Intoxicação medicamentosa em pequenos animais

Uso de remédios sem acompanhamento médico pode trazer consequências graves para seu melhor amigo

Diversos fatores favorecem os casos de intoxicação de cães e gatos por medicamentos.  A automedicação pelos tutores, que na melhor das intenções podem agravar o quadro clínico do animal doente. Uso do Google, grupos no Facebook e dicas de tratamentos em redes sociais; Não procura por tratamento veterinário, abandono do tratamento quando animal apresenta melhora ou uso inadequado das medicações receitadas; Venda ou compra de produtos sem prescrição médica onde o próprio balconista por experiência no setor acaba recomendando o uso de fármacos mesmo sem uma avaliação prévia do estado geral do paciente em questão; Propagandas apelativas de remédios nos meios de comunicação; Falta de fiscalização dos estabelecimentos que vendem essas medicações e mal acondicionamento e conservação de remédios, são fatores que propiciam os quadros de intoxicação medicamentosa em nosso país.

Desta forma são necessárias medidas corretivas e educativas quanto ao uso indiscriminado dos mesmos, a fim de minimizar os casos de intoxicação por medicamentos.

Os primeiros sinais de uma intoxicação medicamentosa são geralmente salivação excessiva, vômitos, diarreia, sono profundo, andar cambaleante, tremores, crises convulsivas e disfunções respiratórias e sanguíneas que podem levar o animal ao choque e consequentemente óbito.

Os pacientes mais propensos à intoxicação são animais filhotes, idosos e gatos. Essas categorias de animais possuem particularidades como órgãos imaturos ou insuficientes e no caso dos felinos, estes apresentam metabolização diferenciada para certas drogas, por isso as medicações utilizadas sem prescrição veterinárias são a maior causa de intoxicação nesta espécie.

Fármacos e o metabolismo animal:

A administração incorreta para os cães e gatos causa a intoxicação medicamentosa, pois o metabolismo das duas espécies é muito diferente, assim como é muito diferente em comparação aos humanos.

Os fármacos administrados via oral, sejam líquidos ou comprimidos, após absorvidos pelo trato gastrointestinal sofrem biotransformação em nosso organismo para que possam ter o efeito terapêutico esperado. No fígado, rins e pulmões ocorre a transformação química de substâncias, sejam elas medicamentos ou agentes tóxicos, dentro do organismo vivo, visando favorecer a sua eliminação como também inativação do mesmo para ser excretado via fecal, urinária e respiratória sem causar consequências para este órgãos.

Felinos são mais susceptíveis à intoxicação:

Os gatos possuem um metabolismo muito peculiar. Seu fígado possui sistema enzimático diferente do homem e dos cães e por isso alguns medicamentos demoram muito mais tempo para serem metabolizados, desta forma, estes recirculam diversas vezes nos órgãos e organismo do animal antes de serem totalmente eliminados. Esse tempo elevado na circulação pode acarretar danos no próprio fígado, rins e em outros órgãos ou sistemas.

Outra peculiaridade dos gatos são suas hemácias (glóbulos vermelhos) que são mais suscetíveis à oxidação da hemoglobina (componente da hemácia) quando comparado ao homem e ao cão. A hemoglobina é uma proteína da hemácia que contém ferro e ajuda no transporte de oxigênio aos tecidos. Sua oxidação é um processo natural, porém em excesso pode levar à deficiência no transporte de oxigênio para os tecidos, causando hipóxia tecidual e morte das hemácias (hemólise).

Alguns medicamentos causam essa oxidação em excesso e pode levar o gato a óbito rapidamente. Sua língua e mucosas ficam arroxeadas e a respiração ofegante.

Medicamentos de uso veterinários que apresentam risco de intoxicação:

Uso inadequado de antipulgas, carrapaticidas e rodenticidas (veneno de rato) está no topo da lista de causas de intoxicação de pequenos animais. Os piretróides, geralmente encontrados em coleiras antipulgas para cães e ectoparasiticidas é altamente tóxico para gatos. Estes são indicados exclusivamente para cães podendo causar alteração no sistema nervoso central e periférico em felinos de todas as idades. Sinais como tremores musculares, ataxia, salivação intensa, dilatação de pupilas e convulsões podem estar relacionados ao quadro com histórico de uso de coleiras com este composto. Quando ingerido os sintomas são piores e mais rápidos.

