O outro lado da maternidade

O Dia das Mães é este domingo (13). Para alguns, a data é motivo de comemoração e união, mas para outros representa apenas um dia comum. E qual será a posição das mulheres que já rejeitaram os filhos? O Mais Notícias ouviu duas mães, que preferiram não se identificar, para falarem sobre o tema.

Victória (esq.) e a mãe Sueli

“É uma data que deve ser comemorada, porque tenho certeza que muitas mães dão a vida pelos filhos, o que muito pai não faz”, disse a empregada doméstica C. S., 35 anos, que ficou grávida aos 25 e tentou tomar chá para interromper a gestação, porque não tinha relação com o pai da criança e “jamais” queria ter tido filho com ele.
C. conta que sofria bastante por estar grávida naquela situação, já que não tinha nenhum sentimento pelo bebê e nem alguém para conversar. “Passei toda minha gestação muito triste e queria que meu filho morresse. Quando o médico falou que ele ia nascer, fui para casa e não fiquei ansiosa, feliz ou triste. Era como se tivesse saído na rua para ir ao mercado.”

A percepção de C. sobre a gravidez e o filho só mudou quando a empregada doméstica viu o rosto da criança pela primeira vez. “Senti o amor de mãe e aquele sentimento de que a gente faz tudo por um filho. Hoje para mim ele é tudo. É a minha vida. Por ele eu morreria. Amo meu filho mais do que tudo”, contou.
Essa é a mesma percepção da gastrônoma E. S., 38, que disse que, se tivesse conseguido abortar no começo da gestação, não seria a mesma pessoa e não conseguiria viver. “Na hora em que colocaram ele nos meus braços, o amor veio. Ele não pediu para vir ao mundo e não tem culpa dos problemas que antecederam sua chegada. Ele dependia de mim e era comigo que contava. Eu tinha que estar ali”, disse.

E. tem três filhos, mas não desejava a segunda e a terceira gravidez. “Foi muito triste e muito ruim para mim. Não preparei enxoval, porque não queria e esperava que no último momento (o bebê) não nascesse. Quando descobri, foi desesperador, queria morrer. Eu pensava: ‘como vou criar outra criança e amar?’.”
A gastrônoma conta que não queria falar o que estava sentindo, porque temia que as pessoas fossem preconceituosas e não tinha condição financeira para procurar ajuda psicológica. Para E., ainda há “muito problema se você é mãe e fala que está cansada, que não aguenta mais e que quer ter um espaço e uma vida só sua”.
Já a gerente comercial Sueli Alves, 53, fez o caminho inverso e adotou uma criança que estava sendo cuidada pela vizinha e vivia em situação precária em Alagoas. “No primeiro momento eu disse não, mas depois passou um filme na minha cabeça e veio o pensamento: você tem condições financeiras e muito amor para dar, aceite esse presente”, contou.

Sueli explica que o mês em que esperou a vinda da criança para São Bernardo, onde morava, foi desesperador, porque não se sabia o estado de saúde da bebê e nem se haveria algum problema grave. “Comecei a amá-la na rodoviária, enquanto esperava sua chegada. Ela estava faminta, muito doente e queimada de sol, com picadas de pernilongo.”
Para a gerente comercial, a filha Victória representa “equilíbrio, amadurecimento, aprendizagem, paciência e perseverança”. “Ela é minha companheira em todos os momentos. Não imagino nunca perdê-la, mas sei que um dia vai querer conhecer a família biológica. Eu darei todo o apoio”.

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