Um levantamento feito pelo Hospital das Clínicas da FMUSP, ligado à Secretaria de Estado da Saúde, revela dados preocupantes. O Serviço Social do Instituto da Criança constatou aumento de 36% nos casos de maus tratos infantis no primeiro semestre de 2010, em relação ao mesmo período de 2009. Em 60% dos casos registrados os pais foram os agressores, sendo a mãe a que mais cometeu o crime.
Até julho deste ano, foram atendidos 60 casos de violência infantil no HC – entre eles uma tentativa de suicídio de uma garota de 13 anos, vítima de agressão psicológica pelos pais. De acordo com o pediatra Antônio Carlos Alves Cardoso, que atua no Instituto da Criança e também no Hospital Auxiliar de Cotoxó – ambos do HC -, as mães alegam vários motivos para a agressão. “Elas passam mais tempo com os filhos. Muitas vezes acabam descontando nas crianças as frustrações e as brigas com o companheiro. Além da mãe e do pai, os agressores mais frequentes são outros membros da família, como tios, irmãos, padrastos e madrastas”, fala Cardoso, acrescentando que o abuso sexual responde, em média, por 10% dos casos de violência infantil.
Segundo o especialista, 75% dos casos de agressão acontecem com crianças menores de dois anos. De acordo com a sua tese de doutorado, mais de 90% das crianças que sofrem agressão terão sequelas físicas ou psicológicas. “Quanto mais nova for a criança agredida, maior a chance da sequela ser grave”, relata.
Ribeirão Pires – No município, a Secretaria Municipal de Saúde e Higiene possui programa de prevenção à pedofilia e violência por meio de palestras nas escolas do município e oferece atendimento no Hospital São Lucas para casos de pedofilia, entre outras, no Núcleo de Prevenção à Violência e Acidentes, Promoção da Saúde e Cultura da Paz.
No ano passado, os números de atendimentos com crianças e adolescentes feitos pelo Núcleo foram: 18 casos de violência doméstica, sendo 11 registros com crianças e 7 com adolescentes; 29 casos de violência sexual (abuso sexual, estupro), sendo 21 registros com crianças e 8 com adolescentes; 5 casos de violência intrapessoal (suicídio consumado e tentativas), sendo todos com adolescentes.
Já de janeiro de 2010 até a primeira quinzena de maio, o Núcleo atendeu: 2 casos de violência doméstica, sendo 1 contra uma criança e outro contra um adolescente; 4 casos de violência sexual (duas crianças e dois adolescentes); e 4 atendimentos com vítimas de violência intrapessoal, todos envolvendo adolescentes.
Núcleo – O Núcleo faz parte de um Projeto Institucional que foi apresentado ao Ministério da Saúde em 2007, através da Secretaria Municipal – Departamento de Vigilância à Saúde. Funciona no Hospital e Maternidade São Lucas por ser este o setor de saúde para onde convergem todas as formas de violências e acidentes, pela pressão que exercem suas vítimas sobre os serviços de urgência, atenção especial, reabilitação física, psicológica e assistência social.
O Projeto tem como objetivo reduzir a morbimortalidade (morte causada por fatores externos) por violências e acidentes, a partir da implementação de políticas públicas intersetoriais e integradas, na perspectiva de construção de redes de atenção integral e de proteção social às vítimas de violências e da promoção da saúde e de cultura da paz. “Ou seja, os grandes eixos diretivos do projeto são: Informação, Rede, Políticas Públicas e Intersetorialidade”, explica a Secretaria Municipal de Saúde, em nota.
Uma das ações do Núcleo é acolher pessoas nas diversas formas de violências (acidentes, violência física, doméstica, sexual, homicídio, suicídio, etc.).
O Plano estratégico de ações em 2009 consistiu em sensibilizar os profissionais do setor de saúde para identificar, notificar e investigar a ocorrência de eventos associados às violências.
“Em 2010 estamos realizando palestras nas escolas e mapeamento dos recursos locais para prevenção dos acidentes e violências. Esperamos até o final deste ano atingir os objetivos estratégicos que são: Sistematizar e disponibilizar os conjuntos de dados para análise de situação de saúde referente aos acidentes e violências; Monitorar os fatores de risco e proteção; Promover a articulação das Redes na produção e análise de informação para o diagnóstico contínuo da ocorrência de Violências e Acidentes; Apoiar o desenvolvimento e o aprimoramento das Políticas Públicas de Prevenção, Assistência e Combate”, informa a nota enviada ao Mais Notícias.
Para obter mais informações sobre os serviços ou solicitar auxílio, o munícipe pode entrar em contato através do telefone 4828-3000 (Hospital e Maternidade São Lucas – Núcleo de Prevenção à Violência e Acidentes, Promoção da Saúde e Cultura da Paz).
O Mais Notícias também entrou em contato com a Prefeitura de Rio Grande da Serra, porém, até o fechamento desta edição, não obteve retorno.
Alerta – O pediatra Antônio Carlos Alves Cardoso, do Hospital das Clínicas, faz um alerta: “Pequenos detalhes que as crianças emitem podem ser fundamentais para evitar uma tragédia, pois estatísticas mostram que 5% das vítimas de maus tratos acabam morrendo nas mãos dos agressores”, finaliza.