A merenda escolar servida nas escolas municipais é tão saborosa, que não é difícil as mães ouvirem os filhos pedirem que façam um prato igual. “Já veio mãe aqui saber o que usamos na merenda, porque o filho quer igual em casa”, conta a diretora da creche Professora Neusa Luz Sanches, Maria Madalena Rorato Gliber.
O Mais Notícias visitou a unidade, ao lado da nutricionista da Prefeitura, Marcela Lima e de outra nutricionista convidada pelo Mais Notícias, Aline Biaseto Bernhard, da clínica Alamed.
Embora tudo seja preparado com muito cuidado e carinho, hábitos não recomendáveis utilizados por algumas merendeiras em casa, às vezes são levados para a escola. Ao abrir a geladeira para mostrar à nossa reportagem, Marcela flagrou um coador de café, de pano, guardado na geladeira. O coador estava lavado, mas a nutricionista explica porque a prática não deve ser feita: “O coador de pano nem deve ser usado, mas se elas querem continuar usando, ele deve ser guardado em pote fechado, porque o tecido fica úmido, não seca e os microorganismos gostam de umidade e isso pode contaminar outro alimento que esteja lá. É a contaminação cruzada que a gente chama. A gente sempre orienta, mas às vezes pega alguma coisa”. Também havia na geladeira uma bacia com frutas cortadas que não estava coberta por um plástico, diferente de outras que estavam mantidas de maneira correta. Marcela diz que quando esses erros são constatados, é feito um relatório e entregue à diretora da escola, para acompanhamento.
No dia de nossa visita, sexta-feira passada (20), o cardápio era arroz, feijão, salada de pepino com tomate, carne em cubos e suco de laranja natural, para as crianças maiores, e sopa de legumes com arroz e caldo de feijão para os bebês.
Pela manhã, os pequeninos tomam mamadeira e duas horas depois recebem uma hidratação, com suco natural. Mais tarde almoçam e após um período tomam o lanche da tarde. Para a janta (a creche funciona até as 18h30), é oferecida uma sopinha.
Para as crianças que tem algum tipo de patologia (diabetes, colesterol…) é elaborado um cardápio especial, sob prescrição médica.
Ana Carolina e José Augusto, ambos com 4 anos, fazem coro quando questionados sobre o que mais gostam de comer. “Arroz, feijão, carne e salada”.
Carlos Rhom – O Mais Notícias também acompanhou a hora do recreio na Escola Municipal Eng. Carlos Rohm, que no ano passado, foi premiada pela Fundação Nestlé pelo trabalho “Joga dentro da panela”, que tem por objetivo aproveitar integralmente os alimentos. Marilene Luiza da Silva, responsável pela cozinha, conta como funciona seu trabalho, que executa com um enorme carinho. “Chego às 6h30, já colocando a mão na massa. Às 8h, chegam as auxiliares e vão se organizando. Faço reaproveitamento integral dos alimentos, fazemos tudo de acordo para que a merenda saia bem e que a cozinha esteja sempre impecável. Aqui tudo é sempre feito com muito amor, muito carinho e a gente está sempre em reunião, passo meus ensinamentos, porque eu fiz cursos de higienização e manipulação de alimentos pelo SEBRAE”.
Tudo é realmente muito organizado. No freezer, cascas de maracujá, limpos e embalados, são congelados para o preparo de doces “Aqui não desperdiça nada”, destaca Marilene.
Também no freezer são guardados saquinhos com amostras da comida servida. Esses saquinhos são mantidos por três dias. No caso de algum aluno passar mal e houver suspeita da merenda, o alimento passará por análise. Na dispensa, o cenário de organização dos produtos é o mesmo.
A escola atende crianças do 2º ao 9º ano. Diariamente são servidas cerca de 1.200 refeições, compostas por arroz, feijão, verduras, legumes e frutas. No dia de nossa visita, uma mesa dispunha de bananas, mamão, mexericas e maçãs.
Papel da escola na alimentação – A escola, mais do que ensinar a ler e a escrever, também tem papel fundamental em passar o que é uma boa alimentação. Prova disso é a resposta das crianças entrevistadas quando perguntadas o que mais gostam de comer: salada.
