“Ser pai é ter a possibilidade de transmitir amor incondicional ao outro”: confira relato de pai que adotou criança mais velha

Francisco com a esposa e filha Graziela

O que é ser pai para você? Neste domingo (12), é comemorado o Dia dos Pais e o Mais Notícias entrou em contato com um pai que adotou uma criança mais velha para responder à essa pergunta e contar sua história. A reportagem também ouviu o relato de um morador de Rio Grande da Serra que foi adotado quando pequeno.

 “Ser pai é ter a possibilidade de transmitir amor incondicional ao outro. Amor que se apresenta na dedicação, no carinho, na presença, na troca de olhares e que faz com que você se torne uma pessoa melhor. Com o passar dos anos deixamos de lado esse amor para nos tornarmos frios e indiferentes, então ele nos faz reviver”, conta o empresário Francisco Luciano da Luz Medeiros, 36 anos, que adotou a menina Graziela, quando ela tinha oito anos; hoje está com nove.

Medeiros explica que a adoção se deu por conta da impossibilidade da esposa de seguir com a gestação, já que conseguia engravidar, mas em um determinado período, sofria aborto espontâneo. “Sempre foi consenso adotar, tanto para mim quanto para ela. Antes de casarmos já tínhamos esse desejo, mesmo se tivéssemos filhos biológicos”, disse.

O casal conheceu Graziela num abrigo, após entrarem com processo de adoção em agosto de 2016 e serem habilitados pelo CNA (Cadastro Nacional de Adoção) em março de 2017. “Quando entramos com o processo de adoção fomos de coração aberto. Preenchemos um questionário em que apresentamos a faixa etária que desejávamos, até 12 anos, sem restrição de cor. Devido ao nosso tempo e trabalho, a única característica que não solicitamos é uma criança que tivesse deficiência mental profunda ou deficiência física que exigisse de nós acompanhamento 24h por dia”, explicou Medeiros.

“O processo de adaptação foi um dos momentos mais belos que tivemos: o primeiro encontro, a primeira troca de olhar, o desejo de estar junto, a saudade de quando deixávamos ela no abrigo e voltávamos para casa. Foi um processo lindo, choro quando lembro”, relata. Apesar disso, Medeiros também comentou alguns momentos doloridos no processo de adoção.

“Os dois irmãos mais novos dela foram adotados enquanto estávamos no processo de adaptação e uma vez, quando chegamos para passear com ela no abrigo, ela não queria. Durante um mês, um mês e meio não queria nos ver porque não queria ficar longe dos irmãos. Ela se escondia debaixo da cama e se trancava no banheiro”, conta. Para resolver a questão, a psicóloga que acompanha a família teve a ideia de levá-la para a casa de Medeiros e, a partir dali, a menina resolveu ficar. A guarda definitiva de Graziela veio em maio deste ano.

Segundo relatos do abrigo, a mãe biológica de Graziela era alcoólatra e a maltratava e não se sabe o paradeiro do pai. “Ela nunca comentou o desejo de rever a mãe ou o pai. Só fala dos dois irmãos mais novos, com muita saudade e carinho. Se mais para frente tiver vontade de revê-los, vou ser o primeiro a pegar o carro e ajudá-la realizar esse sonho”, disse Medeiros.

Em relação aos desafios enfrentados por ser pai, Medeiros conta que a família teve que se adaptar ao fato de Graziela ter perda auditiva profunda nos dois ouvidos. “Fizemos curso de Libras. Com isso, fomos crescendo, aumentando a intimidade e assim ela foi gerando a confiança em nós. Ela é muito alto astral, para frente. Acorda brincando, sorrindo, mexendo com a gente e dorme do mesmo jeito”, se emociona o pai.

Perspectiva de quem foi adotado – Já o morador do Centro de Rio Grande da Serra e empregado da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) Claudio Campagnoli, 41, foi adotado com quatro anos e três meses. “Meu avô estava dando os filhos e netos após a mulher dele morrer. Morávamos em uma casa precária no Paraná. Vim cheio de traumas e sequelas porque estava desnutrido, com vermes e a cabeça toda machucada”, conta.

Quem foi buscar Campagnoli no Paraná foi a irmã de seu pai adotivo, quando estava em busca de uma criança para fazer companhia aos filhos que ela já tinha. Vendo a situação em que se encontrava o menino, a mulher resolveu levá-lo ao irmão. “Lembro do dia em que cheguei na estação de trem de Rio Grande. Estava com uma sandália marrom, uma bermuda e uma camiseta polo, porque no Paraná faz sempre muito calor, mas aqui em Rio Grande estava frio. Esse momento de eu saindo da Estação me marcou”, relembra.

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