O Hospital e Maternidade São Lucas passou pela pior semana de sua história, atingindo uma fila de espera beirando 8h. Tudo porque os médicos e outros funcionários não estão dando conta do atendimento e muitos têm abandonado os plantões. A decadência teve início após a Prefeitura reassumir a administração do complexo hospitalar há pouco menos de um mês.
A cada dia uma nova confusão acontece no saguão do hospital. Domingo de Páscoa, dois vereadores compareceram ao local após receberem diversas ligações por parte de munícipes. Nossa equipe de reportagem esteve no São Lucas na segunda-feira à noite e constatou sérios problemas no atendimento, a começar com a falta de efetivo da administração. “Não tem ninguém do administrativo para atender a imprensa e não há ninguém para resolver o caso”, informou uma funcionária da recepção que preferiu não ter seu nome divulgado.
Nossa reportagem tentou contatos com o secretário interino de Saúde de Higiene, Allan Frazatti, e com a secretária de Comunicação, Vera Fracasso Guazelli, ambos não atenderam nossos telefonemas.
A cada dia o problema se repete: apenas um médico para atender a demanda de todo o pronto atendimento com algumas complicações: “O pediatra foi embora e o único médico que sobrou, o clínico geral, disse que não atenderia mais nenhuma criança”, comentou Vanessa Rodrigues, que estava com o filho no colo aguardando atendimento há mais de 3h.
Para outro usuário do sistema, a situação é ainda pior. “O hospital, se é que dá para se chamar aquilo de hospital, está um verdadeiro inferno. Hoje às 18h havia pacientes que estavam aguardando atendimento desde o meio dia, só tinha um médico atendendo na porta, não tinha pediatra. O atendimento está pior a cada dia, cada dia tem menos médico. Se é para ficar desse jeito por que não fecham as portas de uma vez!”, desabafou Augusto Miguel em um e-mail enviado à redação.
O médico que atendeu na segunda-feira, o doutor Osvaldo Akira Miyake, fazia plantão no São Lucas desde as 7h da manhã. Às 14h o profissional não havia sequer tirado um horário para almoço. Trabalhando sob pressão, fez questão de atender a maior quantidade de pacientes possíveis. Ele só conseguiu deixar o hospital após às 20h.
Em nota a Prefeitura apenas informou que está apurando as informações e que tomará as devidas providências.
Médicos pedem demissão em massa e situação municipal complica
Na manhã de ontem, cerca de 10 médicos especialistas que atuavam nas diferentes UBS’s da cidade pediram demissão em massa. A decisão da classe médica foi tomada após o doutor Wagner Ciongole, diretor técnico de Saúde do Município impor mudanças não aceitas pelos profissionais. “Estou saindo antes que as coisas piorem”, declarou um deles que prefere não ter o nome divulgado.
E as coisas não param por aí. Apesar de ter afastado judicialmente a OSSPUB da administração financeira das UBS’s, do São Lucas e das Residências Terapêuticas, a Prefeitura publicou um termo nos Atos Oficiais rescindindo unilateralmente o contrato com a entidade, ao mesmo tempo em que exige com que a OSSPUB mantenha atendimento regular até a Prefeitura retomar completamente o comando da Saúde, sob pena de multa em caso de descumprimento. A medida gerou confusão e a juíza responsável pelo caso convocou Prefeitura e OSSPUB para uma audiência que será realizada nesta sexta-feira. O objetivo do encontro é entender as precipitadas decisões da Secretaria de Saúde e as terríveis consequências ocasionadas.
Em março, a medida judicial que afastou a OSSPUB exigia que a Municipalidade retomasse apenas a gestão financeira, a administração técnica permaneceria como antes. No entanto, desde o dia 21 de março, a Prefeitura efetuou o pagamento de apenas R$ 500 mil referente aos médicos. Outros R$ 4,5 milhões ainda não foram repassados para a OS, deixando os profissionais da Saúde sem recursos.