essa? Sai fora, coroa, eu quero mesmo é ver o ‘circo pegar fogo’!” Injuriado, o “Tarugão” saiu de casa e, até hoje, não se sabe por onde anda. Melhor para ele, porque, dois dias depois do entrevero, o filho sofreu acidente de trânsito e morreu. Hoje deve estar conversando com o “papai do céu”.

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