Capacitação das merendeiras – Uma vez por ano, as merendeiras passam por um curso de capacitação. No ano passado foram realizados dois. “Nos cursos a gente sempre bate na mesma tecla: higienização, como elas devem se comportar dentro de uma cozinha, como organizar uma geladeira, tirar os legumes e frutas quando vem em caixas de madeira, porque a gente já pede para nem trazer em caixa de madeira, higiene pessoal, local, a higienização dos alimentos e que deve ser feito depois que vão para a panela, quais os procedimento para não estragar”, explica a nutricionista Marcela.
Planejamento – O planejamento também é um dos fatores que contribuem para o êxito da merenda ribeirãopirense. “A gente implantou algumas políticas dentro da Administração do prefeito Clóvis Volpi, desde 2005, no sentido da melhoria da qualidade da educação, onde um dos programas é a alimentação escolar. É um trabalho feito pelo setor de abastecimento, ligado à Secretaria de Educação, com atendimento em todas as escolas municipais, estaduais e também para as entidades assistenciais e para o SESI. Este programa consiste desde a aquisição do alimento, à manipulação nas cozinhas das unidades escolares, ou seja, totalmente natural, não é feito através de terceirização, tudo é manipulado dentro da escola. Hoje, nós temos o sistema de entrega ponto a ponto da escola, que acabou com a questão do desperdício, porque os produtos vão de acordo com a quantidade de alunos na unidade escolar, todo feito através dos cardápios balanceados de acordo com a resolução do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação), nº 38 de 16 de julho de 2009, onde dá toda a diretriz do programa sobre alimentação escolar”, fala a secretária de Educação e Inclusão, Rosi Ribeiro de Marco.
Avaliação – A nutricionista Aline Biaseto Bernhard, que acompanhou o Mais Notícias nas visitas feitas às duas unidades escolares, fez sua avaliação de tudo o que viu: “A qualidade nutricional do que é servido está boa. Tem algumas falhas de estruturas, mas tem as dificuldades, né? Não tem balcão térmico, pois o certo na hora de servir a refeição é o alimento estar como nos restaurantes self-service, com água fervendo. A principal falha eu acho que é não ter telas nas janelas e nas portas e não ter também uma borrachinha embaixo da porta para não entrar insetos. O caso do coador na creche, você treina, treina, mas sempre pega alguma coisa errada, por isso tem que ter uma supervisão em cima. Mas em ambas tudo estava limpo”.
ARIS – A Prefeitura também fornece alguns alimentos para as entidades sociais da cidade. A ARIS (Associação Ribeirãopirense para Integração Social) é uma das que recebem mensalmente arroz, feijão, óleo, macarrão, entre outros produtos. As carnes chegam à associação toda semana, mas às vezes a própria ARIS precisa complementar para não faltar. Verduras, frutas e legumes são por conta da própria entidade.
A ARIS atende 82 crianças de 06 à 14 anos, com atividades complementares à escola. Para a turma da manhã é oferecido um lanche às 9h50 e ao meio dia o almoço. A turma da tarde já aproveita o horário da entrada para almoçar também e às 14h50 tomam um lanche.
A dispensa da entidade esbanja organização: todos os itens separados e etiquetas à mostra lembram a data de validade dos produtos. Na parede da cozinha, um quadro afixado também lembra as normas a serem cumpridas no trabalho.
As merendeiras cuidam de tudo com carinho e recebem o sentimento de volta. “Eles elogiam, comem com gosto e a gente fica feliz”, conta Maria de Lourdes Zoccoler.
“É com crianças que estamos lidando, do jeito que faço para os meus filhos, faço aqui”, fala Maria Sonia de Araújo.
Escola estadual – O Mais Notícias tentou visitar uma escola estadual, já que a Prefeitura também fornece parte dos alimentos para a rede estadual, mas não foi permitida a entrada de nossa reportagem, pois é necessário pedir autorização prévia para a Secretaria de Estado da Educação.