As cenas mostradas no programa “Fantástico”, da Rede Globo, há duas semanas, apesar de inacreditáveis, são verdadeiras. Diversas escolas públicas do país servem aos alunos merenda estragada, vencida, alimentos armazenados sem o mínimo cuidado. Em uma instituição de ensino. Em outras, não há nada o que oferecer.
Em Goiás, o cúmulo do absurdo: uma merendeira mostra arroz cheio de insetos à nutricionista. Ouviu a recomendação de colocar o alimento no sol que os bichinhos sairiam.
Felizmente, há quem tenha pela merenda escolar os cuidados e o respeito que ela merece. São Bernardo do Campo já foi noticiada como um dos melhores exemplos de gestão da merenda escolar. Outra cidade referência nessa questão é Ribeirão Pires. O compromisso com a alimentação dos alunos rendeu à Escola Municipal Eng. Carlos Rohm, em março do ano passado, prêmio do Projeto Nutrir, realizado pela Fundação Nestlé, pelo trabalho “Joga dentro da panela”, que tem por objetivo aproveitar integralmente os alimentos. A escola recebeu R$ 2 mil para ser aplicado em melhorias para os alunos.
No município, são servidas, em média, 40 mil refeições por dia. A Secretaria de Educação e Inclusão atende as escolas municipais, estaduais, entidades assistenciais e o SESI. Dos produtos que chegam ao prato de crianças e adolescentes, 30% são adquiridos de produtores da agricultura familiar, em cumprimento à lei federal e o restante por processos de licitação. Os recursos para aquisição dos gêneros alimentícios são provenientes do Governo Municipal, Estadual e Federal. Os valores não foram informados.
A secretária de Educação e Inclusão de Ribeirão Pires, Rosi Ribeiro de Marco, não esconde a revolta com o que viu na reportagem exibida no programa dominical. “Aquilo pra mim foi uma coisa impossível de um ser humano, de um administrador conceber aquele tipo de reportagem, os profissionais envolvidos nisso nos assusta”, exclama.
Cardápios – De acordo com a Resolução do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, nº 38 de 16 de julho 2009, os cardápios devem atender 20% das necessidades nutricionais diárias dos alunos matriculados na educação básica, em período parcial; quando ofertadas duas ou mais refeições, no mínimo, 30% (trinta por cento) das
necessidades nutricionais diárias dos alunos matriculados na educação básica, em período parcial; e quando em período integral, no mínimo, 70% (setenta por cento) das necessidades nutricionais diárias dos alunos matriculados na educação básica.
Os cardápios deverão oferecer, pelo menos, três porções de frutas e hortaliças por semana (200g/aluno/semana) nas refeições ofertadas.
São diversas opções da cardápios para atender a demanda. Há um para as creches, outro para berçários, um para as EMEI’s (Escola Municipal de Educação Infantil), e para as escolas estaduais. Quem tem algum tipo de patologia não é esquecido. Tem tratamento especial. “Cardápio de Intolerância a Lactose, Diabete, Colesterol, Alergia a Corantes e Conservantes, Alergia a Chocolate, Intolerância a Ovo, Intolerância a Peixe, Diarréia Crônica, Dieta com Acréscimo de Fibras, Cardápio Hipercalórico, Cardápio para tratamento de obesidade. Os cardápios de patologias só são executados após prescrição médica”, explica uma das três nutricionistas do setor de abastecimento, Marcela Lima.
Os alimentos que compõem os cardápios são compostos por produtos variados, onde é visado um balanceamento entre proteína, carboidrato e vitaminas e sais minerias.
“A variação se dá por alimentos da época no caso de verduras, legumes e frutas.
Na questão das proteínas, variamos com carne cubo, carne moída, frango, salsicha, salsicha de peru, ovos, nuggets, almôndegas, fígado e cação.
Nos cardápios específicos (patologias) a variação se dá de acordo com a necessidade de cada um, mas tentamos alterar o mínimo possível, para a criança não se sentir excluída”, fala Marcela. Os cardápios são alterados mensalmente como dito anteriormente de acordo com os alimentos da safra.
Cuidados – Com alimentos todo cuidado é pouco, e para não se perder diante de tantos produtos, no setor de armazenamento da Prefeitura, todas as prateleiras tem identificação com a data de validade dos alimentos. “Dentro da escola, as merendeiras são orientadas a, sempre que chegar um produto novo, usar primeiro o que tem na dispensa para depois usar o outro, sempre observando a validade”.
Além disso, as nutricionistas comparecem frequentemente, praticamente semanalmente às escolas, para fazer orientações, sanar dúvidas, verificar a aceitabilidade do cardápio e fazer educação nutricional com as crianças.
Outra medida de cautela é guardar uma amostra da merenda servida. Caso algum aluno passe mal e haja suspeita da família com relação à merenda, a amostra é encaminhada à análise.
A secretária Rosi ressalta que a alimentação é tida como um componente essencial para o processo pedagógico. “Essa alimentação ajuda na criação de hábitos saudáveis, no desenvolvimento da questão motora, corpórea, intelectual, na prevenção à doenças, na questão do balanceamento correto das proteínas, calorias e tudo que a criança precisa para o dia. Qualidade de Educação só é atendida quando existe um conjunto de outras habilidades e competências sendo trabalhadas. Quanto a gente economizaria com postos de saúde, com médicos, com hospitais se a criança fosse completamente atendida desde a primeira infância, quando ela entra na creche? Então, todo esse acompanhamento, com certeza lá na frente, na estatística, vai aparecer que essa criança se desenvolveu de maneira correta”.