Os organofosforados e carbamatos, compostos do famoso “chumbinho”, tem venda proibida e podem levar gatos à óbito imediato e casos graves de intoxicação em cães se ingerido. O acidente é muito comum devido ao tipo de armadilha onde é utilizado, geralmente associado a alimentos, é um atrativo para os animais de companhia.

Dosagem inadequada, não respeitar a idade mínima para uso, espécie do animal e erro na administração podem levar a quadros de intoxicação. Como a ivermectina, amitraz e deltametrina, produtos destinados ao uso no ambiente ou para animais de grande porte (bovinos e equinos),  podem ser erroneamente usados para banhos ou diluídos na concentração inadequada para limpeza ambiental, podem ser facilmente absorvidos pela pele, mucosas ou inalados podendo levar rapidamente a intoxicação e óbito.

Riscos de efeitos colaterais:

Algumas categorias de medicamentos podem e devem ser utilizadas nos animais em caso de inflamação, febre, alívio de dor, reações imunes, infecções microbianas, etc, e assim como em humanos, se usados indiscriminadamente sem acompanhamento médico adequado podem apresentar efeitos colaterais a longo prazo.

Os anti-inflamatórios não esteroidais (AINE) são medicações comumente utilizados em humanos como em animais, e deve-se estar atento quanto a DOSE que é indicada de acordo com o peso do animal, e sua FREQUÊNCIA de uso que deve ser respeitada de acordo com o quadro clínico do paciente. Esta classe de medicamentos pode causar problemas gastrointestinais como úlceras gástricas em e falhas renais principalmente em gatos.

Os anti-inflamatórios esteroidais (AIE) ou corticóides são outra classe comumente utilizada, geralmente em animais com doenças autoimunes e problemas de pele. Se mal utilizado, pode levar à disfunção metabólica conhecida como Síndrome de Cushing, hoje muito comum em cães que passaram por longos tratamentos ou que iniciaram muitas vezes o mesmo tratamento porém sem resolução. Nesta síndrome, o animal terá seu metabolismo alterado por aumento de cortisol circulante, e este apresentará deposição de tecido adiposo, rarefação pilosa, aumento do apetite dentre outros sintomas.

No caso de antibióticos e antifúngicos, não se deve automedicar devido ao risco de induzir resistência bacteriana. Por este fato, hoje já é realidade a compra desta classe de medicamentos apenas com receita médica. Outro fator que pode atrapalhar o tratamento e induzir resistência é seu mal uso. Doses erradas, com frequência alterada, ou cortar o tratamento assim que o animal apresenta melhora, são fatores de risco que podem agravar o problema do animal uma vez que a infecção pode reaparecer com mais força além dos riscos de ototoxicidade (tóxico para ouvidos), hepatotoxicicidade (tóxico para o fígado) e nefrotoxicidade (tóxico para o rim) que alguns medicamentos apresentam para algumas espécies.

Desta forma, deve-se fazer uso conforme prescrito para evitar problemas posteriores. Outro tratamento onde é muito comum os próprios tutores “darem alta” erroneamente ao próprio paciente acontece no caso dos anticonvulsivantes. Indicado para animais epiléticos ou que apresentam convulsões periódicas, seu uso é a longo prazo, muitas vezes pelo resto da vida do animal, e a dosagem poderá ser alterada ao longo do tratamento. Caso o animal apresente a doença, este deverá passar por um período de ajuste de dose e à partir daí, deve-se observar a resposta do organismo. Caso o tutor suspenda seu uso, é muito comum quadro convulsivo reaparecer mais grave com maior frequência e intensidade. Desta forma, essa medicação de uso contínuo deve ser administrada sempre com acompanhamento veterinário e suspendida apenas no caso de alta concedida pelo médico veterinário responsável pelo caso.

Proibidos para pequenos animais:

Algumas medicações receitadas para os animais podem ser encontradas em farmácias humanas. As vantagens dos fármacos de uso veterinário são fatores que facilitam o manejo na hora de medicar o animal como por exemplo palatabilidade de alguns comprimidos, que apresentam sabor e são mais fáceis de serem oferecidos aos animais. O medicamento de uso veterinário geralmente é vendido na dose correta para o peso do animal sendo encontrado em diferentes concentrações evitando que o tutor tenha que repartir o comprimido minimizando confusões ou superdosagem, que pode trazer sério risco para seu animal.

