Mesmo com a geração de 4,8 mil empregos diretos e indiretos em toda a região do ABC e com o recolhimento de R$ 3,7 milhões de ISS (Imposto Sobre Serviço) que incide durante a construção do gasoduto em Ribeirão Pires, a Petrobrás, representada pela empresa Contreras, está gerando uma série de reclamações entre munícipes, vereadores e empresários que não concordam com a devastação que a obra GASAN II está gerando na cidade.
As reclamações, das mais diversas, vão desde o mau comportamento dos funcionários, excesso de pessoas desempregadas lotando os abrigos da cidade enquanto esperam por uma oportunidade de emprego na empresa até a invasão de terrenos importantes como o da produtora de água mineral, Águas Pilar, o que pode resultar na inapropriação da água envasada pela companhia.
Neste caso específico, o engenheiro responsável pelas fontes e minas d’água, Carlos Eduardo Plens, alega que a Contreras está invadindo um topo de morro no terreno da produtora de água, o que poderá resultar no esgotamento de algumas fontes. “Fizemos todo esse trabalho de captação da água e depois vem esse pessoal para passar pelo nosso topo de morro, sem se preocupar que a água que cai lá em cima faz a pressão necessária para que essa brote aqui em baixo. Quando eles passam por lá, nossa fonte é prejudicada aqui”, comenta Eduardo.
O engenheiro explica que o trabalho que fazem para identificar uma fonte é semelhante ao de um arqueólogo. “Depois que identificamos a nascente, nós usamos pincéis e pás para achar a rocha de onde a água brota. O trabalho é delicado porque podemos estagnar a fonte uma vez que ela é muito sensível. É um trabalho demorado”. Plens acrescenta: “A água vem de todo o manancial e, mesmo não tendo como medir o estrago que a obra eventualmente vá gerar, posso dar certeza que a quantidade de água gerada pela mina irá diminuir consideravelmente”.
Questionada sobre esse problema, a Petrobrás, por meio de sua assessoria de imprensa, disse que não foi constatada a existência de minas d’água na faixa por onde passará o gasoduto. Informou ainda que o projeto foi aprovado pela CETESB (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo), onde o traçado vigente é o mais indicado, pois não provoca mudanças significativas na composição geomorfológica do local. Com isso, a Justiça de São Paulo concedeu à Petrobrás a emissão de posse da faixa do gasoduto na referida localidade, por ser a construção do gasoduto uma obra de utilidade pública para o país e a autorização do espaço do empreendimento é amparada pelo Decreto de Utilidade Pública de 29 de setembro de 2009, cujo objeto é a desapropriação de áreas para a implantação de dutos.
A Estância Pilar chegou a sugerir que a tubulação contornasse o terreno em questão, porém, a alternativa implicaria na passagem do gasoduto por trecho fortemente ondulado, sendo necessária a locação da faixa em trechos de meia encosta. Segundo ainda a assessoria da estatal, isso acarretaria consideráveis obras geotécnicas, com grande movimentação de terra, podendo causar alterações do regime de fluxo das águas subterrâneas do local. “Desta forma, ao manter o traçado original, os impactos da obra, e na área de influência, serão bem menores devido a menor movimentação de terra”, responde a companhia petrolífera.
Eduardo Plens alerta para outros problemas futuros: “Outro ponto abordado é que o desmatamento tira a umidade natural do solo o que acarreta em erosão precoce. A falta de vegetação causa a aceleração da água que corre por cima do morro e isso trará erosão no topo. O problema vai ser visto somente no futuro. A água que cai na grama vai correr mais rápido para baixo, dentro de 5 ou 10 anos será possível ver os problemas e quando esse dia chegar, a Petrobrás vai se responsabilizar pelos problemas?”, questiona o engenheiro.
Ao todo, a GASAN II irá devastar 64,33 hectares de mata nativa da cidade. Conforme o TCRA (Termo de Compromisso de Recuperação Ambiental) assinado com a CETESB, serão reflorestados 112,22 hectares (o equivalente a mais de um milhão de m² ou mais de 100 campos de futebol, aproximadamente).