O impresso nunca vai acabar

“Conheci seu avo e seu pai”, diz Gazeta enquanto me acomodo na cadeira em sua sala, no jornal Mais Notícias.

Meu avô partiu antes de eu chegar a este mundo. Não tive o prazer de conhecê-lo. Meu avô, assim como o Gazeta, foi gráfico e tinha seu negócio de impressão em Ribeirão Pires. Quando meu pai fez 10 anos, meu avô conversou com o Gazeta, para ver “se o moleque aprendia alguma coisa”, e aprendeu. Naquela época não tinha um Estatuto do Menor de Idade tão endurecido como hoje. Foram dois anos de aprendizado com quem fundou este jornal.

No tempo do meu avô, ser gráfico era ser um artista em todas as suas etapas. A arte de Gutenberg ainda se desenvolvia, estava na sua faze de tipografia. Cada letra do jornal era atenciosamente posicionada para que a impressão acontecesse.

Sim, era um acontecimento da produção à impressão de um jornal. Na geração do meu pai, que até hoje com seus 53 anos, ele acompanhou o avanço da tecnológica com o surgimento de designers gráficos, do Photoshop, do Corel Draw e de toda a bugiganga de Bill Gates e Steve Jobs. Meu pai sempre me fala que “ser gráfico já perdeu a graça”.

Enquanto o jornal Mais Noticias é fundado pelo Gazeta e se torna tradição na região, eu cresço e concluo o curso de Jornalismo. Eis que volto ao início deste artigo. Sento na poltrona da sala do Gazeta. “Conheci seu avo e seu pai”, ele diz e solta uma gargalhada senhorio, “a gente não se sente tão velho assim, mas você é a terceira geração”.

É Gazeta, em tempos difíceis do Jornalismo (com “J” maiúsculo), talvez este seja um sinal de que o oficio não chegará ao seu fim tão cedo. Da produção até as mãos dos nossos leitores.

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