Nos últimos tempos, a Universidade Metodista de São Paulo, situada em São Bernardo e referência no ensino superior particular, vem passando por grave crise. Até o momento, mais de 50 professores foram demitidos segundo o Sinpro (Sindicato dos Professores) ABC. Um dos cursos mais afetados foi o de jornalismo.
Os comunicados de demissão têm chegado via carta. As mudanças afetaram, inclusive, TCCs (Trabalho de Conclusão de Curso) dos alunos, que realizaram protestos, sendo o último deles no dia 14 (quinta-feira). A professora Luci Praun, que lecionava há pouco mais de 13 anos na Metodista, foi uma das baixas. “Não houve alegação, simplesmente a demissão”, disse, sobre como foi dispensada.
A docente criticou diretrizes impostas pela mantenedora, a Igreja Metodista, as quais classificou como “equivocadas”. “A atual gestão se aproveita da alteração na legislação para empobrecer direitos de funcionários. Assim, há contratações de docentes por salários menores e em regime de contratação flexibilizado” e completou: “Claramente há motivação política ao livrar-se de docentes que de alguma forma resistiram, ao longo do último semestre, às mudanças que desestruturaram e desmontaram o projeto universidade construído há anos.”
Para fechar, Luci deixou recado: “É vergonhoso que a Metodista, ainda mais sendo universidade mantida por uma igreja, ainda não tenha pago os salários de novembro tanto para os demitidos como para parte dos que permaneceram, bem como com relação às homologações dos dispensados. Não há qualquer comunicado da universidade sobre a data do pagamento das verbas rescisórias.”
Por sua vez, a aluna do terceiro semestre e nova presidente do Centro Acadêmico de Jornalismo Inês Etienne Romeu, Victoria Roman, 21, afirmou que o Centro é contra. “Uma ação dessas deve prezar pela melhoria da qualidade do ensino e não o contrário, que é o que está acontecendo. No final, a Metodista corre risco de perder até o título de universidade. Não podemos deixar de citar também as perseguições políticas, e isso é completamente inadmissível. Vamos continuar pressionando a reitoria e, junto com outros movimentos estudantis dentro da universidade, conseguir com que repensem todas as medidas que, no final, apenas sucateiam nosso ensino.”
A aluna do quarto semestre de Jornalismo, Natalia Rossi, 19 anos, contou como anda a moral dos estudantes. “Estamos muito irritados e decepcionados, um pouco perdidos e preocupados. Conversei com ex-alunos, perguntei sobre o curso e o que me encantou foram justamente os elogios aos docentes. E agora boa parte deles não está mais. Dá sensação de impotência, de não ter certeza se fiz a escolha certa, de raiva por gastar tempo e dinheiro em algo que não me agrada mais”, disse.
Em nota, o Sinpro repudia as demissões e afirma estar “brigando” com os professores para reverter a situação. Desde 2015, há atrasos nos pagamentos de salários, 13°, férias e irregularidades nos depósitos do FGTS. Sindicato e professores entraram na Justiça reivindicando o pagamento dos benefícios. Sobre os problemas recentes, o Sinpro afirma: “Estamos em luta com os professores demitidos para reverter a situação e buscar entendimento, estancando assim novas demissões.”
A Metodista divulgou nota na última terça-feira (19) afirmando que a crise econômica pela qual o País atravessa foi a responsável “pela adoção de novos critérios de atribuição de aulas e atividades acadêmicas que resultaram na readequação do quadro docente e em revisões de carga horária. Todas as ações empreendidas visam o fortalecimento institucional, a manutenção de estrutura acadêmica viva, ágil e focada em agenda que priorize também a relevância da pesquisa e da extensão”. A instituição ainda garantiu que, nas Pós-Graduações, todos os trabalhos em andamento continuarão.
O Colégio Episcopal da Igreja Metodista também se pronunciou e endossou a resposta da universidade ao afirmar que “as demissões que aconteceram recentemente fazem parte do processo de reestruturação da Rede Metodista de Educação. Contudo, o Colégio Episcopal intercede para que todas as decisões sejam aplicadas com base no respeito ao ser humano e segue em oração pelas famílias das pessoas que foram demitidas”.