Para levar uma mensagem através do canto não basta ser afinado; é preciso também ter o dom de transmitir sentimentos através da letra e melodia. A cantora Maira Garcia, de Ribeirão Pires, reúne as duas virtudes. Ainda pequena, ela já mostrava à que veio. “Quando era criança, gostava de fazer sala para as visitas com dança, música e teatro. Comecei ballet, educação musical e pintura aos 5 anos na extinta Academia Musical de Ribeirão Pires. Cantava no altar da Igreja da Matriz com outras crianças durante a missa”, relembra Maira.
A veia artística continuou mostrando forças na adolescência. Aos 11 anos, ela começou a escrever textos, poesias e repentes que criava em minutos para, em seguida, ler a pedido dos professores após os alunos cantarem o Hino Nacional.
Chegada a hora de escolher o curso da faculdade, Maira optou por Publicidade e Propaganda, o qual cursou na Escola de Comunicações e Artes da USP (Universidade de São Paulo). “Trabalhei com eventos e a primeira festa temática que eu criei foi para a Festeca, no Centro Acadêmico Lupe Cotrim, em 1994. O Centro Acadêmico era um espaço de reuniões políticas, mas tinha uma lanchonete com alguém tocando violão e eu gostava de cantar por lá. Já estagiava como publicitária na Ogilvy quando prestei Escola de Arte Dramática (EAD) da USP. Cheguei a 4º fase na EAD graças a um texto de três minutos de uma peça chamada ‘Alzira Power’ (Antonio Bivar), que recortei colando canções do Roberto Carlos e Janis Joplin. Interpretei uma adaptação minha da obra, inventei uma mini-ópera e dizem que quebrei um tabu na época: mudar o texto original da prova de interpretação da 3º fase que era aberta ao público. Fiquei conhecida naquela seleção de 1995 como a atriz cantora”.
Maira concluiu a faculdade em 1997 e formou-se também em locução pelo SENAC de Santo André em 1999. Fez três anos de canto popular na Universidade Livre de Música (ULM) Tom Jobim, hoje atual EMESP, entre os anos de 2003 e 2005. Lá, suas composições foram ouvidas em shows de alunos e professores que a reconheceram como compositora.
Seu talento musical rendeu-lhe momentos marcantes no Grande ABC: foram diversas aberturas de shows de grandes nomes da música popular brasileira, como Tom Zé, Arnaldo Antunes, Jair Rodrigues, entre outros.
A música de Maira ultrapassou fronteiras e a cantora se apresentou em Galícia, na Espanha, em 2000 e em Mandaguari, no Paraná, em 2005. Um ano depois, interpretou Carmem Miranda no musical ‘Minuto de Silêncio’, no SESC Consolação, onde se apresentou até 2008, junto ao Centro Experimental de Música, sob a regência de Fábio Tagliaferri, cantando em shows de Pepeu Gomes e André Abujamra. “Graças a cantoria no SESC, fui convidada para cantar na Itália e Portugal, mas recusei os convites, pois estava gravando aquele que seria meu primeiro CD como intérprete sem meu trabalho autoral”.
Recentemente, Maira juntou a música e o teatro em uma cena musical na minissérie “Lara com Z”, da Rede Globo, a convite do diretor Emerson Muzzeli. “Ele sabia que eu era capaz de atuar na frente das câmeras porque começamos no teatro na mesma época, eu penso. Hoje eu sei que consegui fazer a cena proposta depois de tanto tempo sem atuar, porque ele sim, é um grande diretor”.
Em 2008, Maira se dedicou à gravação de um CD que não pôde ser concluído. Logo em seguida, em 2009, através de seu amigo, o cantor Djalma Dias, conheceu Alfredo José da Silva, o Johnny Alf, compositor, cantor e pianista brasileiro, já falecido e que, na época, estava em tratamento de saúde em Santo André. Durante um ano de visitas, Maira era recebida por ele com carinho e as histórias e conselhos que Johnny passava a ela, a motivaram a não desistir da música e de seus outros projetos. “Quando Djalma nos apresentou, falou da gravação do CD que não tinha dado certo, que eu era cantora e compositora, que minhas canções não estavam incluídas porque o produtor achava que não eram boas. Quando leu as duas partituras que eu levei me aconselhou: ‘você é cantora, tem que gravá-las primeiro, só você saberá cantar da forma que as sentiu, depois sim os outros podem gravar sua composição ’, e acrescentou ao Djalma: ‘ela pode vir sempre que desejar’. Para ele fiz a bossa-nova ‘Solar’, em parceria com Vinicius Silvestre, que pode ser ouvida no You Tube, cuja inspiração veio de ‘Céu e Mar’, a minha preferida do Johnny Alf, que é um baião, segundo ele próprio”.
Hoje em dia, Maira realiza uma série de atividades. Ainda é procurada para criar marcas, slogans, textos, consultorias e escreve crônicas e contos. Seu sonho já é uma realidade: trabalhar com tudo o que gosta, sempre abraçando a música. “A música faz o clima do ambiente de todos, de forma individual e coletiva aonde chega. É sempre uma grande responsabilidade, tocamos na vida das pessoas, literalmente. A música é o sal da Terra, o tempero, um meio de interagir com o mundo e as pessoas”, conclui.