Alguns dizem ser quase impossível ensinar a uma pessoa ser solidária. No entanto, defendo que solidariedade é uma atitude que deve ser ensinada ao longo de todo o ano, pois estou convicta de que colocar crianças e jovens em contato com atos solidários lhes possibilita viver uma experiência que desperta, no mínimo, interesse pelo tema, além de sugerir um olhar sensível e indignado para uma realidade injusta, onde muitos têm pouco e poucos têm muito.
Temos vivido em um clima de isolamento individual. Pensar em seu próprio bem é um imperativo do nosso contexto que nos leva a construir relações cada vez mais superficiais. Opondo-se a essa tendência, nossa cultura nos sensibiliza a intensificar as ações solidárias especialmente na época do final de ano. Daí que tal período se torna propício para começarmos a desenvolver a ética da solidariedade com nossos filhos e seguir por todo o ano.
Diversas famílias presenteiam seus pequenos com brinquedos. Muitas vezes são tantos jogos, carrinhos, bolas, videogames, bicicletas, bonecos e bonecas que nem há lugar para guardá-los em casa. É preciso, então, desocupar armários e tirar os brinquedos que estão esquecidos e não farão falta para esses meninos e meninas, que costumam encantar-se pelo prazer do brincar e não pelo brinquedo em si.
Para os pais que pretendem educar filhos solidários, uma boa alternativa é ensinar e incentivar as crianças a doar os “brinquedos esquecidos” a alguma creche ou instituição filantrópica da sua confiança. Na maioria das vezes, locais sérios e comprometidos com a educação e o cuidado das crianças sofrem com dificuldades orçamentárias. Embora muitas dessas instituições atendam à demanda com qualidade, o dinheiro é sempre curto para a compra de brinquedos, pois os itens prioritários acabam sendo comida, material de higienização e a própria folha de pagamento dos funcionários.
A ideia não é nova; na verdade, é até requentada, mas vale a pena voltar a ela uma vez que há novos pais e novos filhos a cada ano. Levar o filho até uma instituição para que ele possa oferecer os brinquedos e deixá-lo brincar com as crianças menos favorecidas é possibilitar-lhe uma experiência gratificante, uma vez que ele poderá conviver com crianças que têm referências culturais diferentes das dele. Mesmo que somente durante poucas horas de uma manhã ou tarde. Assim, todos saem ganhando.
O resultado de ações pontuais como essa pode não garantir mudanças profundas de comportamento, mas, com certeza, ficará registrado na memória afetiva dos pequenos. E eles, a seu tempo, poderão resgatá-las para contemplar o ensinamento de seus pais, que, preocupados com sua formação, os presentearam com algo que não ocupa espaço nem é esquecido, como acontece com tantos brinquedos jogados no fundo do armário.
Francisca Romana Giacometti Paris é Diretora pedagógica do Agora Sistema de Ensino,
pedagoga, mestre em Educação e ex-secretária de Educação de Ribeirão Preto (SP)