Abaixo listamos os principais medicamentos humanos PROIBIDOS para pequenos animais. Estes não devem ser usados por risco iminente de intoxicação devido sua composição que não é compatível com a metabolização diferenciada que ocorre no organismo de cães e gatos (citado acima) causando graves efeitos colaterais como convulsões, hemorragias, insuficiência hepática e renal além de levar ao óbito, mesmo em doses baixas.

PARACETAMOL – ACETAMINOFENO (Tylenol®,  Naldecon®, Sonridor®, Cimegripe ®): Em gatos causa elevação da taxa de oxidação de hemoglobina, hemorragia por hemólise e insuficiência hepática. Causa hepatite aguda em cães.

ÁCIDO ACETILSALICÍLICO –  AAS (Aspirina®, Coristina D®): Causa hemorragia, insuficiência hepática e acidose metabólica (diminuição do pH do sangue) em pequenos animais.

DICLOFENACO SÓDICO (Voltaren®) e DICLOFENACO DE POTÁSSIO (Cataflan®): Causa gastroenterite hemorrágica, insuficiência hepática e falência renal em cães e gatos.

IBUPROFENO (Alivium®, Advil®): Em gatos causa hemorragia gastrointestinal,  insuficiência hepática e renal e alterações no sistema nervoso central como agitação excessiva.

Desintoxicação – Tratamento:

Os principais sinais de intoxicação incluem hipersalivação, dilatação da pupila, vômitos e diarréia com ou sem sangue, alteração na coloração das mucosas que podem estar roxas ou pálidas dependendo do tipo de intoxicação, urina de cor, perda de apetite, polidpsia (beber água em excesso), sangramentos espontâneos, gastrites, dores abdominais, inchaços e edemas de face e membros, apnéia e falta de ar, anemia, alteração no comportamento como agitação ou depressão profunda, disritmias, falha dos órgãos principalmente fígado e rins, choque podendo levar à óbito rapidamente.

Em caso de intoxicação, procure um médico veterinário imediatamente com o máximo de informações que conseguir. Deve-se saber o histórico do animal, se foi dado alguma medicação, qual, em que quantidade e a quanto tempo. Levando esses tipos de informações, facilita o diagnóstico pelo médico veterinário, que, se solicitado rapidamente após tutor perceber alterações, ainda tem chances de salvar o animal com lavagens gástricas, antagonistas e fluidoterapia intensiva. Não induza vômito sozinho pois há riscos de pneumonia aspirativa além de lesar a mucosa esofágica e oral.

É uma possibilidade oferecer Carvão Ativado comprado em farmácias humanas ou veterinárias. Este composto diluído em água oferecido via oral é um adsorvente que reduz a absorção das toxinas pelo trato gastrointestinal e pode contribuir para evitar um quadro mais grave. Mas lembre-se, só um médico veterinário pode reverter o quadro, o uso do Carvão Ativado em uma emergência ajuda a ganhar tempo até o animal receber atendimento médico apropriado.

Oferecer qualquer outra coisa por via oral, como o leite ou ovos por exemplo, é um MITO extremamente contra-indicado em alguns casos de intoxicação. Estes não tem efeito antídoto comprovado além de aumentar a absorção intestinal de alguns fármacos e piorar os sintomas de intoxicação. Em caso de intoxicação pela pele (via tópica) é recomendado lavar o animal com sabão e água corrente e correr para a clínica veterinária pois o tempo perdido em dar um banho em casa pode ser suficiente para levar o animal a óbito.

Em caso de qualquer alteração no comportamento do seu melhor amigo como prostração,  parar de comer, dor, lesões ou sugestivo de alguma doença, NÃO AUTOMEDIQUE.

Procure um veterinário de confiança e trate seu companheiro de quatro patas com segurança, sob a orientação de um médico veterinário, reduzindo assim os riscos de intoxicação medicamentosa.

Colaboração: Lia Silva – estudante de veterinária, tosadora e proprietária de petshop.

contato: (11)953114545 whatsapp

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