A questão Tiririca nesta eleição não foi um voto de protesto como poderia ser… O que é pior: é um reflexo do nível da atual “cultura” brasileira.
É a realidade da educação que o Estado ofereceu e oferece à maioria de sua população.
A eleição do Tiririca é legítima, democrática e justa. Das críticas distribuídas quanto ao fato “palhaçada”, o problema não é a presença de atores, comediantes estereotipos, etc… No cenário político eleitoral, o problema é a ausência dos formadores de opinião; professores, mestres, doutores “do saber”, dentre outros, que deveriam participar de forma ativa e contribuir com o nível de debates das questões sociais, se anulam e se acomodam em suas salas, seus salários como se não tivessem responsabilidade alguma, vivem apenas no mundo das ideias, das teorias e não as colocam em prática, privatizam o conhecimento.
É nesse espaço desconsiderado, deixado que se estabelece a senso banal, o individualismo, o particularismo e adiante… a crise.
A eleição do Tiririca não chega a ser um voto de protesto e sim um voto de reconhecimento. A problemática que passam as instituições do Estado são sábias por qualquer cidadão e um protesto requer um juízo de valor. Julgar para aquilo que traga melhorias implica essa comparação e esse julgamento não foi feito de forma comparativa entre os velhos vícios da política e o “pior não fica”.
O reconhecimento eleitoral depositado no Tiririca não está vinculado com a preocupação aos problemas sociais, estão vinculados ao conteúdo cultural daqueles que o elegeram, se reconhecem sem muita preocupação quanto a crise social que vivem. Não havia proposta em sua campanha que comprometesse a seu favor o voto de seu eleitorado.
O que há na sociedade brasileira é uma segregação, onde cada classe vota naquela que se reconhece socialmente. A eleição do Tiririca evidencia uma “nova classe” desprovida de compromisso e conteúdo político que entra para competir de forma democrática e legítima no nível da atual política brasileira.
A ausência do Estado é responsável pelo surgimento dessa banalização da política e generalização pejorativa, o valor do Estado está refletido no cidadão através de seu julgamento quanto à qualidade dos serviços que o Estado lhe oferece.
Que não permaneça só na crítica ao que está aí, é preciso reconhecer a ausência, participar politicamente, ser responsável com o aluno de hoje para ser responsável pelo político de amanhã.
A democracia é de todos e para todos, inclusive os “abestados”.
Enoque Freire
Professor e Cientista Social
Pós-graduado em Relações Internacionais e Políticas