Após a constatação de uma série de irregularidades na construção de uma filial da rede de supermercados Docelar em Ribeirão Pires, o Ministério do Trabalho entregou quatro notificações aos responsáveis pela obra e solicitou providências imediatas, já que trabalhadores estão sendo deixados em situação que beira a escravidão e em precárias condições de trabalho.
O local onde está ocorrendo os abusos é conhecido como a antiga Tecmafrig, na entrada do Barro Branco, e abriga um canteiro de obras com aproximadamente 25 operários.
Desde que houve uma morte em setembro de 2011, quanto o trabalhador Rodrigo dos Santos Reis caiu de cima de um andaime, a empresa apresenta uma série de irregularidades. Após a primeira visita do Ministério do Trabalho, e o embargo do uso dos andaimes, no ano passado, a empresa continuou a usar os materiais e a tocar a obra.
Dentre as irregularidades apontadas pelo fiscal do Ministério, destacam-se: jornada de trabalho de 52 horas semanais quando deveria ser de apenas 44; expediente aos sábados sem pagamento de horas extras; descumprimento de determinação de convenção coletiva com relação à alimentação pela manhã e à tarde; falta equipamento de segurança indispensável e protetor solar; andaimes sem guarda-corpo; cabo de segurança amarrado no próprio andaime; não há engenheiro assinando a liberação do uso dos andaimes; não tem água potável ou qualquer local ideal para o repouso e alimentação dos operários.
Além disso, em dias de pagamento, os funcionários são obrigados a se dirigir a sede do supermercado em Mauá, retirando o vencimento no próprio caixa do estabelecimento. Nossa reportagem ainda constatou pelo menos 15 pontos com água parada e criação em grande escala de larvas de mosquito, possibilitando uma proliferação de Dengue.
Mauro Coelho, diretor social do CONSTRUMOB (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção e do Mobiliário), que acompanhou a visita do representante do MT, disse que a empresa já está ciente a muito tempo das circunstâncias da obra. “O sindicato tentou conversar para resolver a situação, mas nunca houve atenção por parte da empresa e as irregularidades continuam”, comentou.
Para Márcio Yuji Suzuki, do Ministério do Trabalho, os operários vivem em situação desumana, pondo em risco suas vidas. “Os funcionários improvisam camas e quartos, todos em precárias situações, sem condições humanas. A empresa foi notificada desde a primeira visita e vemos que nada do que foi solicitado foi feito. Vamos fazer um acompanhamento com o sindicato, obras em desacordo com as normas legais serão multadas”, informou.
Os cartões de ponto, embora preenchidos diariamente, apresentam discrepância de horário de trabalho. Por exemplo: no início do mês, o funcionário João Antônio da Silva entrou às 7h, fez um intervalo de uma hora entre as 13 e 14h e só saiu do trabalho às 22h. O encarregado responsável, José Beraldo da Silva, tentou justificar a carga horária: “Ele é recompensado com quatro dias seguidos de folga”.
Hoje é o último dia para que a empresa Docelar e a Empresa Construções e Engenharia Oslo Ltda respondam as notificações do MT e providenciem as devidas adequações.
Nossa reportagem procurou ambas as empresas para comentar sobre o fato. A Docelar não soube dizer quem seria o responsável sobre o caso, jogando a responsabilidade para diferentes setores. A advogada da empresa sequer sabia das notificações do Ministério. Já a Oslo não foi encontrada. Na Receita Federal seu endereço está desatualizado embora a empresa esteja em situação ativa.